Nas curvas do seu olhar

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  Emilly

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Emilly


Era simplesmente um dia perfeito. Da janela do meu quarto eu pude encarar o céu. Azul e limpo, poucas nuvens, vento tranquilo, o sol maravilhoso para um passeio. A grama verde no quintal e flores coloridas faziam a decoração natural. Tudo lindo e maravilhoso. Estava sentada na minha escrivaninha, perto da janela de meu quarto cuja posição vai de encontro à janela vizinha. Meus fones no ouvido. Ouvia-se Depois da Chuva — Rebelde Brasil, voz de Arthur Aguiar. O dia tão lindo, tão cute.

Meus materiais de desenho eram simples, porém de bom coração, pois foi minha mãe quem os dera a mim, — estavam ali na parte de cima. Lápis coloridos de diversos tamanhos, já gastos devido ao tempo de uso e pelo abuso exagerado do apontador. Borrachas, lapiseiras e diversos outros materiais, inclusive meu caderno de desenho que estava ali davam charme à mesa.

Faltava um último toque. Um último detalhe e meu desenho ficaria lindo e maravilhoso. Claro, era o modelo perfeito daquilo que eu queria para minha vida. Era um garoto. Tudo bem. Eu não deveria desenhá-lo. Eu nunca sequer o veria, talvez.

Mas eu desenhava na fé de que um dia o veria. Olhos castanhos, cabelos pretos lisos. Um modelo perfeito de um badboy. Tímido, mas gato e popular. Não deveria pensar nessa última possibilidade. Mas vamos pôr um pingo no "i" aí. Quando a gente sonha, alcança. 

Então...

Desenhava não apenas para distrair-me. A mim e ao tempo. Desenhava porque achava que poderia expor minha imaginação e o que eu desejava para mim através deles. Só por isso. Meu garoto desenhado usava uma camiseta branca enorme. Calça boyfriend preta, tênis branco. E era muito lindo, muito encantado. Tinha um sorriso lindo e... Ah! Eu não deveria querer tirar esse "garoto perfeito" do papel. 

Não daria certo isto. Por quê? Porque os meninos da minha escola não são. E o pior é que nunca olham para mim.

Vejamos. Quem olharia para mim? Nerd, magra, muito magra. Sério. Parecia um esqueleto. Meu pescoço era muito fino e minha cabeça, redonda. Sabe aqueles desenhos de garotas? Elas sempre ficam magricelas, não? Então. Meus olhos eram enormes, minha boca pequena e rosada. Tinha sardas em todo meu rosto e isso era horrível. Meus olhos pretos e meu cabelo liso, curto, redondo e parecendo um ninho, com franja, ainda por cima. O pior era usar óculos. Redondos e pretos. Horríveis.

Usava meias que davam um palmo do sapato preto, elas eram azuis com listras. Vestia saia, que era obrigatório do fardamento escolar como também a farda propriamente dita e, por fim, um moletom aberto que me esquentava nos dias frios e me fazia quase morrer nos dias quentes. Se bem que, para este último, era meio estranho. Mas, convenhamos dizer, era o que me fazia sentir bem e nada queria mudar nisso.

E nem iria.

— Filha!

Nesse momento estava terminando de puxar alguns fios de cabelo do garoto no papel, quando minha mãe aparece na porta do meu quarto me chamando. Ergo meu olhar para ela, que está com um pano de prato nos ombros. Ela usa um vestido vermelho e um avental branco. Também usa pantufas. Mamãe ama cozinhar, por isso isto tudo.

Contos para se apaixonar: porque amar é inevitávelWhere stories live. Discover now