𝕮𝖆𝖕í𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖉𝖔𝖎𝖘

166 14 7
                                    

"Capítulo dois
Ou
And she tells her lies"


Raven Queen não sabia como Apple tinha morrido. Não planejava ir a nenhum funeral, e certamente não era assim que ela gostaria de rever uma velha amiga.
Mas assim que chegou a sua cidade natal, ela recebeu uma surpresa.
Ela esperava Apple a recebendo de braços abertos, a enchendo de perguntas ou até socos. E honestamente Raven preferiria eles mil vezes do que encarar sua antiga amiga dentro de um caixão. Foi horrível.
Todos os anos longe da cidade deixaram a mulher acomodada, para ela todos ainda tinham dezessete anos com os nervos à flor da pele para o dia da formatura. Raven olhou à sua volta, sem muito sucesso.
Não tinham mais dezessete anos, afinal.
- Sentiu falta desse lugar? - Madeline Hatter a acompanha na saída do enterro, caminhando junto a ela - Não do cemitério, e sim da cidade. Foi isso que eu quis dizer.
Há alguns anos Raven Queen teria respondido um "Não" sem ao menos questionar. Ela não estava tão certa dessa resposta agora.
- Por mim essa cidade poderia queimar livremente por aí. Não ligo o suficiente para me preocupar em "sentir falta". - Ela diz, encarando os túmulos antigos enquanto caminha. Era mentira, claro, mas não podia deixá-los notar seu arrependimento. (era vergonhoso demais)
Madeline apenas dá de ombros
- Ah, o grande dilema do coração e da mente! Que batalha mais cruel e sangrenta! - Ela diz, suspirando para o chão.
Raven apenas finge que entende e dá uma risada das loucuras da amiga. Algumas coisas estão condenadas a permanecer as mesmas.
- Vou pegar o carro, você pode me esperar?
- Mas Maddie, você nem sabe onde eu estacionei.
- Isso é o mais emocionante, não é? Uma caça ao tesouro! Não usarei nem o controle do carro!
Ela ri enquanto pega a chave
- Não saia daqui. Vou encontrá-lo.
- Pode deixar, eu fico bem.
Outra mentira bem contada. Estava ficando boa nessas.
Raven apenas senta em um banco, observando a bela paisagem do cemitério. Se não fosse tão covarde iria visitar o túmulo de seu pai, mas ela tinha medo, vergonha, e vários outros problemas para lidar para gastar tempo visitando alguém que não está entre os vivos há um bom tempo. Ela sentia falta dele, claro, mas não o deixaria vê-la nesse estado, nunca gostou de decepcionar seu pai.
Enquanto olhava à sua volta, Raven sentiu um arrepio pela espinha. Alguém a estava olhando.
- Sabe, não gosto muito de ser observada... - Disse, sem olhar para trás
O som de sapato tropeçando nas pedras indica que qualquer que fosse a alma que estava atrás dela não estava esperando a surpresa.
- P-Perdão, é que eu... - Dexter Charming diz, com a voz embarganhada em vergonha, fazendo a mulher olhar para trás, mesmo sabendo que iria se arrepender.
Dexter estava com seu terno preto, seu cabelo bagunçado e com a gravata desamarrada em volta do pescoço, e ela se sentiu de volta ao Ensino Médio, quando suspirava no meio das aulas só de olhar para ele.
Algumas coisas nunca mudam, porém outras simplesmente se recusam a ficar as mesmas e, por Deus, como Dexter tinha ficado imensamente bonito. Era quase como se o universo estivesse zombando da cara de Raven Queen.
Seu estômago embrulhou. Não era pra ela ter visto ele. Não estava nos planos.
Merda.
- Só estou esperando Madeline - ela disse, enfim - Não vou ficar aqui por muito tempo...
- Eu achei que você estivesse morta. - Ele diz, a encarando como se fosse uma assombração
- Quem lhe garante que eu não estou? Posso ser de fato um fantasma.
- Eu... é... como...? - o homem não conseguia formar uma simples sentença, era tudo absurdo demais para sua cabeça.
- Você parou de usar óculos - Raven disse - Eu gostava deles.
Ele deu um riso sem graça
- Pois você era a única então.
Ele andou até ela e se sentou, ficando em silêncio por intermináveis segundos.
- Você tem sorte de que Cerise não está por aqui. Ela vai ficar furiosa quando te ver.
A mulher riu
- Que Deus tenha piedade da minha pobre alma quando ela pousar os olhos em mim. Vou precisar de uma ambulância a postos - Ela diz, olhando para os próprios pés.
Mas o plano não é deixar Cerise vê-la. Não é deixar ninguém vê-la.
- Raven... você está...?
- Se eu estou bem? Ah, na medida do possível, é claro. Só descobri que Apple foi morta, o que é um grande choque para mim. Não esperava vir para cá e a ver naquele estado dentro de um caixão... - Ela funga e enxuga algumas lágrimas teimosas que escapam involuntariamente.
E ela sabia que não era isso que Dexter queria perguntar, ele queria a resposta da pergunta que todos estavam fazendo internamente, mas isso ela não queria dar. Não podia dar. E honestamente não faz nenhuma diferença, ela iria sumir de novo dali a algumas horas mesmo.
- Madeline está demorando mais do que o normal - Ela de repente diz, tentando dar uma desculpa para sair dali. - Vou ver o que ela está aprontando. - Para Raven Queen, cemitérios eram agradáveis, até, mas quanto mais ficasse lá, mais as pessoas perguntariam. E ela já tinha arriscado tudo vindo ao funeral.
- Raven, não vá... é... Darling quer que eu te peça algo...
Raven parou de caminhar
- Não quer perguntar enquanto eu vou ver Madeline? Aquela garota dirige igual a uma louca, não podemos nos dar o luxo de deixá-la por muito tempo sozinha.
Dexter, apreensivo, se levantou e seguiu a mulher cemitério acima, medroso demais para perguntar o que queria perguntar. Ele se sentia um adolescente de novo, e não gostava de lembrar a pior fase de sua vida.
- Eu... - Ele abriu a boca, mas quando encarou os orbes púrpura da garota, ele congelou novamente. Como falaria as coisas certas sendo que nem sabia quem ela era de verdade? Ela poderia ter mudado completamente, assim como ele mudou.
E ela tinha mudado.
Se, para melhor ou para pior, isso ele já não sabia.
- Raven, Darling quer que eu te faça uma proposta - Ele começou, tirando a coragem de lugares que ele nem sabia que existia
- E que proposta seria essa, Dexter?- Ela olhou nos olhos dele enquanto dizia seu nome, em um ronronar que deixou o homem com as mãos suando frio.
Era crueldade da parte de Raven, e ela sabia disso, mas não conseguia evitar, como se fosse um mecanismo de defesa. Um mecanismo de defesa terrível.
Mas seria mentira dizer que ela não se deleitou ao ver o rapaz tentando disfarçar as bochechas vermelhas.
- Ela quer que você fique na casa dela, pode ser apenas por uma noite, caso você não se sinta confortável.
Ela o olhou de cima a baixo
- As pessoas vão comentar... - Raven disse enquanto procurava seu carro (ou Madeline) em todo lugar - E olhe, eu tenho algumas coisas urgentes para resolver, não me leve a mal.
Mentirosa, mentirosa, mentirosa.
- Essas coisas não podem esperar? - ele disse, evitando contato visual com a mulher - Raven, você sumiu por cinco anos.
"E você acha que eu não sei disso?" Ela queria dizer. Queria gritar.
Mas, no fim, só disse:
- Onde Madeline se meteu? - Completamente ignorando o moreno, que agora suplicava para os céus enviarem algo que o tirasse de lá. Raven não o culpava, gostaria de se afastar dela mesma às vezes.
Ela andou mais depressa, com medo de algo ter acontecido com sua amiga. Ela certamente não era a pessoa mais confiável para dirigir um carro, e sabe lá Deus qual seria a loucura que ela era capaz de fazer.
Quando Raven estava a ponto de surtar, ela viu sua amiga ao lado do seu carro, com os pneus furados.
- Maddie, o que aconteceu aqui??
Ela levantou as mãos no ar, como se estivesse sendo abordada pela polícia
- Já estava assim quando eu cheguei aqui, eu juro!
Dexter olhou para a situação dos pneus e colocou a mão no queixo
- Eu até me ofereceria para trocar, mas parece que o estepe já foi usado.
Ele olhou para a mulher, esperando uma confirmação
- Tive um problema na estrada - Ela admitiu - Precisei trocá-los, mas eu iria comprar pneus novos amanhã. Merda...
- Acho que o convite de Darling veio a calhar, não é?
Raven olhou para o Charming, sem saber se o batia ou se mandava ele calar a boca
- Ela tem um quarto de visitas?

𝐆𝐨𝐨𝐝𝐧𝐢𝐠𝐡𝐭 𝐒𝐨𝐜𝐢𝐚𝐥𝐢𝐭𝐞 Where stories live. Discover now