o que ela despertou

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Pov Azriel

Azriel: calem a boca vocês dois! Eu tenho mais pra contar do que o que houve na praia!

Cassian: mais?! Como é que pode haver mais?!

Tinha acabado o relato do que aconteceu na enseada aquela noite, e os gritos de excitação dos meus irmãos, as piadas e as batidas nos meus ombros estavam começando a me irritar agora.
Mas lá no fundo, eu estava um pouquinho convencido, só um pouquinho.

Azriel: sim, Catrin tinha razão, nas duas coisas, Gwyn consegue ser mais territorialista que qualquer macho illyriano. E eu infelizmente não me sai muito melhor, por isso ficamos duas semanas e meia só aqui. E nossa primeira ida a cidade não foi hoje, foi a três dias. Quando colocamos o pé na rua um macho olhou na direção dela e eu...eu...rosnei tão alto que a rua inteira esvaziou na hora. Viemos embora. No dia seguinte tentamos outra vez, e uma fêmea distraída esbarrou em mim, Gwyn parecia ter sido estapeada na cara, nem arrisquei voar, atravessei direto de volta. Na terceira tentativa, nós tivemos sorte, era algum dia importante e a cidade estava quase vazia, mas mesmo assim foi turbulento.

Rhysand: me lembro da minha vez, Cassian precisou socar a minha cara por horas pra que eu pudesse recobrar a razão. Deve ter sido difícil passar pelo frenesi que a aceitação da parceira causa sozinho.

Cassian franziu as sombrancelhas pensativo.

Cassian: eu me virei muito bem sabe, não precisei de ajuda e não virei uma besta irracional.

Rhysand: você é o melhor homem irmão. - ele falou em um tom de deboche dando um tapinha do ombro do outro, mas era verdade.

Cassian: mas afinal, o que Gwyn deu pra você comer?

Azriel: ela preparou um jantar a luz de velas numa ilhota cercada de água, logo ali. Acabamos ficando por lá por dois dias, não parecia muito seguro voltar.

Rhysand: que o caldeirão nos proteja.

Azriel: é bom mesmo, porque nem comecei a falar do que ela despertou.

Cassian: nós vamos querer saber?

Azriel: a cada treinamento algo novo surge, é tudo muito instável e volátil. E faz um estrago imenso, eu fui remendado várias vezes.

Rhysand: o que descobriu?

Azriel: minha parceira manipula a água como se estivesse brincando, o oceano responde a ela, e parece ter uma ótima afinidade com os raios também. Gwyn consegue correr mais rápido do que meus olhos podem acompanhar, usando a umidade do ar pra se locomover, quase como se ela pulasse de gotícula em gotícula de água.  Antes de vocês chegarem ela estava testando uma visão de longo alcance usando esse mesmo princípio também.

Cassian assobiou perplexo, as sombrancelhas unidas e altas.

Rhysand: acho que o plano de contingência deixou de ser piada.

Cassian: sim sim, naturalmente vamos ter que pensar nisso, mas vocês enxergam o potencial militar disso? O que ela, Emerie e Nestha podem realizar juntar agora?

Não pude evitar fechar a cara.
E tive que controlar a respiração, esperei mais de cinco séculos pela minha parceira e agora querem expor ela ao perigo assim? Logo de cara?

Cassian: Azriel, acorda. Não tem nenhuma guerra chegando, foi só um comentário.

Rhysand: irmão, recolha essas sombras por favor, eu sempre me esqueço como elas são frias.

Acordei, piscando.
Enquanto eu me desviei naquele pensamento e nos sentimentos que ele gerou, minhas sombras avançaram pelo cômodo, procurando a ameaça.
E percebi que meus dedos fizeram marcas no chão.
Respirei fundo, chamando as sombras de volta.
Cassian soltou a respiração desabando na cadeira.

Cassian: ah cara, isso vai ser problemático.

------------ pov Feyre

Feyre: você está bem?

A fêmea ao meu lado batia o pé com violência contra a areia da praia.

Mor: estaria melhor se alguém reconhecesse a nossa presença aqui.

De fato, Rhys e Cassian foram falar com Azriel e tentar concertar aquela bagunça.
Enquanto isso, ficamos ouvindo a distância o relato de Gwyn a minha irmã e Emerie.

Feyre: então esse é o único problema? Ninguém estar te dando atenção? - cutuquei o braço de Mor, debochando da cara emburrada e irritada dela.

Mor: é que, bom..eu já sabia. Naquela reunião em que ela se colocou a frente de Rhys pra defender Azriel eu soube. Meu dom é a própria verdade, e de algum modo, ela foi estampada na minha cara como tinta neon. Mas ainda assim...é estranho ver acontecer...

Feyre: como você se sente?

Mor: sinceramente eu não sei. Estou radiante por Gwyn, cuidei dela quando ela chegou. E eu sabia que ela era diferente. A maioria das Sacerdotisas quando chegam tem olhos vagos, frios e vidrados. Congelados naquela cena horrível. Mas Gwyn nunca deixou de brilhar, mesmo em suas piores horas. Algumas vezes, a segurei enquanto ela gritava a plenos pulmões e chorava tentando arrancar os próprios cabelos ou se arranhando com as unhas, mas quando a tempestade passava, os olhos dela eram nítidos. Fui eu quem sugeriu que ela trabalhasse com Merill. Por que sabe, Merill é quase insuportável de tão exigente, mas Gwyn é teimosa o suficiente pra aguentar. E eu sabia que lhe daria foco. Então sim, estou explodindo de felicidade por aquela menina.

Minha amiga dizia tudo num sussurro baixo meio atropelado pela intensidade de seus sentimentos.
Dei um minuto a ela antes de continuar.

Feyre: e quanto a Azriel?

Uma risada estrangulada e sem humor escapou de seus lábios.

Mor: eu me ajoelharia em frente a Mãe e ao Caldeirão por terem dado a ele uma parceira que moverá oceanos inteiros para mante - lo seguro. - ela finalmente me olhou, e pequenas lágrimas brilhavam ali - estou feliz por eles Feyre, mas também estou apavorada. Porque agora não tenho onde ou como me esconder, e esse não é o pior. Nem de longe é o pior. Eu nunca pude...nunca pude construir alguma coisa com Az, por medo de complicar ainda mais as coisas, e agora sinto um abismo definitivo entre nós. Eu o amo. Nunca poderia ama - lo como ele merece, como ela ama - um aceno de cabeça em direção a ruiva que ria com as amigas - mas sinto falta dele.

Passei um braço ao redor dos ombros de Mor, e ela descansou a cabeça no meu.
Apertei minha amiga levemente, tentando transmitir conforto.

Feyre: Azriel é o macho mais nobre que já conheci, vocês vão se acertar, e dessa vez sem mentiras no caminho. Tudo vai dar certo Mor.

Corte de Sombras e Sons (concluída)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora