V. i know who i married

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{i know who i married}

.

.

"but I'm not afraid

i know who i married

just let me stay here by your side

that would be enough"

.

.

Havia uma brisa fresca, misturada ao cheiro de maresia, soprando suavemente os longos cabelos ruivos do rapaz. Ele mantinha os olhos fechados e os pés descalços na areia, tão exausto que não sabia como ainda permanecia em pé. Tão exausto que sequer percebeu a figura loira que se aproximava até sentir os braços delicados da esposa o envolvendo. Fleur não disse nada, mas não precisava dizer. Conhecia o marido o suficiente para saber que a última coisa que ele gostaria de fazer naquele momento era conversar.

Bill Weasley havia conversado o dia inteiro. A semana inteira. O mês inteiro. Não fizera nada nos últimos tempos além de oferecer palavras e coletá-las de volta, as examinando com cuidado, procurando significados ocultos, mensagens distorcidas, perigos à espreita. Sempre fora uma pessoa comunicativa e que entendia que diálogo abria portas. Fora assim que se tornara popular em Hogwarts, fizera amizades na América do Sul, conseguira um emprego no Egito, ganhara respeito no Gringotes e conquistara Fleur Delacour. No entanto, aquela habilidade parecia estar finalmente lhe falhando. O decepcionando no instante em que mais precisava dela. Porque todas as suas palavras pareciam vazias, falsas e sem sentido.

Como poderia prometer que tudo ficaria bem? Como poderia oferecer consolo? Como poderia fazer elogios à memória de Fred? Como fazer tudo isso, quando sequer acreditava em si mesmo? Suas palavras soavam erradas aos seus próprios ouvidos. E, ainda assim, ele continuava falando e continuava forçando sua família a falar. Palavras, afinal, eram tudo o que tinha a oferecer. Tudo o que havia lhe sobrado. Eram também o único modo de entender o que se passava pelo coração dos Weasley, de saber como se fazer útil, de antecipar crises, de ajudar.

Então, Bill apenas continuava indo diariamente até A'Toca, checando os pais e irmãos. Garantindo que estivessem bem, tentando lhes fornecer algum alívio, ouvindo sobre suas dores e dificuldades, os obrigando a comer, sair da cama e tomar um pouco de sol. Sendo um ombro para que chorassem, um ouvido para escutar seus lamentos, uma companhia para evitar que ficassem sozinhos. Era o que ele tinha que fazer. Era seu dever como filho mais velho. O primogênito. Aquele que deveria cuidar dos caçulas.

Bill já havia falhado em sua missão uma vez, sendo incapaz de proteger Fred, deixando que seu irmãozinho padecesse. Não estava disposto a falhar novamente. Não achava que suportaria falhar novamente. Sendo assim, ele apenas continuava a cuidar de todos ao seu redor. A fazer o melhor que podia para apoiá-los, enquanto desmoronavam. O rapaz julgara que ficaria mais fácil com o tempo, porém, havia se enganado. Cada dia era pior que o anterior. Porque Bill também estava destroçado. Também havia perdido alguém que amava. Também sentia o luto corroendo seus ossos, seu sangue, seu coração. Também era assolado por uma dor – quase física – que lhe roubava o fôlego, o sono, os sonhos. Estava em frangalhos, mas não podia desmoronar. Por que se desmoronasse, quem estaria ali para juntar os cacos de sua família?

Sentindo o abraço de Fleur, contudo, o Weasley permitiu que seus joelhos cedessem. Permitiu que o pranto lhe escapasse pela garganta. Se permitiu quebrar. Chorou, pelo que pareceram horas, nos braços da esposa, finalmente livre para sentir seu próprio pesar. Finalmente livre para ser egoísta e não se preocupar com mais ninguém. Finalmente livre para ser apenas um rapaz destruído pela morte do irmão, e não mais o estoico filho mais velho. Fleur não tentou lhe oferecer consolos mentirosos ou palavras gentis, era sincera demais para algo assim. Não tentou nem mesmo iniciar qualquer diálogo. Apenas o abraçou. Apenas ficou ao seu lado. Apenas o deixou sentir.

— Eu estou com você, Bill. Eu sempre vou estar com você. — ela sussurrou com carinho, enquanto seus dedos delicados corriam pelos longos cabelos do marido.

E aquilo era tudo o que ele precisava. Porque Fleur era a única pessoa com quem se permitia ser vulnerável. A única que poderia ajudá-lo a se manter de pé naquele momento. A única que poderia segurá-lo, enquanto ele desabava. Aquela que o apoiava, enquanto ele fornecia suporte para o resto do mundo. Fleur era sua âncora. Seu porto seguro. Contanto que ela estivesse ao seu lado, Bill sabia que tudo ficaria bem. E isso era suficiente. 

It's Quiet UptownWhere stories live. Discover now