IV. they say he walks the length of the city

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{they say he walks the length of the city}

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"his hair has gone grey, he passes every day

they say he walks the length of the city

you knock me out, I fall apart

can you imagine?"

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O homem não se lembrava de já ter estado naquela parte da cidade. Mesmo em seus quase 50 anos, ainda se pegava sendo surpreendido pelo lugar no qual nascera e onde vivera toda sua vida. Talvez devesse estar preocupado. Era tarde da noite, afinal, e estava sozinho em uma rua desconhecida. Ainda assim, achava que sua varinha e sua magia seriam suficientes naquela região tão absurdamente trouxa. Em outro momento, ele teria ficado feliz em conhecer tal vizinhança, agora, porém, Arthur Weasley não conseguia encontrar muitos motivos para felicidade. Supunha que isso o tornava um tanto ingrato, considerando que todos aqueles trouxas estavam finalmente seguros e que, em seu próprio mundo mágico, a paz finalmente reinava. Eram coisas boas, o ruivo sabia. Só não pareciam o suficiente para compensar o preço cobrado pela vitória. Para compensar a morte de um filho.

Arthur sempre fora um homem sentimental e nunca se envergonhara disso. Chorar nunca lhe parecera uma fraqueza, apenas uma demonstração de sua humanidade. No entanto, naquele momento, lhe parecia errado acrescentar suas lágrimas ao oceano que vazava incessantemente pelos olhos de Molly. Ele queria ser firme por sua esposa e, por isso, segurava seu pranto até que ela finalmente adormecesse. O medo de ser descoberto, contudo, fazia com que desabar em casa não lhe soasse como uma opção. Então, vagava para longe d' A Toca. Caminhando com nenhuma companhia, além de seu choro e suas memórias, por horas.

Ainda assim, suas expedições noturnas, sempre lhe rendiam descobertas interessantes. Talvez essa fosse a pior parte. Porque Arthur se pegava pensando em mostrar a Fred cada pequeno detalhe que encontrava em seu percurso. De todos os seus filhos, o rapaz sempre fora o mais entusiasmado com as excentricidades do pai. Bill e Charlie haviam se mudado há alguns anos e, mesmo antes disso, eram responsáveis demais. Percy expressava constantemente seu descontentamento perante aos interesses e experimentos do patriarca. Ron e Ginny eram muito jovens. Os gêmeos, por sua vez, costumavam cercar Arthur, interessados por tudo o que ele fazia. Fred sempre fora o mais curioso da dupla. George era o mais criativo, aquele que tendia a ter as ideias mirabolantes. Fred era o engenheiro, aquele que buscava formas de colocá-las em prática. Que se fascinava pelo funcionamento de tudo e todas as coisas. Era um pouco com Arthur nesse ponto, apenas mais ousado e destemido. Com mais juventude e talento e menos inibição. Com menos tempo também. E era essa a grande perversidade de toda aquela história, não é?

Porque cada vez que Arthur Weasley andava pelas ruas da cidade, com seus quase 50 anos e seus cabelos cada vez mais grisalhos, e se pegava espantando com uma novidade ou alguma descoberta, ele sentia seu coração partir. Se sentia dilacerar por todas as coisas que seu Fred, tão curioso e inventivo, nunca iria descobrir, nunca iria produzir, nunca iria conhecer. Por todas as coisas que seu menino jamais teria a oportunidade de viver. Fred tinha somente 20 anos. Não era mais que uma criança. E uma vida inteira lhe fora roubada. Por isso, acima de qualquer outra coisa, seu pai chorava. Seu pai sempre choraria. 

It's Quiet UptownWhere stories live. Discover now