O Anjo Distinto

Capítulo 5

É engraçado como o tempo passa por aqui, tão depressa que quase não consigo acompanhar. Há uns meses estava chegando aqui, desorientado e assustado e hoje estou fazendo compras sozinho.

Sorrio para minha amiga, Maria, que recentemente conseguiu o emprego de atendente do caixa do supermercado. Percebo que ela mudou a cor do cabelo.

— Gostei do visual. — Ela sorri. — Roxo é uma cor realmente bonita.

— Ah sim, minha cor favorita, a propósito. — Ela digita o código da cenoura no computador. — Você e o Lucy continuam nessa onda vegetariana?

— Claro que sim! E você deveria tentar também, ok? — É claro que eu não perderia a chance de tentar convertê-la.

— Não, obrigada. Eu amo o gostinho da carne. São doze reais.

Maria é uma garota jovem e animada, gosto de sua energia.

— Ei, seu turno acaba daqui a pouco, não é? — Eu pergunto pegando as sacolas.

— Daqui a dez minutos. — Ela responde já começando a atender a próxima pessoas da fila. — Quer ir lá em casa? — Eu aceno que sim com a cabeça.

— Vou te esperar lá fora.

Na casa de Maria, nós nos sentamos no sofá e ela liga a televisão. Nós estamos comendo pipoca, e de repente começa a passar o trailer de um filme que, a princípio, me chama a atenção. Logo percebo ser um filme religioso. Lucy e eu evitamos ver esse tipo de conteúdo porque não costuma ser condizente com a verdade. Olho para Maria e sua expressão é de leve deboche.

— O que foi? — Pergunto a ela e ela sorri, olhando-me docemente.

— Eu acho engraçado, sabe? — Ela faz uma pausa — Filmes religiosos pregando contra o amor.

— Como assim? — Questiono.

— Você viu o trailer, Cassiel?

— É, mais ou menos. — Admito. — Mas eu não entendi o que você quis dizer.

Ela toma um gole de sua xicara com café, como se isso a ajudasse a organizar as palavras em sua cabeça antes de falar. — Esse filme, o trailer que vimos, é sobre um padre que encontra amor na igreja. — Ela começa a explicar.

— Certo. — Digo. — Continue.

— Cassiel, você sabe que a igreja é contra relacionamentos amorosos de pessoas do mesmo sexo. Eu acho isso engraçado, e irônico até, considerando que Deus é amor, de acordo com eles.

— Mas, Pap... quero dizer, Deus nunca disse algo assim.

— É, mas é isso que está na bíblia.

— Bíblia? — Sobre o que ela está falando? — Não importa. Eu conheço Deus e sei que ele não é assim.

— É isso aí, digo o mesmo. — Não entendi, ela conhece o Papai? Os humanos são estranhos.

— Cassiel... Falando nisso, e você e Lucy? — Ao ouvir o nome de Lucy, meu coração dispara.

— O que tem nós dois? — Pergunto, ainda corado.

— O que está rolando entre vocês dois? — Ela cutuca meu braço.

— Nós somos amigos.

— Vocês moram juntos.