Capítulo 2

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DOIS

O TRÂNSITO ESTAVA UM HORROR. O Rio de Janeiro passava por muitas obras e todo aquele trânsito era devido ao caos urbanístico pelo qual a cidade estava passando. Sorte minha ter o escritório bem ao centro, só assim Robson pode chegar tão rápido ao meu chamado.

Pedi para que Robson diminuísse um pouco o ar condicionado para que o frio não pudesse prejudicar a saúde do jovem Felipe que estava ao banco de trás junto de seu pai.

Liguei para Ana e pedi que aprontasse um almoço bem caprichado e também que separasse material para banho e roupas limpas. Disse que precisava de roupas para um homem e outras para um bebê.

Ana era a responsável por todas as atribuições da minha residência no Alto da Boa Vista. Ela cuidava dessa casa por mais de trinta e cinco anos. Começou a trabalhar para meus pais antes mesmo de eu nascer. Era uma mulher de cinquenta e quatro anos. Tinha os seus 1,63 de altura e o que aproximava aos 60 quilos. Usava sempre uma saia abaixo do joelho de cor bege, uma blusa da mesma cor, sapatos pretos e um coque que escondia todo o comprimento do seu cabelo preto e pouco ondulado. Ana usava óculos, desses com um formato meio retangular e com grau apenas para descanso. Era de extrema confiança e sempre mantinha tudo dentro dos padrões clássicos, desde que foi empregada ali enquanto meus pais ainda eram vivos.

Apesar de sua aparência militarizada Ana nunca tinha servido em quartel algum. Ela foi criada por meus pais desde que sua mãe, Maria, teria partido por conta de um câncer nos pulmões.

Quase nunca eu teria visto um sorriso no rosto de Ana, exceto quando ela estava tratando das flores no jardim. Ela tinha uma habilidade enorme com as flores e fazia questão de cuidar de todas sem precisar contratar ninguém para isso.

Ana me dizia que o seu lugar preferido era o jardim. Dizia que lá ela encontrava toda a serenidade e beleza do mundo. Cuidando das plantas ela estava em contato com a vida mais bela possível e se entristecia quando o outono chegava levando consigo a grande maioria delas.

Depois de uns cinquenta minutos chegamos ao nosso destino tão esperado. Eu estava ansioso para adentrar em minha casa e poder cumprir com o combinado, mesmo que esse ainda estivesse apenas em minha mente e pouco sabido para Tenório.

Assim que o portão da garagem se abriu pude ver que Ana estava parada frente à porta de Jacarandá que é usada como acesso principal, com as mãos para trás, como de praxe, me aguardando para a recepção. Não esperei que Robson pudesse sair e abrir a porta à direita do Renault. Desembarquei e sorri para Ana, que me retribuiu com um aceno e um: - Boa tarde Dr. Fernando. – Boa tarde Ana. Está tudo conforme combinamos por telefone? – indaguei. – Sim Doutor, tudo conforme o senhor me solicitou. – respondeu. Agradeci e fui diretamente para à porta traseira do sedan, abrindo-a para que as minhas visitas pudessem desembarcar. Enquanto isso, Robson abria o porta-malas do carro para retirar as bolsas de Tenório, obedecendo quando eu disse para que ele levasse essas mesmas bolsas para a área de serviço imediatamente. Tenório desembarcou com Felipe que já estava acordado a esse momento.

Ana surpreendeu-se quando viu a aparência de Robson e Felipe. Pude ver em seu olhar que ela estava pasma com a presença de dois desconhecidos e, sobretudo, naquele estado.

Olhei fixamente para Ana e apenas com o poder do meu olhar disse para que ela prontamente mudasse suas características faciais e tratasse os meus dois convidados como se fossem os mais nobres já recebidos ali. O bom de ter uma convivência por tantos anos com a mesma pessoa é que ela consegue te traduzir somente com um gesto, ou somente uma palavra. Ana não era diferente. Entendeu muito bem o que quis dizer e projetou em seu rosto um sorriso ameno, porém, bem melhor do que o olhar de espanto anterior.

Sempre haverá esperançasWhere stories live. Discover now