Capítulo 2: Tristes lembranças

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Mais um capítulo para vocês, um pouco maior do que o anterior. Mas, espero que gostem <3


O dia ainda estava escuro quando me coloquei de pé, antes mesmo do barulho maçante de meu despertador soar pelo quarto. Ainda cedo, apressei-me a tomar um banho quente e descer para a cozinha e preparar um chá de camomila, pois me sentia agitado.

Pude ver da janela da sala que dava a visão perfeita da rua, o sol nascer ao leste. O céu comparava-se a uma obra de arte com aquelas cores claras em tons alaranjados e avermelhados, indicando que seria mais um dia de calor.

Apesar da minha incrível pontualidade adiantada, não vi papai sair para trabalhar, ele já havia saído antes de mim. Queria muito receber seu bom dia pelo menos uma vez, mas, parece uma missão impossível.

Enquanto bebericava o chá quente e adocicado em minha xícara branca ㅡ com um adorável panda ilustrado na frente ㅡ sentado nas almofadas do chão da sala, escutei passos vindo das escadas, obviamente seria Wooyoung. Ele surgiu com sua cara amassada pelo travesseiro e os cabelos escuros bagunçados, sem um pingo de humor.

Lembro-me instantaneamente da noite anterior, quando meu irmão queria saber o que tanto me intrigava. Creio que ele ainda desejava meu compartilhamento de emoções.

Vejo por cima do ombro o garoto caminhar calmamente até a cozinha ㅡ que era dividida da sala pelo balcão alto de mármore ㅡ e pegar sua xícara amarela com uma raposa de inverno ilustrada, despejando o resto de chá do bule na mesma. Ele caminhou lentamente até mim e se sentou ao meu lado, também bebericando o líquido ainda quente.

Fico sem saber o que dizer e encaro o preto sem graça da televisão desligada, esperando coragem de minha parte ou iniciativa da parte dele de quebrar esse silêncio constrangedor.

ㅡ Bom dia ㅡ ele diz de repente após alguns poucos minutos.

ㅡ Bom dia ㅡ respondo baixo, quase sussurrando.

ㅡ Notei que você não estava bem ontem, foi até dormir rápido ㅡ percebo um tom de preocupação em sua fala e começo a me sentir mal por tê-lo deixado assim. Penso bem antes de responder. ㅡ Olha, se não quiser se abrir eu entendo.

ㅡ Ontem eu estava com a cabeça cheia de caraminholas ㅡ repouso minha xícara entre minhas pernas cruzadas após dar meu último gole. ㅡ Hoje acordei melhor e mais agitado. Só me sinto cansado mesmo, sem entender essa minha angústia. Na verdade, acho que sei um pouco a causa desses pensamentos negativos, sobre a minha existência e essa minha falta de vontade em meu último ano da escola.

ㅡ È a mamãe, não é? ㅡ ele diz com certeza, fazendo meu coração acelerar. ㅡ È, eu sei, eu também sinto falta dela às vezes.

Sim, era a minha mãe.

[...]

ㅡ 20 de março, 2015.

Era em torno das dez da noite quando recebi um telefonema de meu pai, pedindo para que eu levasse meu irmão ao hospital que mamãe estava internada. Percebi o tom estremecido em sua voz e eu já me preparava para receber a pior das notícias.

A noite era de grande tempestade, com nuvens escuras e tristes. Apressei-me a procurar roupas quentes e ajudei Wooyoung a fazer o mesmo. Peguei meus documentos, chaves e alguns trocados que papai deixou caso necessário chamar um táxi e olhei bem para os olhos do meu irmão, sugando a coragem que eu não tinha de o consolar antes de finalmente nos baterem com a informação desastrosa.

ㅡ Woo, você sabe que mamãe não estava bem há algum tempo, não sabe? ㅡ ele assente, enquanto segurava forte a minha mão. ㅡ E você lembra do que ela nos disse dois dias atrás antes de ser internada?

Entre passos e poesias [pjm + jhs] Onde histórias criam vida. Descubra agora