CAPÍTULO 22

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Lunia


Mesmo que a parte da minha vida no Buraco e no Forte do exército tenha sido sofrida eu nunca senti uma dor como essa. Quando perdi Kitana  por dias eu não senti nada. Minha mente rondava e rondava em pensamentos, minha cabeça chegava a doer de tanto pensar. E tudo que eu pensava terminava em uma figura de asas longas e escuras de penas pretas e enormes envolta em uma fumaça negra e corrosiva. 

Já estou no final da segunda semana. Subi e desci montanhas o mais rápido que pude, observando qualquer brecha ou caverna que poderia dar entrada para algum lugar ou rota para onde o Líder do Clã de Sombras mostrava. Não dou a mínima para o tempo que me deram, --- uma semana--- era óbvio que eu não conseguiria encontrar e matar aquele homem tão rápido.

 Não por ele ser tão forte. Eu tenho certeza que se encontrá-lo, se tiver a chance de encontrar sua fortaleza escondida eu conseguiria matá-lo. Erina esfolou o Líder do Clã de Chuvas sem pensar duas vezes, sem hesitar. Eu faria o mesmo. 

Erina. Minha irmã, neste momento deve estar pensando em mil formas de me encontrar. Mas se tiver voltado para Os Desertos Claros demoraria semanas sem Kaeya ou Savana para trazê-la. 

Mas de alguma forma ninguém veio atrás de mim. 

Bom.

Ouço o barulho das passadas bem posicionadas da jovem alada atrás de mim. Já entendi que ela não sabe voar, agora como não aprendeu já com essa idade é um mistério. Se eu tivesse asas assim cortaria o céu todos os dias, voaria pelo mar e veria tudo. Voar é da natureza daqueles que tem asas. Imagino que seja porque morou sozinha, nunca viu ninguém como ela voar, então não sabe como. 

__ Você! --- Aponto meu dedo em seu rumo, ela para sua caminhada como se tivesse levado um sustinho. Olha para todos os lados, mas não tinha ninguém ali, era só eu e ela. 

__ E E E eu. --- Ela fala delicadamente. Ando ensinando ela a falar, para ser mais fácil nossa comunicação, não tenho paciência para gestos, achei que demoraria mais, mas em duas semanas ela já consegue formar frases inteiras. 

__ Isso! Você! --- Digo apontando para ela--- Suas asas, você não usa? --- Pergunto, apontando para suas asas negras e brilhosas, e depois para o céu.

Ela abaixa a cabeça, vejo as penas das suas asas se abaixarem e percebo que ela sente medo. Medo de voar. Ela nunca tentou?

Chego perto dela e coloco as duas mãos em seus ombros, abaixo minha cabeça para alcançar seu olhar baixo. Ela se esforça para me encarar e novamente vejo aquela expressão, o mesmo olhar de Kitana, medo. Eu não sabia o que fazer para confortar sua dor. Então comecei a chorar, porque eu não sei o que ela passou, não sei como foi e nunca estive lá, mas eu imagino o que seja porque é a mesma expressão e o mesmo olhar de Kitana. E algo em meu corpo, algo em mim que compartilha parte do mesmo medo quando alguém me observava tempo demais com olhos maldosos no Buraco, que me fazia apressar os passos quando estava andando sozinha na rua. Aquilo que de alguma forma existe em mim, e eu odeio que exista acendeu. 

Ela levanta a cabeça e seus cabelos negros são jogados para trás com o vento, fico feliz que  ao menos ergueu a cabeça, talvez isso seria um passo inicial, aquela pequena, muito pequena expressão. 

Seus olhos abaixam e ela leva a ponta do dedo para meus dentes. E toca neles, meus dentes pontudos. 

E percebo que estava sorrindo, de alguma forma estava sorrindo de verdade. E então ri ainda mais, uma risada estranha, sugando o ar e chorando. Mais lágrimas saíram dos meus olhos, eu sorria e chorava e tentava parar de sorrir junto com as lágrimas e coriza que não paravam de sair de mim.  E depois tudo de novo. 

Eu nem percebi quando ela me abraçou. Tudo que saia de mim era triste e desesperado. Então deixei sair, não por falta de tentativa de parar, mas porque eu não conseguia fazer parar.

A jovem me soltou por um momento. Ela se afastou de mim e foi para a beira da pequena estrada na encosta da montanha alta em que estávamos, meus olhos seguiram com uma imagem borrada de lágrimas enquanto ela colocava os pés bem na beira. A queda daquele ponto era morte na certa. 

Então parei meus pensamentos por um instante. Depois de semanas meus pensamentos pararam. As lágrimas e a coriza também. 

Porque eu percebi o que ela tentaria fazer. 

Ela pulou e eu não a vi subindo, corri rumo a beira para olhar baixo e vi que ela caía de cabeça com as asas juntas, e quando chegou a um ponto baixo demais minha respiração foi cortada. Parei de respirar. 

E então suas asas negras se abriram, e abertas eram bem maiores que imaginei. Ela voou raso quase tocando na parte de grama baixa ao pé da montanha. Era linda demais.

E então eu sorri, sorri demais e pulei, uma alegria intensa me envolveu, eu não sabia se era momentânea, mas aproveitei. Ela parecia que pertencia ao céu. 

__CELINE!! ---  Se ela não se importasse eu a chamaria de Celine. 

Gritei, com os braços esticados para cima e pulando alto, rindo feito uma louca enquanto Celine cortava os céus com todo seu esplendor, liberdade e beleza de quem pertencia a tudo aquilo.

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