you are my mist

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O moreno de sardas estava sentado na cama, um grosso livro em suas mãos enquanto os olhos atentos passeavam pelos post-its que colara ao longo da leitura e outros que já estavam ali antes, voltando para algumas frases que queria decorar ou ao menos internalizar.

- "O espírito da gente é cavalo que escolhe estrada" - murmurou o moreno lendo a frase para si - acho que talvez esteja na hora de escolher minha própria estrada - Ace mexeu em seus próprios cabelos olhando ao redor, o quarto que não era seu, mas que ao mesmo tempo o era por um período que nem ele próprio sabia, um suspiro baixo escapou pelos lábios do moreno - mas por onde eu deveria começar?

O de sardas voltou sua atenção ao livro, folheando e vendo uma marcação em uma das páginas, seus olhos se prenderam aquelas palavras e ele releu algumas vezes fazendo-as ecoar dentro de si, uma espécie de mantra.

- "Amor vem de amor. Digo. Em Diadorim, penso também - mas Diadorim é a minha neblina", o que você quis dizer com isso, Riobaldo? - questionou o moreno olhando para a página aberta em sua frente, a frase grifada em verde, um leve biquinho nos lábios do sardento - o que é ser a neblina de alguém?

O moreno, que estava tão concentrado naquela dúvida, deu um pulo na cama ao ouvir a porta se abrir e no susto acabou fechando o livro com força, o que fez Marco, que acabara de entrar no quarto, parar sem entender o que havia acontecido, os olhos negros se voltaram para o loiro e a calmaria voltou para o corpo menor ao se dar conta de que estava tudo bem e que não havia o que temer.

- Te assustei? - perguntou o loiro sentando na cama ao lado do moreno, sua mão tocando a alheia que repousava sobre o livro fechado.

- Eu estava um tanto concentrado... O que é ser a neblina de alguém? - Ace questionou olhando para os olhos azuis do loiro, aquele choque e encontro que fez tudo ao redor não importar mais, deixando todas as decisões para depois, como se elas pudessem ser adiadas para sempre, como se não houvesse outra coisa para se olhar, por alguns curtos instantes o moreno sentiu como se entendesse a pergunta que havia feito.

- Uma neblina é algo que é e ao mesmo tempo não é, que você vê, mas não o sente, é algo indecifrável e misterioso, algo que deixa turvo, que embaça tudo ao redor, sem que haja espaço para se perceber o que há em volta. Nessa parte há algo como um espelhamento entre os amores, entre o presente e o passado, apesar de toda essa travessia que Riobaldo até o momento presente em que ele narra, já casado com Otacília, ele ainda sente algo indefinido e ao mesmo tempo definido por Diadorim, fazendo ele ser sua neblina, com esse sentimento confuso, a imagem de Diadorim ainda se mantém para ele como uma névoa, deixando seu presente turvo e embaçado - explicou o loiro tocando sutilmente os cabelos negros, fazendo pequenas carícias ali.

- Parece bonito ser a neblina de alguém - comentou o moreno sorrindo pequeno, os dedos deslizando pela capa do livro, acompanhando as letras do título.

- É... Mas é um pouco triste... No sentido que está posto aqui - falou o loiro tocando no livro - mas acho que você não chegou no fim não é?

- Por que triste? Ainda não terminei, estou aqui - o moreno mostrou a página em que havia parado - nessa parte "Um Diadorim só para mim. Tudo tem seus mistérios. Eu não sabia. Mas, com minha mente, eu abraçava com meu corpo aquele Diadorim- que não era de verdade. Não era?”, estava lendo as marcações que você fez.

- Vou deixar que descubra quando chegar ao fim, não quero estragar esse momento. Eu gosto desse trecho aqui - disse o loiro pegando o livro em suas mãos e o folheando - "Diadorim deixou de ser nome, virou sentimento meu".

Ace ergueu o olhar para o loiro e sentiu cada palavra entrar fundo dentro de si, o penetrando e fazendo parte de quem era, entrando por cada poro de seu corpo, o envolvendo em cada letra, criando um sentido próprio em seu interior, de alguma forma sentia que aquela frase se completava em sua vida, Marco de alguma forma havia deixado de ser apenas um nome e se tornara sentimento seu. Um sentimento ao qual Ace não estava acostumado a ter e que parecia preso em sua garganta, fazendo suas mãos suarem em ansiedade, um nó dentro de si que precisava ser desfeito através das palavras que guardava em seu peito.

(Im)possívelWhere stories live. Discover now