Resistência

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Domingo

Ponto de vista de Harumi Oshiro

Acordei cedo hoje para preparar o almoço. Mina chegaria daqui a pouco para ajudar. Era motivo de felicidade a volta de Iori. Ainda mais porque Mina e Kenta se opuseram a que ele se mudasse de cidade.

Mas Iori, por conta da pressão de seus pais para que encontrasse um boa esposa japonesa, optou por se mudar e ter mais liberdade, sem precisar entrar em conflito com seus pais. Isso fora há 4 anos. Sua volta significa novamente pressão por parte de seus pais. Mas desta vez, Kenta e Mina terão um enorme choque.

Daichi também foi muito pressionado por nós. Nós achávamos que Kimiko era a melhor opção, mas ele sempre conseguiu fugir do compromisso. Kenichi ainda acha que Kimiko é a melhor opção, mas eu tenho sérias dúvidas já há alguns anos. Além de Kimiko ser uma mulher mimada e egoísta, ela não se importaria com Daichi como ele merece.

Meus filhos e meus sobrinhos precisam seguir seus próprios caminhos e serem felizes. Já basta Akira, que aparentemente perdeu sua chance nesta vida. E eu não posso dizer que a culpa é somente de Kenta. Mina também foi responsável por fazer Akira infeliz. Mesmo eu tendo tentado conversar com Mina várias vezes, ela se mostrou irredutível, dizendo que ninguém pode ser feliz indo contra os desejos de sua família. Mina é minha irmã mais velha e aprendeu muito com meus pais. Ela teve sorte, pois Kenta é seu destino e ela nunca precisou fazer nada que provocasse conflito.

Eu me sinto uma traidora, mas uma traidora com motivos nobres, fortes e válidos. Eu não fui agraciada com uma alma gêmea nesta vida. Eu sei que tenho um marido dedicado e fiel. Mas Kenichi fala dormindo e em várias ocasiões chamava por Lúcia. Me dói saber que ele teve que abrir mão do amor duas vezes: primeiro o de seu irmão, que era seu melhor amigo, depois o de Lúcia, para cumprir seus deveres de filho e se casar com uma mulher como eu, que também está presa às tradições. Mas diferente de Kenichi, eu estou me libertando.

De meus três filhos, o mais aberto é Daichi. Ele nunca se furtou de ser quem é, e de dizer o que pensa e sente. Contraditoriamente, ele também sempre foi o que nunca nos enfrentou, até sexta, quando confrontado por Kenichi. Ichiro também preferia não entrar em disputas conosco, mas era muito cuidadoso e jamais deixava vazar nenhuma informação sobre sua vida pessoal. Já Kazumi teve uma enorme briga conosco e, logo depois, se mudou para o exterior. De que adianta ter filhos, se não os aceitamos como eles são e os afastamos com pensamentos retógrados?

Desde a mudança de Kazumi, eu tenho me perguntado para onde estamos indo com nossa intolerância. Eu não quero perder Daichi também. Eu preciso falar com Mina e pedir que eles pelo menos sejam cortêses com Arthur e Júlia. Pois é, agora Iori encontrou seu destino.

Eu sei por causa de Seiji. Ele é meu sobrinho mais próximo, desde que era pequeno. Infelizmente, por causa do preconceito de seus pais, ele até agora foi incapaz de se assumir gay para eles. Eu me sentei para conversar com ele sobre isso, há alguns anos. E depois que ele se abriu comigo, passamos a  ter ainda mais intimidade e companheirismo. Nem mesmo Kenichi sabe sobre isso, senão já teria falado para Kenta e o escândalo estaria armado.

Há seis meses atrás, Seiji acreditou que havia encontrado o amor, apenas para ser traído e usado por um sujeito sem escrúpulos. Seiji não me contou quem era, mas disse que o sujeito havia feito isso com várias pessoas antes, como ele ficou sabendo depois. Ele ficou tão triste e deprimido! Seiji estava convencido de que não econtraria o amor. Uma alma apaixonada como a dele não merecia sofrer dessa maneira.

- Bom dia, Harumi. - Meus pensamentos são interrompidos pela voz de Kenichi.

- Bom dia, marido. Dormiu bem?

Combustão (Livro 3 da Série Akai ito)Where stories live. Discover now