I don't drink

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O moreno se remexeu levemente na cama, sentindo um par de braços ao seu redor, um calor tão perto de si, ao abrir os olhos notou que estava com o rosto encostado contra o peitoral de Marco, ao se dar conta disso o sardento se afastou assustado com aquele contato, o movimento abrupto acabou acordando o mais velho que o encarou confuso e sonolento.

Os dois se encararam por alguns segundos, antes do sardento lembrar de onde estava e porque estava ali, lembrou-se de ter contado sobre seus irmãos, de ter dormido de cansaço, de ter ficado vulnerável ali naquela cama ao lado do loiro, de ter chorado depois de sonhar com sua mãe. A vergonha assolou o moreno que se moveu para mais longe do corpo alheio, ficando na beirada da cama, quase caindo dali.

- Aconteceu algo, anjo? - murmurou o loiro bocejando e coçando os olhos, ainda se sentia um tanto sonolento e sua mente não parecia processar direito o que estava acontecendo com o moreno.

- Eu... Anjo? Por que isso agora? - falou o moreno encolhendo o corpo, as bochechas queimando suavemente pela forma como o loiro falara consigo.

- Ahn? Ah desculpa, eu... É a primeira vez que acordo do seu lado, você parece um anjo mesmo tendo acabado de acordar - disse o loiro bagunçando os próprios cabelos um tanto embaraçado - acabei falando sem pensar.

- Ninguém me chamou de anjo além da minha mãe - comentou o moreno em um fio de voz, voltando aos poucos a ficar mais perto do loiro.

- Posso não te chamar assim, se quiser, eu realmente não pensei muito na hora...

- Prefiro que não use apelidos desse tipo comigo... - avisou o menor fazendo suas orbes ônix se encontrarem com as azuladas.

- Tudo bem, não vou te chamar assim de novo, não se preocupe - afirmou o loiro deixando sua mão respousar sobre os cabelos negros do menor - você está bem? Dormiu bem depois do pesadelo?

- Estou, consegui dormir melhor depois... Não foi bem um pesadelo... Foi mais uma lembrança.

- Quer me falar sobre ela? Você parecia bem abalado a noite, tinha a ver com a sua mãe, não é? - Marco começou a fazer leves afagos nos cabelos do menor, tentando de alguma forma confortá-lo com aquilo, passar alguma tranquilidade e confiança para que ele pudesse e soubesse que poderia se abrir consigo quando precisasse.

O moreno deu um suspiro baixo, sentindo seu ser se encolher com as lembranças, aquela tristeza escondida voltando a tona e o dominando por completo, era tão difícil falar sobre Rouge, principalmente sobre aquele dia que ainda o trazia medo e desespero, retomava as angústias de quando era uma criança escondida ouvindo tudo de seu esconderijo, sofrendo em silêncio por não poder se expor e jogar tudo que sua mãe fizera para protegê-lo fora.

O loiro, ao notar a expressão do moreno se transformar em algo doloroso, o puxou para si, envolvendo-lhe em um abraço, mantendo-o tão perto que podia sentir seu coração batendo contra si, as batidas falhas e descompassadas se misturando as batidas doloridas do menor. Seus lábios tocaram suavemente a testa do sardento e suas mãos permaneceram com os afagos, o acalmando com cuidado, como se qualquer movimento errado o pudesse quebrar e desfazer aquilo que havia tentado construir com o rapaz.

O corpo menor se encolheu naquele abraço e suas mãos se agarraram ao maior, como uma maneira de tentar se manter ali, de se manter firme e não cair naquela dor em seu interior, não se perder novamente naquela agonia e medo que sentira.

- Quando eu... Era pequeno... Meu pai morreu... Ele tinha uma doença terminal da qual conseguiu sobreviver até que eu completasse um ano, eu não me lembro muito dele, na verdade, não me lembro de nada dele, apenas o que a minha mãe me contava... E as coisas que descobri depois... Ele não era exatamente o que chamamos de uma boa pessoa... Ele é odiado onde eu nasci, em Baterilla, muitos ainda o mantém vivo na memória como um assassino, ou um ladrão, minha mãe sempre me dizia que as pessoas tinham uma visão deturpada dele, que ele era sim uma boa pessoa, que era amável e que me amou até o último dia de sua vida, que tudo o que ele fazia era para ajudar outras pessoas, mas é difícil acreditar nisso quando o mundo inteiro fala o contrário - falou o moreno deixando a cabeça repousar no peitoral alheio.

(Im)possívelWhere stories live. Discover now