Milagre

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Sakura

Meu coração ferveu, queimou como se fogo realmente estivesse ardendo dentro do meu peito. Minhas mãos seguravam o chão sob mim, cravando as unhas na areia. Eu tentava não olhar, mas não conseguia desviar os olhos de Sasuke. Havia um grande corte que cruzava seu rosto, da sobrancelha até o canto da boca. Seu olho direito estava roxo e sangue corria do esquerdo. Seu nariz parecia quebrado e ele cuspiu sangue quando os guardas soltaram seu cabelo. O pouco que estava a mostra de seu pescoço mostrava marcas de mãos, como se ele tivesse sido estrangulado.

Se eu não estivesse tão perto a ponto de ouvir sua respiração, diria que ele estava morto. Mas seu peito erguia e recuava com dificuldade, o ar entrando e saindo de seu corpo com um ruído alto e preocupante.

Ao nosso redor, havia um burburinho. Vozes dos moradores da vila, outros ninjas. Todos tinham reconhecido o homem ferido a nossa frente. Não havia como negar: mesmo que tivesse saído da vila, Sasuke um dia tinha pertencido a ela e, portanto, Tsunade tinha de confirmar sua origem.

Meus olhos pairaram sobre ela, vendo a expressão de desespero que ela tentava disfarçar. Ela estava em uma situação muito difícil, mas não tinha muito que pudesse fazer. Sabia do perigo de entrar em guerra com os Itami e, eu imaginava, não achava que Sasuke valia o esforço.

- Sim, Akira – Tsunade respondeu, sua voz menos empoderada. – Ele é um membro de Konoha, apesar de ter ido embora muitos anos atrás.

- Obrigado pela honestidade, Tsunade – Ele estava sendo irônico. Sabia que ela não tinha muitas opções além de dizer a verdade, diante da situação. Akira pegou novamente o livro, abrindo na página que marcara com o dedo. – "Trazemos de volta a sua terra este ninja, que pagará pelos crimes de invasão e tentativa de roubo. Sua transgressão deve ser punida de forma justa e, sob nossas leis sagradas, nós perguntamos: este homem possui uma prole a quem deva cuidados?"

O burburinho havia parado e agora o silêncio era tão forte que eu ouvia o coração de Naruto ao meu lado, ainda me segurando com firmeza.

- "Eu repito: este homem possui uma prole, filho ou filhos, que dependam de seus cuidados?" – Insistiu Akira.

Ninguém falou nada. Claro que ninguém ia falar: o que diriam? Sasuke nunca tinha se envolvido emocionalmente com alguém o suficiente para criar uma amizade, que dirá filhos!

Akira olhava ao redor, dando tempo suficiente para que alguém respondesse. O silêncio se estendeu, cada vez mais opressor, pesando sobre nós. Em alguns minutos, o general constatou que o silêncio significava que Sasuke não tinha salvação. Fechou o livro num baque, fazendo poeira voar ao redor de seu rosto, saindo das páginas.

- Pelo poder que possuo de general e juiz neste caso, declaro Sasuke Uchiha culpado de seus crimes, sem direitos de resposta – decretou Akira. – Guardas!

Os dois guardas que seguravam Sasuke olharam na direção dele, em silêncio. Por um minuto eu achei que eles estavam esperando uma ordem, mas logo um som alto e gutural soou da garganta do Uchiha. Um grito de dor. Os guardas estavam usando seu kekkei genkai para acordá-lo.

Os dois soltaram Sasuke no chão e ele caiu de joelhos, ainda gritando de dor. Seus braços se debatiam, como se tentassem se livrar do que estava causando aquela agonia. Em sua tentativa frustrada, ele abriu a túnica que o cobria, revelando seu peito nu, coberto de sangue e feridas. Algumas surgiam naquele momento, diante de nossos olhos, apesar de ninguém estar tocando em seu corpo.

Um arrepio de medo subiu pela minha coluna e ergueu os pelos dos meus braços. Os Itami conseguiam causar um estrago tão grande só com o olhar, uma violência tão intensa e dolorida. Eu não conseguia nem imaginar o que Sasuke estava sentindo. Seus olhos puxados estavam fechados, as sobrancelhas unidas em uma expressão de dor.

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