Cartas a Vida

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Vacuo da Alma, 27 de maio de 2021

— Para fatídica e tediosa Vida.

       Escrevo está carta à vida.

       Que de todo parece que me odeia e, só posso sentir que é recíproco.

        Gosto da vida, como um artista de seu quadro, limitando a cores e sentimentos para além de sua mente pendurados numa parede para serem admirados e, nada mais.

       Desgosto da vida, por que sou filosófica demais e, quando penso no valor que ela tem, não me satisfaz.

       Eu amo a vida, como uma mãe ama o filho, capaz de morrer por ele e dar tudo que tem.

       Mas como disse no início eu ainda odeio a vida.

       Pois entre as mil razões que procuro nas madrugadas, nenhuma delas me cativa o suficiente para que eu queira estar viva.

       E quando vejo o corpo frio, me parece uma poesia que já não encontro mais no desabrochar de uma flor.

      Entre idas e vindas descobri que não vivo, apenas existo.

      Quando me deixei admitir que desgosto da vida e, parei de buscar ser como os outros que a valorizam tanto pude perceber, nem dor eu senti.

       Me identifico como uma alma vazia, que busca se preencher de tudo que vê, mas sou como uma peneira que nunca os contém

       A dor que busquei dela pareceu me doer mas no fim das contas era apenas meu desejo por sentir, dividi da felicidade dela, mas meus sorrisos saíram forçado pois, não havia nenhuma graça

      Eu me agarrei a paz que a natureza transmitia e busquei pela religião vazia, mas quando me desagarrei meus delírios sumiram e mais livre me senti.

       Veja não é por mal querida vida, tenho apenas algo que não me deixa gostar de você como gostam

       Pensas que quero morrer não é? De todo não é mentira, mas se a morte for mais do que deixar de existir, no fim nao fará diferença.

       Pois enquanto eu existir detestarei qualquer forma de viver.

       Tu me entendes querida vida?

       Sofro do mal chamado Nilismo constante que desde o berço me persegue, não sei se foi pelo sangue que vi tão cedo, ou o trauma tão amargo cativado em meus lábios.

       Mas desde sempre desperdiço meu tempo no sofá e me debruço nas mesmas perguntas.

       Qual a graça de viver?

       Estou cansada desta busca incessante, pois os vejo sorrir mas não compartilho do mesmo, os vejo chorar e não sinto o mesmo.

      Me fez com defeito Vida?

       Me fez especialmente para que pudéssemos nos odiar? Pois estava cansada de ser tão idolatrada?

       De ouvir as lamúrias e no fim ver os mesmos que se diziam deleitar da morte dizerem que amam a ti?

       Me fez para que não pudesse mentir?

       Estou ao ponto de me jogar da sacada, mas de fato não faço, já venho carregando este fardo a 16 anos e nada muda realmente.

       Me afeta que tu me desmereça, estou apenas tentando lhe entender mas tu foges de mim.

       Por acaso é medo?

       Vingança?

      Me sinto num inferno tão grande quanto que Renato russo viveu, entre todas suas músicas que se expressão tristes de alguma maneira.

       Nem este grande poeta foi capaz de lhe suportar e quando adoeceu se deixou ser levado.

       Eu apenas faço mesmo, estou deixando que me leve aonde quer, na esperança de que faça algum sentido.

       Me aproximou tantas vezes da morte, é incrível em como todas elas deu um jeito de fazer alguém me "salvar" está com medo de que vá embora tão cedo?

        Não seja egoísta há 7 bilhões de pessoas no mundo, tinha de ser eu?

       Querida vida, tu me rasgas o peito e me arrasta sobre flores que desconheço a beleza, me fere com tuas agulhas, entenda que apenas não fui feita para ti, ou me mostre logo o que tanto quer.

       Me livre deste tormento que me assola todos os miseráveis dias e me corrói de pouco a pouco com tuas rudes razões que não me cabem.

       Querida vida, odeio e lhe amo e, sinceramente não lhe entendo.

       Posso ver que tem a maestria de me ludibriar com tuas fantasias, porém, seja mais criativa, estou cansada destes mesmos ensaios rasos.

De: Uma admiradora.
Para: A tortuosa Vida.

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