O amor é de todas as cores

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A minha vida não era clichê, pelo contrário, era desastrosa, mas estava feliz com ela.

Quando completei 17 anos eu me assumi para meus pais. Bissexual. Meu pai não aceitou muito bem, ele achava que estava confuso e que era coisa da idade, que estava sendo influenciado por amigos, internet, e por um tempo até mesmo pelo diabo. Minha mãe aceitou muito bem, talvez se eu fosse uma garota em sua frente, dizendo o mesmo, ela tivesse surtado, afinal,  pais colocam muita pressão em cima dos filhos, se é uma garota, a mãe espera que seja meiga, goste de maquiagem e garotos. E que não seja livre, é claro, porque a sociedade não gosta de mulheres com liberdade e opinião. Se são meninos, todo mundo espera que goste de futebol, jogos e festas. E de mulheres. Mas somos seres individuais, e no fundo temos nossas próprias regras, e está tudo bem.

Me assumir não foi fácil. Libertar-me dos medos e amarras que seguravam-me dentro de mim mesmo também não, eu tinha receio pelo que iria passar, dos olhares e julgamentos que iria receber e tudo isso me reprimia, até encontrar Angelo. O ser mais lindo que já tinha posto os meus olhos.

Ele era doce, inteligente e tudo que esperava encontrar em alguém. E ajudou-me em tudo, a não me calar, não abaixar a cabeça. Angelo me ensinou que fazer isso era dar brecha para mais preconceito e mais xingamentos, mas ele também me ensinou a ter orgulho de mim mesmo. Da coragem que tive durante aqueles anos, de ser eu, apesar das amarras. Ele era perfeito. E me apaixonei por ele loucamente.

Algum tempo depois, no seu aniversário, ele simplesmente me pediu em namoro, e disse, em suas palavras: "Pedir-te em namoro será meu presente pra mim mesmo, mesmo que me diga não". Mas é claro que aceitei, eu o amava, talvez, muito mais que a mim.

Nesse tempo minha relação com meu pai ainda era aceitável, não tínhamos o mesmo contato que antes, mas continuávamos a nos respeitar, acredito que no fundo ele ainda pudesse ter esperanças que tudo fosse uma fase, mas não, era e sou eu, da forma mais pura e crua, sem máscaras. Depois que iniciei meu relaciomento com Angelo ele parou de falar comigo, minha olhava com desprezo e dizia não ter filho, ele me quebrou de uma forma inexplicável, sua rejeição era a pior dor que senti na vida, e uma ferida que nunca irá cicatrizar. Ele era meu herói, que com o tempo virou vilão. Eu sai de casa pouco tempo depois.

Hoje, quatro anos depois, me sinto realizado apesar de tudo. Ainda tenho contato com minha mãe, que me dá apoio e carinho em dobro, tenho do meu lado o amor da minha vida e consigo viver de forma leve, liberto.

Nesse momento estou com Angelo, estamos sentados no sofá da sala de nossa casa, com taças de vinho na mão, nos dias dos namorados, aconchegados e apenas aproveitando a presença um do outro, como em todos os outros anos. Esse era nosso ritual. Mas porque não fazer a coisa mais clichê de todas?! Ter um pouco de conto de fadas na vida nunca é ruim. Então eu fiz o meu desejo mais profundo.

Enfio a mão no bolso e tiro de lá uma caixinha de veludo preto, antes de ajoelhar-me e dizer:

— Aceita se casar comigo, meu anjo?

Por: Stefani Soares

Contos para se apaixonar: porque amar é inevitávelWhere stories live. Discover now