19 - liberdade

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Duas páginas em um dia, seria meu récord?

Soraia vestia uma calça justa e uma blusa branca, esse conjunto deixava ela mais magra aparentemente. Ela foi a única pessoa que conheci que se importava tanto com sua aparência. Na escola ela era destaque pela sua beleza. Na qual não exageraram, ela realmente é muito bonita.

– você não pode matar aula Leslie! – Soraia disse colocando sua mão por cima do seu rosto fazendo com que o sol não a queimasse.

É sério que ela acha que poderia me dar lição de moral e sermão. O que me deixava com uma pulga atrás da orelha era: qual o motivo dela estar se preocupando tanto comigo, logo ela, uma garota empedernida e egocéntrica.

– primeiro que o que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta, e aliás você também não está na escola então está tão errada quanto eu – rebati olhando seus olhos.

Fiquei olhando seu rosto delicado fritar no sol e era perceptível que ela não estava acostumada. Seu suor escorria pela sua testa e ela passava a mão para evitar que caísse em seus olhos.

Quando eu estava prestes a me virar para tomar outro caminho, ela puxou meu braço fazendo com que eu desse um giro e ficando a um palmo diante de seu rosto. Eu sentia seu hálito eu respirava seu hálito, ela pôs sua mão em meu rosto e me deu um beijo. Um beijo diferente do dia da festa, dessa vez não foi forçado e nem com gosto de bebida, eu pude sentir minha respiração ficando irregulada e meu coração batendo mais do que o normal.

Seu beijo não estava sendo ruim, mas não queria me envolver muito e depois de uns segundos eu resolvi deslocar meus lábios dos seus.

– eu posso ser muito boa quando eu quero. – falou Soraia e deu um sorriso malicioso logo em seguida.

Era absurdamente incrível às coisas que eu sentia quando a beijava, eu diria que quase indescritível, era como se milhares de raios gama atravessassem meu corpo, eu senti todas as moléculas do meu corpo se colidindo, seus lábios, seu perfume, seu cabelo. Tudo perfeito e bom demais para ser real. Estava com meus sentimentos a flor da pele e simplesmente me entreguei. Sem julgamentos e sem me importar com que os outros iriam achar.

– é, eu percebi. – respondi

Ela entrelaçou seus dedos aos meus e olhei fixamente em seus olhos azuis, não queria dizer nada e nem ela falava nada, eu apreciava  sua beleza radiante enquanto ela dava um sorriso bobo, estava sendo um momento mágico e único, não queria que acabasse e minha vontade era parar no tempo para que esses poucos minutos fossem eterno.

Por que você está fazendo isso comigo? – indaguei já afastando seus braços dos meus.

Soraia desviava seu olhar enquanto partia seu cabelo ao meio.

– não está claro? Eu gosto de você Leslie!

Revirei meus olhos.

– mas você não me perguntou se eu gosto de você e se eu gosto de ficar com garotas – rebati.

Encarei tentando falar mais alguma coisa mas fechei a boca quando vi que não sairia mais nada.

– me poupe, eu sinto o cheiro de coro de longe – olhei descaradamente  com um sorriso obsceno e dei um soco de leve em seu ombro.

– não estou preparada, minha tia é homofóbica – falei dessa vez cabisbaixa e tentando desviar seu olhar.

Ei, – ela levantou meu rosto com a mão em meu queixo e continuou – nós vamos lutar juntas, confia em mim e deixa eu te fazer feliz.

Eu tentava processar suas palavras mas em minha mente vinha uma retrospectiva do dia em que nós nos conhecemos, ela me humilhando, às vezes que ela me olhou torto e até com olhar de superioridade. Hoje, justo hoje ela está se declarando e dizendo que gosta de mim, falando que mudou e que quer uma chance para demonstrar isso.

– me dá um tempo para eu poder pensar melhor, não sei se esse é o momento certo, antes de tudo quero contar sobre a minha orientação para minha tia.

Soraia balançou a cabeça concordando.

– só me promete que vai fazer um esforço para nós se encontrarmos fora da escola mais vezes. – ela perguntou.

Eu não sabia o certo se eu iria conseguir dar umas escapadinhas para ir vê-la. Mas eu também tinha a plena convicção que se eu quisesse era possível sim.

Suspirei aliviada.

– irei fazer o que estiver em meu alcance – rebati e me despedi em um beijo em seu rosto.

A vida de Soraia aparentemente era muito perfeita, sua mãe não era preconceituosa, apesar de nunca falar de seu pai ela não parecia frustrada por causa disso e tinha seu irmão gêmeo, que agora não mora mas com elas. Então, como diria Zaia: vida de novela.

Era uma sensação gostosa estar abrindo espaço para viver essa nova vida, uma realidade que até então eu não estava acostumada. Eu não me sentia culpada por beijar uma garota, eu não sentia nojo de mim mesma em saber que eu posso amar alguém do mesmo sexo, é sensacional e prazeroso, eu diria que a palavra para resumir meu estado de espírito nesse momento seria: liberdade.

Não desistam de mim, apareço depois para publicar mais!!

Não foi uma escolhaOnde histórias criam vida. Descubra agora