XVI. A Escolha de Palavras

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A resposta simples e direta de Idris causou uma sensação estranha em Kieran. Talvez, em algum lugar da sua mente, ele estivesse esperando por uma resposta completamente diferente e mais direta também. Talvez estivesse desapontado com as palavras, e até teria deixado o assunto de lado para continuar o que tinham começado na biblioteca, mas o interesse no assunto foi maior.

– Então você não liga? Nem um pouquinho? Eu posso sair por aí flertando com todos os caras do castelo e dos outros reinos e você não vai se importar? – a reação foi tamanha que ele até deixou os fios de cabelo dourados deslizarem entre os dedos para voltar a apoiar as duas mãos na mesa atrás de si. Naquele momento, Kieran não soube exatamente o que interpretar da expressão quase impassível do regente.

– Você pode fazer o que quiser, eu não o trouxe como um escravo, Kieran. – o tom sério fez com que um calafrio perpassasse a nuca do ladrão, mas ainda assim, havia um quê de decepção de quem queria uma resposta mais consistente.

– Bom, eu não tenho muito jeito para escravo, você sabe que eu sou desobediente. – respondeu Kieran, tentado a tirar alguma reação a mais de Idris. Ele se inclinou um pouco para trás e deu de ombros. – Mas já que você não se importa, até facilita minhas redes de contatos nas minhas próximas jornadas. Sabe, o melhor jeito de conseguir informações é no sex-

A reação de Idris ao se levantar de súbito foi suficiente para cortar a conversa de Kieran, que sentiu a mão dele com um pouco mais de firmeza em sua cintura. Naquela curta distância, o rei se colocou bem diante dele, unindo o corpo ao do ladrão e encarando-o de perto. A expressão de Idris ainda era tão indecifrável quanto antes, mas Kieran podia quase sentir aquela intensidade no olhar de quando o regente estava prestes a lhe atacar nas suas antigas empreitadas ao castelo.

Um sorriso vitorioso surgiu nos lábios do ladino e ele inclinou o rosto até os lábios quase roçarem aos de Idris.

– Ora, ora, essa não parece-

– Você quer que eu me importe? – a pergunta pontual do rei fez com que, mais uma vez, Kieran perdesse a linha de raciocínio. Entre encarar o belo rosto de perto, sentir a intensidade do olhar e agora ouvir as palavras firmes, Kieran ficou inesperadamente sem reação.

Ele só saiu do momento de inércia quando notou o movimento das duas mãos de Idris buscando o apoio também na mesa à qual estava encostado, um braço de cada lado do seu corpo, a expressão do regente suavizando até aproximar os lábios e roçar aos seus, quentes, ansiosos. Idris não concretizou o beijo, mas pressionou o corpo todo contra o de Kieran e roçou a face à dele, os lábios perigosamente próximos do ouvido do ladrão.

Eu nunca disse que não me importava.

O comentário do regente, unido a proximidade pontual, fizeram com que Kieran demorasse alguns segundos a processar toda a linha de informação.

Você disse que não mente, não disse? – Kieran inclinou o corpo para trás apenas o suficiente para encarar Idris de novo com um ar mais desafiador, certo de que tinha encontrado ali a falha na moral do regente. E se o ladrão tinha sido responsável por aquela falha, era algo pelo que se vangloriar, por isso mostrou um sorriso vitorioso para ele de novo. – Então como assim "nunca disse que não se importava", se suas palavras para o general foram exatamente "não importa como..."

Daquela vez, Kieran deteve a linha de pensamento sozinho, surpreso com como ele mesmo tinha sido pego no jogo de palavras. Ele podia não interpretar totalmente a expressão de Idris, mas quase podia sentir a satisfação do olhar dele no seu.

O Ladrão dos 13 Corações [Parte II]Where stories live. Discover now