1. Estrela Morta

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Olhando-se no espelho depois de uma noite mal dormida, sua vontade era de chorar.

As olheiras pesadas, os lábios roxos e rachados, os cabelos opacos e o corpo tão magro que os ossos ficavam à vista sob a pele pálida.

Aquela era a visão de alguém que fora largado, de alguém que fora abandonado.
E era verdade, ele estava largado e abandonado.

Desde a "pegadinha" à beira do lago, onde Severus havia perdido sua dignidade e o amor de sua vida tudo estava dando errado.

Quando ainda estava se recuperando enquanto os alunos apontavam para si e falavam em alto e bom som o quanto ele era um ser desprezível, Severus recebeu uma carta do Ministério da Magia.

A princípio, o garoto temeu que fosse alguma convocação para depor sobre os feitiços que ele andou criando sob o pseudônimo de Príncipe Mestiço. Mas, assim que leu, ele descobriu que era muito pior.
Sua mãe havia sido morta.

Sua mãe havia sido morta pelo porco de seu pai.

Naquele momento, Snape queria apenas acabar com a sua vida da maneira mais indolor possível, pois a dor estava sendo insuportável.

Mas ele continuou.

Ele tentou continuar.

O garoto não comia muito, dependendo do alimento ingerido seu estômago se revirava durante horas até que ele vomitasse tudo o que consumiu. E aquele era um ciclo de dias que parecia durar para sempre.

Snape suspirou baixinho e olhou para a pilha de roupas limpas em sua cama. As vestes gastas e desbotadas, com alguns furos que o garoto já tentou remendar diversas vezes sem sucesso, conseguiam esconder pelo menos um pouco de seu corpo deplorável.

A sensação de estar morrendo aos poucos tomou seu peito naquele momento. Severus sentia que não duraria muito tempo se continuasse maltratando seu corpo daquela maneira.

Contudo, ele não via motivos para mudar.

Ele não via algo que valida a pena mudar.

Ele não via esperança de um futuro melhor.

{...}

No dormitório da Grifinória, porém, a situação era diferente. Enquanto Remus lia um livro sobre transfiguração e Peter quebrava a cabeça com seu dever se Aritmancia, James Potter e Sirius Black estavam disputando para ver quem iria usar o secador de cabelo primeiro.

- Sai daqui. - James grunhiu - Seu ninho de carrapatos!

- AHHHHHHH, olha só quem fala! - Sirius rebateu tentando dar uma cotovelada nas costelas do amigos - Já poliu os chifres, Prongs?!

O Potter rosnou e se lançou sobre Sirius no chão, os dois estavam rolando e lançando as mais criativas ofensas quando um par de mãos agarraram a gola da camisa deles e os levantou com uma força desproporcional.

- Querem parar? - a voz de Remus soou tão ameaçadoramente baixa que os dois desistiram de secar os cabelos com o aparelho e usaram suas toalhas.

O resto da manhã de sábado passou tranquila, James e Sirius ainda se afrontam silenciosamente mas não queriam incitar a fúria do amigo loiro.

Quando as 11 horas chegaram, os quatro marotos caminharam despreocupadamente pelos corredores em direção as carruagens que levariam os alunos ao vilarejo de Hogsmeade.

Vez ou outra eles eram parados pelos alunos os parabenizando por alguma pegadinha, a maioria elogiando o jeito como eles enfrentaram Snape nos jardins.

Já nas carruagens, James e Sirius revezavam o pomo de ouro em suas mãos, lançando-o no ar e o pegando rapidamente, divertindo-se com a maneira como o objeto parecia desesperado para fugir de suas mãos.

- Ah... olha só - a voz de Sirius ecoou pelo local - O Ranhoso.

De fato, Snape estava descendo de uma carruagem junto de alguns alunos da Sonserina, mas estes logo se afastaram em um grande grupinho, deixando o garoto cabisbaixo sozinho.

- Não começem... - Remus disse num tom de aviso.

- Eu cuido dele - James disse pegando sua capa e jogando-a sobre os ombros, rindo ao ver as expressões reprovadoras de Peter e Remus - Eu vou apenas me divertir. - E, sem esperar uma resposta, ele pulou para fora.

Severus caminhava com a cabeça baixa para fora do vilarejo, havia um local distante e escuro onde ele gostava de ficar, sozinho apenas com seus pensamentos.

O garoto finalmente chegou à caverna e pegou seu livro "Estudos Avançados no Preparo de Poções", que havia sido comprado no início do ano, mesmo que ele só fosse usar no ano seguinte.

Com uma caneta em mãos, ele passou a fazer anotações das coisas que havia aprendido naquela semana, além de ideias para usar nas poções que fosse preparar.

James seguiu o garoto silenciosamente debaixo de sua capa. Ele ficou impressionado com a descoberta daquela caverna, fazendo uma anotação mental para adicionar aquele lugar ao Mapa do Maroto.

Depois de alguns minutos vendo o sonserino tão concentrado em seu livro de longe, ele decidiu entrar a passos lentos para que ele não percebesse sua presença. Sentando-se à frente do garoto, ele passou a prestar mais atenção nos detalhes do rosto.

As olheiras roxas, os lábios levemente azulados por conta do frio que fazia ali e a expressão cansada no rosto.

De fato, Snape não era uma pessoa atraente, mas James ficou estranhamente interessado nele. O apanhador queria saber o que havia levado o garoto àquele estado, já que todos os alunos da Sonserina pareciam bem nutridos.

Os dois foram interrompidos de seus pensamentos por um zumbido vindo do bolso de James, o maldito pomo de ouro roubado.

O coração de Severus disparou e ele se levantou de supetão, apontando a varinha para o nada com medo de ter uma companhia indesejada.

- Q-quem está aí...? - ele perguntou com a voz trêmula, pronto para lançar um feitiço - H-homenum Revel-

- Expelliarmus! - James foi mais rápido e desarmou Severus. Ele ainda estava nervoso pela ação repentina, mas colocou sua melhor máscara de deboche e jogou a capa no chão - Ranhoso, que surpresa agradável...

Snape engoliu em seco e deu alguns passos para trás, o Potter não conseguia acreditar que ele podia ter ficado ainda mais pálido pelo susto.

- Como me achou, Potter?

- Eu segui o rastro de ranho que você deixou - um sorriso cruel brotou em seus lábios e ele se aproximou do mais novo - Dá pra criar um mapa de Londres só com ele.

Assim que conseguiu encurralar o garoto na parede, ele capturou um cheiro diferente, que nunca havia sentido antes. Parecia uma mistura doce de ervas, como se o garoto tivesse passado horas em uma plantação de um excelente pocionista. O grifinório precisou se controlar para não fechar os olhos e aproveitar o aroma.

- Por que não me deixa em paz, Potter? - Severus perguntou rispidamente - Faz anos que você faz de tudo para deixar minha vida pior do que já é.

- Simples - o sorriso do garoto aumentou - Isso nunca perde a graça.

Spoiler:

Depois de alguns minutos de caminhada os portões de Hogwarts estavam abertos, lá estavam os professores Dumbledore e Minerva, além de Filch.

- Mas o quê...? - James sussurrou confuso, mas foi puxado para trás de uma parede.

- Não disse? Eles sentiram falta do príncipe da grifinória.

Mrs. Potato Head - SnamesOnde histórias criam vida. Descubra agora