𝕬 𝕹𝖔𝖎𝖛𝖆 𝕾𝖆𝖓𝖌𝖗𝖊𝖓𝖙𝖆 𝖊 𝖔 𝕭𝖆𝖗𝖆𝖔 𝕸𝖆𝖑𝖉𝖎𝖙𝖔

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Gatilhos: violência, homicídio

𝕽𝖊𝖈𝖎𝖋𝖊, 𝕻𝖊𝖗𝖓𝖆𝖒𝖇𝖚𝖈𝖔. 25 𝖉𝖊 𝖆𝖌𝖔𝖘𝖙𝖔 𝖉𝖊 2010

O Sr. Alberto, um idoso de 70 anos, se arrumava com o auxílio de sua neta, Cecília, para receber alguns pesquisadores paranormais que iriam fazer uma entrevista com ele e ouvir a história que ele haveria de contar.

-Vovô, eles já devem estar chegando e...- Cecília é interrompida pelo toque da campainha -...Eles chegaram!

Cecília foi até a porta receber o grupo.

-Com licença, Sr. Alberto! Boa Tarde! - Disse alegremente uma mocinha de cabelos escuros, aparentemente na faixa dos 20 anos.

-Bem vindos, crianças! - Disse sorrindo o Sr. Alberto. - Sentem-se, fiquem à vontade!

Os jovens se acomodaram, e um rapazinho negro com um caderneta na mão, solicitou:
-Pode começar a contar, Sr.

-Bom, tudo começou em 1950. Nós morávamos em uma cidade no interior do estado até que um dia, meu pai resolveu que iríamos nos mudar para um antigo engenho de açúcar na cidade vizinha.
O engenho foi fundado em 1580 e foi adquirido pelo meu trisavô no ano de 1756. Desde então, o engenho está na minha família.
A casa-grande do engenho era muito espaçosa, e havia sido recém reformada. Tinha um alpendre grande de fora à fora na construção. Apesar de, na época, ter mais de 300 anos, a casa era muito bonita. Eu e meus irmãos estávamos muito animados com a mudança.
Quando eu e meus irmãos chegamos no engenho, fomos explorar a casa. Estava empoeirada e bagunçada, devido à recente reforma. Nossa governanta teve muito trabalho pela frente. Eu e meus irmãos descemos até o porão da casa, que havia sido reformado pela primeira vez desde a construção da casa. Não tinha nada lá. Bom, era o que eu pensava. Nós subimos e fomos explorar a imensa propriedade.
Fomos até um lugar mais isolado da propriedade e lá tinha um lago, encondido por entre as árvores. Era um lugar muito bonito e fresquinho. Fiquei lá, admirando o local enquanto meus irmãos seguiram em frente, mas logo fui arrancado dos meus pensamentos ao ver um vulto passando rapidamente no meio das árvores. Imaginei que fosse algum animal, então não liguei.
Voltamos para a casa e o jantar estava pronto. Após o jantar, fui para a sala conversar com meus irmãos. Eu disse à eles o que eu tinha visto mais cedo. Eles não viram o mesmo que eu, mas viram outras coisas. Minha irmã mais nova, com 9 anos na época, disse que tinha visto um vulto negro correndo por uma das janelas quando chegamos no engenho aquele dia. Já o meu irmão mais velho, com 13 anos na época, viu um casal no canto do porão. Era um homem e uma mulher com roupas de época. O homem tinha um semblante emburrado e cheio de perversidade. A mulher, estava com um vestido de noiva ensaguentado e tinha um semblante abatido e triste. O que não tirava a beleza dela. Ele os encarou por algum tempo, até que eles desapareceram. Ele imaginou que não passasse da imaginação dele, então ignorou. Dormimos na sala aquela noite, porque os quartos ainda não estavam arrumados.
No meio da madrugada, acordei com uma queimação dentro de mim, o que julguei ser sede. Levantei para beber água, a casa estava um verdadeiro breu. Senti a casa fria, sem mais nem menos. O que era estranho, já que estávamos em fevereiro, em pleno interior do Nordeste. Quando eu estava no corredor, à caminho da cozinha, pude ouvir passos atrás de mim. Me virei, mas não havia ninguém. Quando eu me virei para frente, o caminho se encontrava tomado por uma neblina branca, que assemelhava-se à um véu de noiva. A neblina me acompanhou até que eu voltasse para a cama. Não liguei muito para esse ocorrido, pensei que fosse apenas minha imaginação, afinal, eu estava cambaleando de sono.
No outro dia, amanheci com alguns sintomas de resfriado: espirros, nariz estupido e dor de cabeça. Julguei ser alergia da poeira, mas dias depois eu ainda não havia melhorado. Comecei a ter febre, por sorte não muito alta. Um determinado dia, eu estava com a minha mãe na sala, enquanto ela tecia algo com as agulhas de crochê. Meus irmãos estavam brincando lá fora, mas eu estava muito indisposto, devido ao suposto "resfriado" que peguei em pleno verão. Eu ia havia tomado vários remédios, mas nenhum servia para me curar. Até em benzedeira minha mãe me levou, mas nada servia.
Enquanto eu conversava com ela, por algum motivo que eu não sei, eu olhei diretamente para a porta e estava lá. A noiva, que usava um vestido do século XVI, o vestido estava todo ensaguentado e com buracos no corpete e, a névoa que eu vi no corredor dias antes, acompanhava ela. Eu fiquei perplexo encarando a porta por alguns segundos até que minha mãe me chamou: "Alberto? O que foi? Parece até que viu uma fantasma."
Era justamente o que eu acabara de ver na porta, mas como eu iria explicar à minha mãe, uma católica beata, que eu vi um espírito? No mínimo, seria repreendido. Então respondi que não era nada e fiquei quieto. Naquela noite, fui dormir cedo. A tal gripe me deixava um caco e eu não aguentava ficar acordado por muito tempo. Acordei no meio da madrugada, novamente, como semanas antes e com a bendita queimação, só que mais forte dessa vez. Parecia que eu estava sendo envenenado, tamanha era a queimação que sentia. Eu não conseguia me mexer, e logo vi um homem com roupas pretas, também do século XVI. Ele tinha um semblante de puro ódio. Parecia odiar minha presença. Não o encarei por muito tempo e logo apaguei. Só acordei no dia seguinte com a minha mãe me sacudindo. "Filho, pensei que você estivesse morto! Estou aqui te sacudindo faz um tempão!" Disse ela, em prantos e me abraçando. "Essa noite eu sonhei que tinha um homem tentando te envenenar, mas havia uma moça vestida de noiva protegendo você, impedindo que ele te fizesse mal." Continuou ela, enquanto segurava meu rosto. Eu resolvi contar à ela o que havia acontecido. Incrivelmente, ela acreditou em mim. Afinal, ela também vira os mesmos fantasmas que eu. Mesmo que por sonho. Nas próximas semanas, minha mãe chamou vários padres, até pastores protestantes chamou, na tentativa de livrar a casa dos espíritos. Mas tudo foi em vão. As coisas se acalmavam por um tempo, mas voltavam à acontecer, só que com mais intensidade. O espírito do homem chegou à ferir meu irmão e a empurrar meu pai da escada. Meus pais brigavam muito, e com toda a discórdia espírito do homem, que agora chamávamos de "Barão Maldito", ficava mais forte e violento, enquanto o espírito da noiva ficava mais fraco, com cada vez menos capacidade de nos defender.
Mas um determinado dia, chegamos ao limite: Eu estava sentado na beira do lago que mencionei no início da história, era meu ponto de paz. Mas não por muito tempo. Ouvi passos atrás de mim, olhei para trás e nada. Voltei meu olhar novamente para o lago, e a noiva estava flutuando sobre ele. Ela parecia assustada, e me alertou "Vosmecês devem deixar esse engenho, ele que a morte de vosmecês!" Ela usava um vocabulário antigo, ela nunca havia falando comigo até então. Eu obedeci a mulher, mas antes que eu pudesse me levantar, senti uma mão gelada puxar me pé para debaixo d'água.
Eu clamei pelo nome de Deus mentalmente, até que aquilo deu um urro monsruoso, grotesco e me soltou. Eu nunca corri tanto na minha vida. Minha mãe estava sentada no alpendre, e veio me abraçar. Eu contei à ela o que ocorreu comigo e aquilo foi a gota d'água. Ela não teve outra opção: mesmo relutante, chamou um médium. O médium chegou e nossos pais nos colocaram para o quintal, mas eu fiquei sentado no alpendre, vendo meus irmãos brincarem e ouvindo os adultos conversando. Antes que digam qualquer coisa, eu não sou fofoqueiro, sou curioso. O médium pediu à governanta para que mostrasse o porão recém reformado à ele. Eles ficaram um tempo por lá, e subiram novamente. O médium se sentou na sala e perguntou aos meus pais: "Os trabalhadores encontraram algo estranho no porão durante a reforma, por acaso?" Meu pai arregalou os olhos e disse: "Sim, encontraram uma ossada emparedada no porão. O porão foi restaurado pela primeira vez na história do engenho."
O médium franziu o cenho e respondeu: "É, pois é. O esqueleto era de uma moça chamada Helena de Menezes da Conceição Vaz, ela foi morta à facadas por seu marido na noite de núpcias, ainda com seu vestido de noiva. Ele descobriu os seus planos de fugir com o amante e, num ataque de ciúmes, ceifou a vida da jovem esposa. O marido de Helena, era Pedro de Alencar Vaz, Barão de Vera Cruz, cujo título recebeu diretamente do próprio Filipe II em pessoa. Ele emparedou o corpo de Helena e depois se suicidou bebendo um vidro de veneno. Isso aconteceu em 1586. Pedro quer fazer mal à vocês, mas Helena faz o que pode para impedir que vocês tenham um fim semelhante ao dela. Pedro suga energia dos espíritos dos escravos que morreram no engenho, impedindo-os de se manifestarem, arranha e empurra vocês, leva a saúde física e mental de vocês embora e passa sentimentos ruins à vocês, já que não conseguiu matá-los ainda. Vocês devem deixar esse engenho o mais rápido possível, para o bem de vocês."
Meus pais concordaram e disseram que iriam embora no fim de semana. Bom era o que eles pretendiam, mas isso teria de ser adiantado.
Naquela noite, acordei pingando suor, com um grito de mulher dizendo "ACORDE ALBERTO! AGORA!" Era a voz de Helena, a noiva que há pouco eu descobrira o nome.
A casa estava completamente tomada pelas chamas. Eu escutei meu pai gritando do quintal para que eu pulasse da janela. Eu estava dormindo no andar de baixo, não queria mais dormir no meu quarto no andar de cima, já que o Barão matou a esposa no quarto em que eu dormia, o que foi revelado pelo médium. Eu pulei da janela, mas me esfolei um pouco. Mesmo no andar de baixo, a janela era consideravelmente alta. Assim que me choquei contra o chão, pude ouvir ao longe uma voz gritando "ESSE ENGENHO PERTENCENTE À MIM!" Era a mesma voz que urrou quando clamei por Deus no lago. Enfim, perdemos tudo. Meu pai só conseguiu salvar o nosso dinheiro e mais nada. Voltamos para nossa antiga casa e nos mudamos para a Capital depoi de alguns meses. Como podem ver, continuo vivendo aqui, hehe.

O jovens presentes naquela sala, ao mesmo tempo que pareciam aterrorizados com a história do Sr. Alberto, pareciam deslumbrados.

-Muito bem Sr. Nós gostaríamos de pedir permissão para visitar o engenho. - Disse uma ruivinha que estava no grupo.

-Eu até daria permissão, mas o Barão não há de gostar da presença de vocês...

||Sweet Nightmares||Where stories live. Discover now