Por todas as vezes em que fomos nós [jjk]

Ideologias de um poeta morto e literatura antiga

Visito nosso jardim de memórias todas as manhãs e ainda tento fazer aquele café amargo todos os dias.

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Andando vagarosamente por entre as fases de um amor acabado, abraçando as nossas memórias e queimando na brasa quente de uma chama apagada, está escuro dentro do meu coração, nele há você, apenas você e o vazio, o perigo da sua ausência em mim, porque eu não deixei de ser você mas você me deixou sendo nós dois sozinha, porque por trás dos meus olhos, minha retina abre as cortinas da nossa peça todos os dias, e o teatro todo vibra em adoração nossas mentiras bonitas, meu olhar queima sobre você, ele passa do estado carnal e enxerga seu íntimo, seu interior, e todas as juras de amor são feitas quando o fantasma de um sorriso passa pelos seus lábios e eu sei que você quer chorar, porque eu também quero, porque isso é uma despedida para duas pessoas que não querem partir e nem deixar ir.

Você ainda rega minhas flores todas as manhãs de domingo, ainda me beija de forma singela quando a noite nos tira para dançar e nós fazemos amor sobre a luz da lua, é tão clichê, e em meus sonhos as manhãs de sábado ainda são agraciadas com a sua beleza etérea cantando bom dia aos pássaros no quintal dos fundos, e você ainda faz aquele café amargo e horrível que só você sabe fazer, mas é domingo e você não está sentado na poltrona mais confortável da biblioteca da Universidade, reclamando sobre como os professores fizeram você ter que estudar alguma matéria chata em pleno domingo e que você nem ao menos sabe porque está cursando direito ao invés de filosofia, mas você sabia sim.

seus pais

Nosso maior problema desde sempre, porque para você se libertar deles precisou conseguir uma bolsa em alguma faculdade cara de filosofia sem contar para eles, sem contar para mim, e é ridículo como eu te amo por ter feito isso, porque você sabe que eu iria atrás de você, porque eu deixaria meus sonhos para trás por sua causa e me arrependeria disso depois, você foi, me deixou ir, mas de alguma forma você ficou, e talvez eu me case um dia, com alguém que eu não amo tanto, e tenha uma família que eu amo um pouquinho mais, e siga minha carreira um pouco melancólica, e abrace a morte mais cedo do que o esperado, ou talvez você volte, em algum momento e a gente se encontre em alguma palestra aleatória sobre um poeta morto e as teorias de um livro antigo porque isso é definitivamente o nosso estilo, e talvez a gente possa tentar de novo, ou você estará casado, e terá uma família linda, sentaremos em algum café de esquina e relebraremos os dias em que nos amamos, e nós vamos chorar os velhos tempos e pela última vez, poderei beber aquele café horrível de novo.