Vɪᴏʟᴇᴛ.

Ergo o rosto para alcançar a dona da voz grave e aveludada em simultâneo.

Ao atingir meu alvo, uma onda opressora pesa sobre meu peito e a falta de ar quase me faz gemer de incômodo.

Meus olhos paralisam, meu corpo fica enrijecido e a garganta queima como se estivesse sendo incendiada.

— Não deveria ser surpresa me ver — diz sem muita importância e sorri fraco.

Ela avança alguns passos e deixa a bolsa de mão na minha mesa, logo cruza os braços.

Os olhos verdes são tão profundos, parecem querer dizer bem mais do que a boca solta.

Não consigo respirar e nem me mexer. Talvez seja o choque de vê-la.

A loira não se importa, nunca se importou, porquê se importasse não teria sequer ido embora.

— Não me olhe assim Let. Sabe que jamais quis te deixar. — Soa agressivo, ela está incomodada? Sou eu quem deveria pedir que sumisse de novo.

Como já fez.

As paredes parecem me espremer e o clima fica num calor infernal.

— Saia. — Consigo dizer saindo do travamento que engole todo meu corpo.

Estou ficando zonza.

— Quer realmente que eu saia? Você não consegue ter a coragem de me olhar nos olhos Violet. Isto é ser fraco, e fraca é uma coisa que você não é. — Ousadia a dela.

Quem pensa que é para vir até depois de estes anos e acreditar que pode falar comigo assim?

E ainda me chamar de fraca.

— Teve a audácia de vir aqui e me dizer esta estupidez? Perda de tempo. Você não esteve aqui, você não sabe o que eu passei estes anos para me chamar de fraca. — Saio de trás da minha mesa e fico frente a frente com a mulher de argolas nas orelhas.

— Precisa lidar com isto irmã, já se passaram quase dez anos, supere. — Engulo seco e respiro profundamente para não lhe acertar um tapa na cara agora mesmo.

— Seu nível desceu tanto com todos esses anos... Ah! Não, você sempre planejou isto e quando teve a oportunidade... — Agarro seu pulso com grosseria.

— Pegue a droga da sua bolsa e coloque-se daqui para fora, ou eu mesma te coloco. — Aperto os dedos, envolta do seu pulso fino.

A loira contrai os lábios e enruga o nariz.

Nem que se passa sem cinquenta anos, nunca esqueceria seu rosto.

O rosto angelical que mais me feriu.

— Pode me tirar daqui agora Let, mas sabe que não vou sair da sua mente e muito menos da sua vida. — Seu tom é levemente provocativo, está indignada por eu dizer tais palavras e querer lhe colocar para fora.

— Não vai pode evitar nossa conversa por muito mais tempo. — É um aviso pelo visto, aquele olhar de quem sabe o que carrega consigo.

Ela retira os olhos verdes de cima do ombro e pega a bolsa, se virando e saindo feito um vulto.

Aguentei por muito tempo, esta maré e agora não consigo mais suportar... Desabo no choro.

Não quero que ninguém me ouça, nem conversar... Só quero chorar.

Vou até à frente da janela e deixo a cadeira virada de costas para porta.

— Violet, precisamos conversar. — Ouço a voz dele invadir o espaço sem sal que é a sala.

"Agora não, Lucien."

— Não deveria ter feito o que fez com a Kate, foi injusto, eu sei disso, ela sabe e você também. — Está exaltado e quer respostas.

Suspiro pesado devido ao choro.

— Kate esteve todo este tempo te ajudando e você se aproveitou dela. — Quero xinga-lo muito, sei que não tem culpa do que acabou de acontecer... Mas, preciso deste momento, sozinha.

— Lucien, por favor — balbucio bem baixinho, o som quase não sai da garganta.

— Não! Por favor, digo eu. — Vejo sua mão esquerda se erguer em indignação.

Não quero virar e ter que encará-lo assim.

— Poderia pelo menos pedir desculpas pelos serviços extras que a mandou fazer, ameaçou demiti-la caso não fizesse e MAIS, ainda a chamou vulgar. — Sua irritação é nítida.

É claro que não percebeu que estou chorando, que preciso de silêncio exterior (porquê se tivesse percebido seria sensível o suficiente para me deixar só).

— Não vai dizer nada? Deveria...

— Cale a boca! — exclamo, já sem um pingo da paciência celestial que tenho.

Deveria, deveria isso, deveria aquilo.

Eu não devo nada.

Viro a cadeira e fico de frente para ele, tentando olhar com nitidez os olhos castanhos revoltados.

Eles não mudam sua expressão.

— Está chorando? Arrependida? Não, Violet nunca se arrepende de tratar os outros sem escrúpulos não é mesmo. — Seu tom se eleva e não consigo engolir que está acreditando que tem a ver com Kate tudo isto.

— Eu NÃO tenho que fazer nada e muito menos me importa o que você acha sobre sua amante de armazém Lucien. — Vocifero entre soluços, fervendo em ódio.

Eu sou a protagonista agora, não ela, não ele. Ninguém pode respeitar a minha dor?

— É isto o que você sempre faz! Não consegue enxergar? Meu Deus! Violet, não é possível que seja tão narcisista ao ponto de nem se importar com o mal que causa as pessoas ao seu redor. — Movimenta as mãos ao redor de si próprio indicando o círculo que lhe envolve.

Quero acertar um soco nele, mas como não posso... pego o grampeador pesado sobre a mesa e atiro nele.

Minha pressão sanguínea atinge o ápice da sobrecarga e meu rosto esquenta. Estou possessa.

Lucien desviou do grampeador e agora olha para mim, incrédulo.

VÁ PARA O INFERNO. — Brado procurando outro objeto no alcance para tacar nele.

Lucien fica paralisado por alguns segundos não acreditando no que acabo de fazer e vou repetir.

Agarro uma caixinha de grampos — jogo nele e continuo pegando tudo que vejo pela frente até expulsá-lo da sala bagunçada pelas coisas que se encontram no chão.

Lucien é obrigado a sair devido ao meu ataque de fúria — tranco a porta e suspiro fundo.

👩🏼‍🦼👩🏼‍🦼👩🏼‍🦼

É gente, parece que alguém abalou as estruturas da Violet e não foi de um jeito bom.

Continue acompanhando ;)

꧁ 𝙲𝚘𝚗𝚝𝚛𝚘𝚕 ꧂Where stories live. Discover now