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— [...] e isso se dá a um medo ilógico criado por sua cabeça, que ainda não se sabe a razão, mas faz sentir-se vulnerável e exposto diante a sociedade. Hm... Tem mais coisas aqui, mas acho que é isso aqui o resultado. — A garota bloqueou a tela do celular e o colocou em cima do sofá.

— Ela acha que é tudo coisa da minha cabeça?

— Não tá escrito isso aqui. É mais que tem alguma coisa acontecendo e te deixando inseguro, eu acho.

— É meio errado fazer isso. — Ashton disse, insatisfeito.

— Não se opôs quando eu disse que ela já tinha atualizado o seu caso. E sabemos que ela ainda vai reavaliar e conversar com você de forma profissional e objetiva.

Ashton reclamava da conduta da amiga em entrar nos arquivos e ler o diagnóstico, mas a verdade é que a ansiedade lhe consumia e ter informações detalhadas lhe fazia avaliar melhor como a situação era vista de fora. Ou seja, no fundo ele era grato por isso apesar de saber que era errado.

Halsey dividiu o quarto com Susie alguns meses atrás, e logo após ela poder começar a exercer a profissão, a garota fez o amigo se consultar com ela, sem que eles criassem vínculos ou soubessem que Halsey era o ponto de partida e o que os interligava indiretamente.

— É, mas você sabe que essa coisa tem que parar, né? — Ele gesticulou com as mãos criando um círculo invisível logo a sua frente.

— Eu te contando ou não, vou continuar olhando os diagnósticos da Susie, é terapêutico.

— As consultas. Não vou poder continuar me consultando com ela, porque... É errado, sabe?

— Sei. Mas por agora, continue frequentando até perceber uma solução. Ou até sentir-se melhor.

Irwin abanou a mão, descartando a idéia. A presença de seu observador parecia ter ficado mais forte nos últimos dias e isso estava ficando mais incômodo, mas ele não queria falar sobre isso com a amiga.

— O que acha de um banho? — A garota sugeriu, pensativa. — De banheira!

— Agora?

— Não! Quando a banheira encher, obviamente. Vou te esperar lá, apareça em dez minutos, sim? — Sem esperar por uma resposta, a garota saiu saltitando para longe, rumando ao banheiro.

O garoto sentou-se no sofá, pegou o celular de capinha com glitter que estava ali em cima, pressionou o botão de bloqueio e a tela acendeu com a imagem de duas silhuetas ao entardecer, eles escolheram a foto juntos e usavam como tela de bloqueio, era a mesma foto para ambos celulares. Ao voltar a bloquear a tela, viu seu rosto refletido ali, encarou o reflexo parcial, afastou mais o aparelho para ver como o cabelo estava, nesse instante notou uma figura masculina logo atrás de si, com o susto derrubou o aparelho e virou-se rapidamente para trás. Não havia ninguém ali.

— Merda! — Xingou, o coração estava disparado. Recuperou o celular do chão e avaliou se tinha algum dano. Ileso.

Devolveu o aparelho para o sofá e conferiu mais uma vez o local onde viu alguém ser refletido. Não havia nada ali e sabia que era impossível uma pessoa sumir em tão pouco tempo. Estava começando a achar que estava ficando louco.

Não se importou com quanto tempo havia se passado, foi ao banheiro, a verdade é que não queria estar sozinho. Ao entrar, viu a amiga no meio da espuma, encarando os dedos dos pés que se mexiam um pouco acima da espuma.

— Vai entrar ou não? — A garota perguntou sem tirar a atenção do próprio pé.

Ele nada respondeu, apenas tirou a camisa e a calça larga antes de entrar na banheira, logo atrás de Halsey, sentando-se com as pernas abertas.

— Pernas esticadas e mãos foras da água. — Falaram juntos quando ele esticou as pernas.

— Quer fazer massagem nos meus ombros? É justo, não é? — Ela perguntou, puxando mais espuma para perto de si.

Quando ele não respondeu, ela apoiou as costas no peito dele e levantou o rosto tentando encara-lo mas o ângulo impossibilitava.

— Está quieto... Exceto pela tensão em seu corpo. Aconteceu alguma coisa?

— Acho que posso estar ficando louco. — Confessou em um tom baixo de voz.

— As melhores pessoas são. Loucas. — Estalou a língua no céu da boca.

— Dessa vez é sério.

— Mas sabe esse cheiro de morango? É meu sabonete íntimo, gastei tudo pra fazer essas bolhas, é bom que possamos aproveitar pra relaxar.
A loucura é uma condição natural, mas eu vou te ajudar a distinguir o que é loucura ou não, mas, podemos viver a sua loucura juntos. Amigos pra sempre, lembra?

— Amigos pra sempre. Agora se afasta pra que eu posso fazer a massagem que pediu.

— Isso! Esse é meu garoto! Faz com carinho porque gastei energia fazendo essas bolhas. — Fez bico, mesmo sabendo que o outro não veria.

— Você não tem jeito mesmo. — Sorriu, colocando as mãos sobre os ombros alheios e os apertando de leve.

— Me ama que eu sei.

— Ainda bem que sabe, porque nunca vou dizer isso pra você.

Ela levantou o dedo do meio, e resmungou. Ele riu.

— Faz tempo que não tomávamos banho juntos... — A garota comentou, abraçando as próprias pernas e fechando os olhos, aproveitando a massagem.

— Faz, e você costumava fazer isso vestida, aliás. Por que você é assim, Halsey? Não podia usar roupas de banho?

— Com você? Puff. Você tá vestido, ué, não se preocupe comigo. Até porque não é como se a gente tivesse alguma questão não resolvida. Não é?

— É, mas pensa comigo. A primeira pessoa que toma banho comigo, despida, não é minha namorada. É um caso a se pensar.

— Que namorada? — Gargalhou alto em deboche — Senhor Fletcher, nenhuma garota vai te namorar, você sabe né?

— Cala a boca. — Apertou os ombros alheios com força exagerada. — Chata.

— Ei! Saia da banheira, chato é você!

— Me obrigue.

— Não faço porque não me importo o suficiente. — Se afastou para poder mostrar a língua. — Como vamos sair da banheira sem causar trauma um ao outro?

— Você vai sair primeiro, não é você a mulher de questões resolvidas?

— Vai se foder, aliás. — Ela se virou, ficando de frente para o amigo, colocando o pé em seu peito. — Sabe que eu te amo, né?

i watch youWhere stories live. Discover now