Capítulo quatorze - Tris

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Apesar de todas as preocupações que tenho tido, estou feliz com tudo que tem acontecido aqui em Chicago. São vários os motivos da minha felicidade, mas o principal deles é estar novamente com Tobias. O sentimento de alegria que estar com ele me traz é constante, intenso, vívido e muito forte. Estou meio boba. As vezes me pego viajando em pensamentos a respeito de nossas noites amorosas e fico sorrindo quando lembro que estou morando com ele e dormindo na mesma cama que ele. Estou muito apaixonada. Mas também tem os outros motivos como estar mais próxima de Caleb. Parece até que ele nunca me traiu e que aquilo foi apenas um pesadelo muito ruim, inclusive a minha morte. Por mais que eu saiba de tudo o que aconteceu, é muito complicado pensar que eu realmente morri. Também estou muito feliz de reencontrar meus amigos apesar de não ter passado muito tempo com eles ainda. Não passei um tempo sozinha com Christina e pretendo fazer isso o mais breve possível, pois ela é como uma irmã para mim.

Quando apresentamos a ideia de Marcus à Johanna ela concordou que essa é a nossa melhor saída para essa situação e decidimos ir à sede da ASSIGE, que fica próxima a Milwaukee, amanhã bem cedo. Agora estamos na sala de reuniões conversando sobre alguns detalhes da viagem.

- Pelo que sei, a ASSIGE é bem receptiva e está sempre procurando aliados que compartilhem os mesmos ideais. Fala Thomas.

- Por que o Governo não acabou com a ASSIGE, já que eles julgam os experimentos como uma perca de tempo? A pergunta surgiu na minha cabeça e eu a fiz imediatamente.

- Porque, segundo a Constituição Nacional, os cidadãos americanos tem direito total de expressar suas opiniões e seus ideais, mesmo sendo contrários aos do Governo. Thomas me explica, mas não entendo nada.

- Como assim? Constituição? Americanos? Eu lanço a pergunta seguida por uma risada de Thomas.

- Desculpem, pessoal. É que as pessoas da margem sabem sobre tudo isso e eu esqueço que vocês são nativos de um experimento. A Constituição é um livro que contém todos os direitos dos cidadãos dos Estados Unidos da América. E os cidadãos dos Estados Unidos da América são chamados de americanos. É a nossa nacionalidade. Eu entendo pouco do que Thomas explica, mas o que entendi foi suficiente e não pergunto mais. Ele continua:

- A ASSIGE não se trata de uma associação de rebeldes, mas de um grupo de pessoas que lutam pelos direitos dos geneticamente danificados. Não sei quão grande é a popularidade deles, mas pelo que ouvimos falar na Margem, eles devem ter muitos seguidores em todo o país, principalmente em Milwaukee. Quando a ASSIGE estava começando, Milwaukee era um experimento fracassado que se tornara uma área metropolitana prestes a se tornar um inferno como a Margem. A ASSIGE fez um trabalho social incrivelmente efetivo na cidade que hoje tem muitos geneticamente puros convivendo com geneticamente danificados. Milwaukee é uma prova de que não existe influência genética nos conflitos no nosso país.
- Isso é incrível, mas também insano. Se Milwaukee está de pé até hoje, por que o Governo não nos deixa em paz? Evelyn lança a pergunta com um ar de irritação profunda.
- É exatamente por isso que eu os chamo de cegos. Eles são estupidamente cegos e não há palavra melhor para descrevê-los. Responde Thomas com o seu típico tom de humor inteligente.

Após encerrarmos a reunião, temos o dia de folga. São duas da tarde e todos os nossos amigos estão trabalhando, então Tobias e eu entramos no carro para ir à algum lugar sozinhos. Ele não me conta.
- Pra onde você está me levando, seu delinquente? Risos.
- Você não saberá enquanto não chegarmos. Amarre isso cobrindo os seus olhos bonitos, senhorita. Ele me passa uma camiseta preta para que eu vende os meus olhos e eu não ofereço resistência para o fazer. Ele é bom em me fazer ficar animada. Eu vendo os olhos e mordo os lábios enquanto a caminhonete se move. Quando Tobias para o carro ele abre a minha porta e me pega em seus braços. Não estamos sozinhos. Eu posso escutar passos, diálogos e risadas que me lembram a sede da Audácia. Eu solto gargalhadas da loucura que estamos fazendo, pois mesmo sem saber onde estou, sei que ele está me carregando em frente a muitas pessoas. Reconheço o barulho do elevador e a sensação de estar subindo. Ele me trouxe para o Edifício Hancock. Mas não vou estragar o momento dizendo que já sei onde estamos. Quando o elevador para ele me carrega para fora e tira a camiseta que me impedia de ver. Estamos no nonagésimo nono andar. Ele me trouxe para a tirolesa, pois mesmo tendo medo, ele sabe que eu amei essa experiência.
- Vamos subir, marica? Ele pergunta enquanto me estende a mão. Nós subimos pela mesma escada de sempre e quando chegamos ao topo o vento está forte e constante. Eu o vejo lutar com o seu medo e me sinto lisonjeada.
- Você não precisava fazer isso, amor. Ele suspira alto e olha para baixo ao falar:
- Foi aqui que eu despejei o que imaginava serem as suas cinzas. Queria trazer você aqui e realizar os sonhos que teu tinha a noite. Eu sonhava que estava descendo a tirolesa junto com você, mas quando chegava no final você não estava mais lá. Eu estremeço ao ouvir o que ele disse e meus olhos se enchem de lágrimas. Ele sofreu muito.
- Agora eu prometo que estarei no final com você. Te amo.
- Eu também te amo.
- Mas Tobias, como vamos descer quando chegarmos no final?
- Eu pedi à Amah que colocasse uma caixa d'agua para que possamos pular.
- Você é incrível, sabia? Eu solto uma risada e sinto o meu rosto esquentar até as orelhas. - Mas se ele não tiver colocado a caixa d'agua?
- Então acho que teremos que esperar abraçados no ar enquanto alguém chega. Ele sorri.
- Gostei da ideia. Beijo a boca dele.

Ele desafia o medo arrumando a tirolesa para que nós possamos descer juntos. Ele se prende primeiro e depois me prende. Vamos descer como pássaros voando, eu em baixo e ele por cima de mim.
- Tem certeza disso, Tobias?
- A Audácia não desiste.

Ele nos impulsiona rumo ao nada e me abraça enquanto parecemos voar por cima da cidade. O seu abraço é quente e gostoso e eu fecho os olhos sentindo o momento maravilhoso. Ele morde a minha orelha com delicadeza e eu fico mole. Daqui de cima a roda gigante parece uma miniatura e isso é fascinante. Tudo é fascinante nesse exato momento. Ao chegarmos no final da tirolesa a caixa d'agua está lá e nós pulamos. Uma crise de riso nos invade e nos beijamos molhados. Ele olha no profundo dos meus olhos e diz:
- Minhas expectativas foram alcançadas.

A vida é maravilhosa.

AscendenteOù les histoires vivent. Découvrez maintenant