comunidade alfa babaca

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Pov Gwyn

Nós tínhamos acabado de chegar a biblioteca quando eu tive uma ideia.

Gwyn: vem comigo.

E sai puxando Azriel enquanto praticamente saltitava a frente dele.
Dobrando vários corredores aqui e ali finalmente chegamos a um canto tão remoto da biblioteca que nem era mais utilizado.
Acima de nós havia uma rocha cristalizada, formando basicamente uma clarabóia no meio da montanha.
Silenciosamente pedi a Casa duas almofadas gigantes bem abaixo da luz, e me joguei nela, absolutamente exuasta.
Az caiu na dele também.

Gwyn: por anos eu usei isso aqui pra me lembrar como era a luz do sol.

Azriel: só você sabe?

Gwyn: todo mundo é meio egoísta as vezes. Cara, eu estou acabada.

Meu rosto estava inclinado pra trás, aproveitando o calor ameno.

Azriel: não estou muito melhor.

Um risada anasalada escapou de mim.

Gwyn: mas vai se recuperar bem mais rápido. Quer comer alguma coisa?

Azriel: pelos Deuses, não.

Ri de novo.
Minha barriga já estava doendo.
Um copo surgiu na minha mão, com um delicioso chá quentinho, estiquei a mão pra ele.

Gwyn: isso vai ajudar - ele pegou - e dormir por umas três semanas também.

Uma risadinha baixa escapou dele.

Azriel: que tal três horas?

Gwyn: fechado.

Esperei que ele terminasse o chá, e então nós dois caímos no sono quase que imediatamente, cansados demais pra se quer respirar direito.

Quando acordei flaguei Azriel terminando o terceiro livro.
Ainda meio abobada pelo sono, com o rosto meio enterrado na almofada, comprometendo a minha dicção perguntei

Gwyn: em qual parte você está?

Azriel: quando ela aceita que todos aqueles que ela acredita ter deixado morrer, chicoteiem ela.

Ele parecia um pouco perturbado com aquilo, as sombrancelhas franjizadas e o rosto tenso.

Gwyn: lê pra mim.

Achei que ia ouvir um sonoro não, talvez uma risada de deboche.
Mas Azriel começou a ler.
E eu fechei os olhos pra aproveitar a voz dele deslizando pela minha história favorita.

Azriel: ainda não entendo. - ele disse algum tempo depois.

Gwyn: ela aceitou a dor deles, e se ergueu sobre ela. Por anos, ela se culpou, porque acreditava não ter sido o bastante pra nenhum deles, quando eles batem nela, ela aceita a dor de cada um. Acolhe cada um. Mas não se submete. Ela triunfa.

Eu ainda estava meio enterrada na almofada, mas agora olhava fixamente pra ele, que precisou de um momento pra assimilar aquilo.
Por fim, ele sorriu, como se entendesse completamente, na alma.

Gwyn: precisamos de um banho.

Azriel: com certeza.

Me forcei a fazer uma cara de mágoa.

Gwyn: isso não foi muito educado.

Az me olhou meio exasperado.

Azriel: eu estava falando de mim!

Gargalhei alto.
Finalmente me despregando da almofada e levantando.

Gwyn: o que eu disse sobre se preocupar demais? E além disso, depois hoje acho que ganhamos o direito de fazer piadas um com o outro. - estiquei a mão pra ele, para ajuda -lo a levantar - Afinal eu vi o Grande Azriel vomitando as tripas.

Eu já ia me soltando e seguindo em frente, quando ele apertou um pouco mais forte.
Me virei, encontrando um olhar ameaçador na minha direção.

Azriel: acredito que você saiba guardar segredos.

Ele estava me ameaçando.
Mas tinha um tom de brincadeira em sua voz e em seu olhar.

Gwyn: quem sabe?

------------ quebra de tempo

Acabei me mudando pro quarto ao lado do dele, porque era mais conveniente.
Porém, não ia durar muito se aquela porcaria de chuveiro não esquentasse.
Já tinha perdido a calma e esmurrava aquela coisa imprestável.
Uma voz grossa e rouca soou na porta atrás de mim.

Azriel: precisa de ajuda?

Gwyn: você tem o costume de invadir quartos de damas?

Azriel: uma dama não chuta como você.

Hm. Ele tinha um ponto.
Abri a porta, eu ainda estava com o couro de combate.

Gwyn: consegue fazer essa coisa funcionar?

Azriel: não.

Gwyn: mas então o que diabos você ta faz-

Azriel: posso esquentar o banheiro, vai dar quase na mesma coisa.

Ele disse com ar de macho alfa superior que me deu nos nervos.
Fechando a cara, bati a porta na cara dele.
Ouvi um resmungo e o som dele se sentando ao lado da porta.
Tirei o couro de combate ligando o chuveiro e tudo ficou quentinho perto de mim. Que delícia.
Pude finalmente relaxar os músculos.

Gwyn: algum dia vou ouvir você cantar?

Azriel: não nessa vida.

No Solstício de Inverno eu o tinha feito admitir que cantava pras suas sombras.
Ele pareceu um pouco irritado com a pergunta.

Gwyn: alguém já viu?

Azriel: talvez a minha mãe.

E ali estava um assunto ao qual evitar.
Eu não sabia muito, Nestha as vezes deixava escapar algumas coisas, mas sabia o suficiente pra saber que não devia perguntar.
Fiz um caixa de lenços aparecer ao lado dele, soube que deu certo quando ele riu.
Riu de verdade.

Azriel: achei que ia fazer desabafar, abrir o coração e chorar ou coisa assim.

Gwyn: você chora?

Azriel: Gwyn, por favor.

Gwyn: desculpe, não sei quais são as regras da comunidade alfa babaca.

Ele riu de novo.
Eu estava amando provocar aquele som.

Gwyn: ta legal, vamos ver se você é mesmo durão. Já teve algum bichinho de estimação?

Azriel: um morcego.

Gwyn: oi?!

Azriel: você que perguntou, e se quer saber ele era um ótimo companheiro.

Gwyn: já foi pego chorando alguma vez?

Azriel: que tipo de pergunta é essa?

Gwyn: responda.

Azriel: uma vez.

Gwyn: quando?

Azriel: quando tinha treze anos e perdi a primeira guerra de bolas de neve.

Quase escorreguei e cai de cara no chão com a risada que explodiu de mim.

Gwyn: alguém aqui não gosta de perder.

Azriel: odeio, por isso sou o campeão atualmente.

Gwyn: quer um troféu?

Ele resmungou de novo, acho que estava me xingando.

Gwyn: Az?

Azriel: hm?

Gwyn: porque estamos conversando assim agora?

Por mais que fosse ótimo, realmente maravilhoso, eu não conseguia entender direito a mudança.

Azriel: acho que tem haver com enfiar os punhos na cara um do outro, só pude ser assim com Cassian e Rhys depois de quase nos matarmos no ringue.

Gwyn: então estou no mesmo patamar de Cassian e Rhys? - eu lavava meu cabelo agora.

Azriel: claro que não.

O tom era uma alfinetada divertida.
Mas eu fiquei muito feliz com a resposta.

Corte de Sombras e Sons (concluída)Место, где живут истории. Откройте их для себя