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Ela abriu os dedos vendo a luz atravessando entre as brechas, virou a palma para si, fechou e abriu os dedos novamente e em seguida os levou até o cabelo por reflexo, colocando uma mecha atrás da orelha. Ajeitou a postura e suspirou antes de continuar falando.

— ...ela meio que acha que fiquei com o namorado dela, mas, eu não fiquei. Ele era um idiota, mesmo namorando ela ficava tentando flertar comigo quando vinha buscar ela pra sair ou quando só vinha aqui e ficava a sós comigo. Eu evitava ficar a sós com ele. Mas Susie preferiu acreditar que eu estava tentando alguma coisa com ele e por isso ficou irritada e se mudou. Mas essa nem é a pior parte.

— Quer falar sobre a pior parte? — Ele perguntou, tirando alguns fios de cabelo escuro dos olhos. Estava tentando se acostumar com o novo corte.

— Ele, o namorado babaca dela, veio aqui. Ele sabia como entrar, eu nunca realmente trancava a porta, mas acredito que ele tinha a chave que Susie não fez questão de devolver. E eu estava sozinha. Ele investiu, dizendo que estava errado em continuar com a Susie quando sabia que era eu quem ele queria e essas besteiras, mas eu falei que o problema não era a Susie, era o fato de eu não ter interesse nele. Nossa, ele ficou bravo. Partiu pra cima, xingando. Só não ficou claro que tipo de agressão era aquela, porque ela estava mais interessado em me agarrar do que de fato bater. Foi horrível. Por Deus eu consegui me soltar e correr pra cozinha, lá eu peguei uma faca. Te juro, eu não tremi. Se ele chegasse perto, não pensaria duas vezes antes de atacar. O coloquei pra fora aos berros. Troquei a fechadura o mais rápido possível.

— E desde então mantém a porta trancada, e não falou com a Susie. — Ele concluiu.

— É isso. E não vejo o Ashton à dois dias. Acha que devo ir na casa dele?

— Talvez...

— Dom, obrigada pela terapia. Você sempre me salva! Aliás, a gente podia...

— É, a gente podia. — Ele sorriu.

— Podia? Nem sabe o que eu iria sugerir. — Ergueu as sobrancelhas.

— Ué, mas posso imaginar as possibilidades. E vindo de você, sei que seria alguma atração divertida. — Piscou o olho esquerdo, sorrindo de lado.

— Visitar a sua piscina é bastante divertido! — Ficou de pé em um movimento rápido, quase pulando.

— Sempre. — Estendeu a mão, esperando que ela pegasse.

Ela pegou e foi puxada para sentar no colo dele. Gargalhou com o ato e o passou as mãos por cima de seus ombros. Se encararam antes de tocarem as testas e fecharem os olhos.

— Assim eu vou acabar achando que você quer me beijar. — Ela sussurrou.

— Relaxa. Eu só gosto de ficar assim com você.

— É? Que bom que somos amigos, Dom. — Se afastou para beijar-lhe a ponta do nariz, em seguida saindo de seu colo. — Quer ir comigo até a casa do Ash?

— Não posso, tenho outros planos. Desculpa, coração.

— Tudo bem, sei que você tem ciúmes dele. — Mostrou a língua.

— Por que teria? É só que... Um amigo me chamou, e ele disse que tinha um lugar pra me mostrar. Espero que seja bom o suficiente.

— Ok. Mas vamos marcar mesmo de passar um tempo juntos, uh?

   •----------[ 👀 ]----------•

O som que o celular emitiu fez Ashton se sobressaltar e olhar ao redor antes de pegar o aparelho que estava em cima do colchão. Era uma mensagem. Halsey. Saiu do quarto as pressas e praticamente correu até a porta da frente. Abriu uma fresta e observou antes de abri-la o suficiente pra que a amiga pudesse passar.

— Vem, entra. — Ele chamou, tentando ficar atrás da porta.

— Oi, né? — Ela olhou para trás, procurando alguma coisa suspeita. — Você...? — Deu de ombros e adentrou a casa. — Você está bem?

Ele fechou a porta, pegou-a pela mão e a levou para o seu quarto. Trancou a porta assim que estavam do lado de dentro.

— Escuro.

— Eu o vi. — Ele sussurrou.

— Oi?

— O cara. Eu o vi. Do lado de fora. Me observando. Bem, eu não sei se era do lado de fora, parecia tão perto.

— Como assim? Você viu o cara que te persegue? Aqui?

— Pela janela. Não tenho certeza, parecia um reflexo mas não tinha como ele estar aqui dentro, eu conferi cada centímetro do quarto.

Isso explicava toda a bagunça, as janelas fechadas e cobertas, além do fato de ele estar inseguro com qualquer brecha na segurança.

— Chamou a polícia? Avisou alguém?

— Sim, mas não tive credibilidade com ninguém, por causa do psiquiatra que estava agendado e a perícia que não deu em nada. Eles disseram que era impossível ter alguém aqui, mas eu sei o que vi. E se eles não acreditam, eu vou...

A garota o abraçou. Não sabia o que dizer, muito menos o que fazer para ajudar, mas de alguma forma queria que o amigo se sentisse um pouco mais confortável.

— Acredito em você. Sei que viu alguma coisa. É por isso que não tem me visitado?

— Nem saí de casa. Eu não sei o que ele quer e nem por que está me perseguindo. Você acha que estou louco? Acha que isso tudo não é real?

— Mesmo que estivesse acontecendo só na sua cabeça, significa que não é real?

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Eles estavam deitados na cama do loiro, ele olhando para o teto e ela de bruços com os olhos ligeiramente fechados. Demorou, mas conseguiu acalmar o amigo e juntos eles tentaram procurar algum tipo de conforto.

Halsey prometeu passar um tempo com ele, e arrumou parcialmente o quarto. Também convenceu a abrir a cortina, já que estavam seguros lá dentro e assim poderiam ver se tivesse alguém lá fora e pediram ajuda, quem sabe até conseguiram uma prova incontestável - como uma foto - e assim poderiam fazer alguma atitude ser tomada.

Ashton contou que não sabia dizer ao certo se o que viu foi um reflexo do que parecia estar do lado de dentro ou se era uma imagem de fora, mas tinha certeza que era a mesma presença que ela havia sentido sempre que se sentia observado. Só conseguia fazer que pelo porte físico era um homem, não teve tempo o suficiente pra ver quaisquer outras características significativas. Ambos sabiam que era impossível ter alguém do lado de dentro, assim como era quase nula a chance de ser alguém do lado de fora, mas tão pouco parecia um peça pregada por sua mente.

Halsey dormiria ali, e de alguma forma já era suficiente pra transmitir algum tipo de sensação de conforto e até segurança. 

i watch youWhere stories live. Discover now