CAPÍTULO 2

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🌻

Fechei o livro que estava a minha frente e suspirei. O teste já tinha sido feito dias atrás mas eu não conseguia parar de estudar, precisava estar preparada para o caso de ter que fazer outras provas ou não conseguir esse ano.

Eu já tinha passado boa parte da manhã com o rosto enfiado nos livros ou nas aulas gratuitas do youtube, que eu assistia graças ao meu bom vizinho que me cedeu a senha do seu wi-fi. O celular eu consegui comprar a poucos anos, juntando o dinheiro do meu salário, que já não era muito, com o da venda do meu celular antigo. Foi um investimento que eu sabia que seria necessário, então faço o possível para preserva-lo. Mesmo que não conseguisse dizer não quando meu irmão pedia para jogar um pouco nele.

Ao pensar no Pietro, o observei dormindo na minha cama. Ele tinha se esgueirado da sua, que ficava do outro lado do quarto, para a minha no meio da noite.

Foi uma sorte meus pais terem comprado alguns móveis antes de meu irmão nascer. Uma cama com as grades removíveis, o guarda roupa.

As fraldas, roupinhas e alguns objetos que já tinham comprado e ganhado no chá de fraldas me salvaram nos primeiros meses.

Olhei o horário no despertador e levantei da cadeira da minha mesa de estudos. Oito e quinze.

Comecei a pegar as coisas espalhadas pelo quarto e a guardar, logo começaria a arrumar a casa. Fechei a porta do quarto com cuidado, deixaria meu irmão dormir mais um pouco antes de acorda-lo para tomar café da manhã.

Meu pai não estava em casa, ele raramente estava. Saia cedo, voltava para almoçar, saia novamente, voltava tarde da noite e repetia o mesmo no dia seguinte. Isso quando era o normal.

Eu acordava antes de todos para poder fazer o café antes dele sair para trabalhar as sete horas. Pelo menos ele trabalhava.

Comecei a fazer o meu trabalho, varri a casa, tirei o pó dos móveis, já ia acordar meu irmão e começar a lavar a roupa suja quando o pequeno corpinho, com o cabelo escuro bagunçado e olhos castanhos sonolentos apareceu na cozinha.

"Lella", ele murmurou e eu sorri com carinho.

Esse era o apelido que ele deu para mim, não tinha exatamente uma explicação, mas desde que aprendeu a falar ele só focava nas últimas palavras de meu nome, e como mal pronunciava direito começou a me chamar assim e nunca parou. Eu também não fiz questão de insistir em que me chamasse de Manu, eu gostava de Lella, era algo só de nós dois. Meu e dele.

"Bom dia, já ia te acordar", ele se aproximou de mim e eu me agachei para receber seu bom dia, que era um abraço sonolento, quase se jogando em meus braços para eu segura-lo.

Eu achava incrível como meu irmão tinha a capacidade de ser tão fofo.

"Tô com fome"

"Vem, já deixei seu café pronto", ele se sentou na mesa e eu entreguei o pão com queijo, e um copo de leite com achocolatado, "se precisar de mim me chama", fui para a área de serviço e comecei a lavar as roupas. Não tínhamos máquina de lavar, então teria que ser na mão mesmo. Isso iria demorar um pouco.

De onde eu estava dava para ver meu irmão na mesa da cozinha, e quando ele terminou de comer o deixei entretido pelo resto da manhã em algum desenho que passava na TV.

Todos Os Clichês PossíveisWhere stories live. Discover now