Capítulo 02

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Após tomarmos o resto do nosso chá, Lucy me contou mais sobre como algumas coisas funcionam aqui na terra. Eu sempre li muito sobre ela mas acho que isso não foi suficiente. A parte que mais me chamou atenção foi a questão da comunicação.

Sim, nós sabemos que humanos falam línguas diferentes, mas eu achei que depois de tanto tempo eles iriam saber se comunicar melhor. Além disso, o sistema econômico é diferente do que eu li nos livros do céu. Acho que eles precisam ser atualizados, urgentemente. Eu acabei indo dormir. Dormir foi uma experiência... interessante?

Para começar, é engraçado sentir sono. É como se algo estivesse tentando me impedir de permanecer consciente. E realmente tem algo, mas esse algo sou eu mesmo. Ficou difícil manter os olhos abertos e mais difícil ainda falar corretamente.

Na minha mente as frases estavam corretas, mas quando eu as pronunciava elas saiam tão enroladas e confusas que senti que estava falando em uma língua diferente da que é usada nesta parte do mundo. Mas dormir é bom. Não sentir nada foi um pouco assustador no início, de fato, mas acordar é algo realmente gratificante. Agora eu entendo todas as orações matinais.

Quando acordei Lucy estava sentado em sua cama me olhando. Foi um momento estranho, vê-lo me encarar assim. Sinto meu corpo esquentar. Eu me sento como ele e ele sorri para mim. Eu já disse que gosto de sorrisos? São coisas realmente bonitas. É, com certeza, um presente que Papai deu aos humanos.

— Você finalmente acordou. Bom dia. Hoje eu lembrei que você ainda não se viu então eu te trouxe isso. — Ele aponta em minha direção um objeto quadrado. — Um espelho.

— Bom dia, Lucy.

Eu quero tanto ver minha aparência humana. Devo admitir que estou aflito. Me abstive se olhar no espelho quando cheguei, acho que queria que fosse algo especial. Me pergunto se também é assim para os humanos, eles têm corpos e rostos perfeitos. E mesmo que entre eles haja essa ideia de que uns são mais bonitos que outros, não consigo entender o motivo disso.

Eu realmente fiquei ansioso quanto a isso. Eu estudei por anos sobre como funcionam e agora eu me pareço com um. Pego o espelho que Lucy me oferece.

Este sou eu. Minha pele é negra. Passo a mão em meu rosto e sinto a maciez da minha pele. Ela é tão bonita. Meus olhos são grandes, maiores que os do Lucy, mais claros também. Meu cabelo é cacheado e claro como meus olhos. Meu rosto é redondo e minhas bochechas gordinhas assim como minha boca.

Lucy solta uma risada levemente abafada.

— Eu não consigo dizer o que você achou. Sua cara está tão engraçada.

— Eu... eu amei! É perfeito. — Claro que é, Papai sempre faz as coisas perfeitas.

— Eu sei que você não pediu minha opinião, mas eu gostei. — Lucy diz e eu o encaro, para prestar mais atenção em suas características físicas.

Ele tem os cabelos avermelhados e olhos em um tom escuro. São bonitos. Mesmo para os padrões criados pelos humanos, ele é simplesmente bonito.

Lucy sugeriu que fossemos comer uma coisa chamada sorvete. Uma das maravilhas humanas, de acordo com ele. Um creme doce e gelado, algo que eu só poderia entender no momento que provasse. Eu concordei em provar e estou ansioso, eu diria, para experimentar esse tal de sorvete.

— Eu só vou tomar banho antes. — Eu gosto disso também. A água quente entrando em contato com a minha pele é reconfortante, como se eu estivesse sendo abraçado.

— Comprei algumas roupas para você. Estão ali dentro. — Ele aponta para um móvel grande chamado guarda—roupa. — E tem uma toalha no banheiro e sabonete também. E tem esse tênis, que deve servir em você.  

O Anjo DistintoWhere stories live. Discover now