Capítulo 9 - A Batalha dos Lobos

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A noite da lua vermelha chegou. De longe, ouvem-se os uivos dos lobos que correm pela floresta. Apesar de Zyhan ter entrado nos sonhos do Pajé, orientando-o sobre a evacuação da aldeia, muitos nativos não deixaram o local.

— Eles serão massacrados! — Exclama Zyhan. — Tawhiri, vamos pôr o plano B em andamento. Enquanto eu estiver em estado de meditação, você continua monitorando os nativos?

— Sim, claro! Os humanos não são só objetos de estudo para mim, também tenho empatia por eles. Além do mais, preciso registrar tudo e enviar ao Conselho.

— Vou começar, então.

Zyhan entra em estado de meditação; precisa de concentração a fim de acumular energia para a batalha. Os guerreiros da aldeia sudeste decidiram ficar para lutar por suas terras ou morrer defendendo-as. Acreditavam que se os Deuses estavam tão insatisfeitos com eles a ponto de enviar lobos para exterminá-los, seriam achados qualquer que fosse o lugar para onde fugissem. As crianças, os velhos e algumas mulheres seguiram com o Pajé até o alto de uma colina. Os bravos guerreiros permaneceram, mas sem esperanças de sobrevivência.

Um uivo na mata anuncia a chegada do inimigo.

— Os nativos estão acordados? — Pensa Zahur. — Como sabiam da chegada do meu exército? Hum... interessante. Isso é coisa sua, irmãozinho? Mas avisá-los de minha chegada não salvará a vida deles.

Os lobos param de correr e ficam rosnando próximos à barreira de fogo que os nativos colocaram em volta da aldeia. Por alguns minutos, os nativos acreditaram que o fogo realmente impediria o avanço dos animais, porém, percebendo isso, Zahur paralisa seu exército de propósito.

— Vamos brincar um pouco com estas pobres criaturas — diz Zahur —, isso torna o jogo mais interessante. Morte rápida não tem graça. Esse truque inocente não partiu de você, irmãozinho. Estou esperando para ver o que você vai fazer.

A primeira fila de homens-lobos passa pela barreira de fogo e caminha devagar, rosnando em direção às suas vítimas.

— Devagar, sem pressa. — Diz Zahur, esperando alguma reação de seu irmão. — Não quero perder nenhum detalhe.

Uma flecha, que não se sabe de onde veio, atinge de raspão a coxa de um dos lobos.

— O que foi isso? — Pergunta Zahur a si mesmo. — É você, irmão?

Todos os homens-lobos ficam parados, apenas um avança devagar, intimidador. Outra flecha é disparada e fincada no chão, um centímetro à frente do pé do tal lobo.

— É um aviso, mas você sabe que não vou recuar. Seja rápido, irmão, seus nativos podem morrer antes que você consiga dizer pare.

Zahur ordena que seu exército ataque todos de uma vez. Várias flechas são disparadas, imobilizando a maioria dos lobos.

— Era isso o que eu queria ver! — Vocifera Zahur, sentindo a adrenalina subir. — Você finalmente entrou no jogo, irmão. Estava muito solitário sem você.

Uma chuva de flechas fere gravemente vários lobos, impedindo que avançassem. Ao mesmo tempo, vários guerreiros caem das árvores e iniciam um resgate.

— O Deus branco nos enviou para salvar vocês! — Grita um guerreiro mascarado. — Venham com a gente! Corram, rápido!

Dos arqueiros que estavam nas árvores, só se viam as suas flechas certeiras, que atingiam pernas, braços, costas... Porém, apesar da rapidez na defesa e no resgate, vários nativos de ambas as aldeias ficaram muito feridos.

— Ótima estratégia — diz Zahur, aparentando estar bastante cansado —, foi uma boa luta. De qualquer forma, venci, porque consegui o que eu queria, que era envolver você neste jogo. Estou gostando muito disso. É uma pena ter que parar agora, fiquei esgotado... Como serão nossos próximos encontros? Aguardo boas surpresas suas, irmãozinho.

Zahur se recolhe, não aguenta mais ficar desperto. Zyhan, contudo, só parou para descansar depois que todos foram resgatados, incluindo os homens-lobos.

— Acabou, amigo — afirma Tawhiri, colocando a mão no ombro de Zyhan —, você precisa descansar. Zahur não fará nada por um longo período, ele gastou muita energia. O Pajé cuidará dos feridos, os nativos ficarão bem. Cuide de você agora.

— Tudo saiu como esperado. — Declara Zyhan, exausto. — Zahur em nenhum momento suspeitou de que pudéssemos fazer um plano de defesa. Ele foi pego de surpresa, isso garantiu nossa vitória.

— Uhum...

— É tão boa esta sensação de alívio, de paz de espírito...

— É, o espírito está em paz, mas o corpo está arrasado. Vá descansar, eu cuido das coisas por aqui. — Diz Tawhiri para Zyhan.

Embora existissem muitos feridos, o saldo da batalha foi positivo. Muitas vidas foram salvas com a ajuda dos nativos do norte. 

Lia e a história dos irmãos "Z"Onde histórias criam vida. Descubra agora