6. "Presentinho"

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Por Any Gabrielly

Eu devo ter algum tipo de problema com o universo, as coisas só pioram a cada dia mesmo que eu ache o contrário. Ontem, além do dia terrivelmente estressante na empresa, eu ganhei um presente e tanto de dois anos de namoro: chifres é mais chifres. E não bastasse ser corna, descobri que o Max só estava de olho na minha fortuna, esse tempo todo fui ingênua e boba, me deixei levar pelas emoções e confiei na pessoa errada.

Não é como se eu estivesse perdidamente apaixonada, eu acho, mas de qualquer forma meu peito dói. Não tem como pensar que tudo que vivi foi uma grande mentira, os anéis, as flores, os jantares, as noites intensas, até os " eu te amo". Ele fingiu esse tempo todo? Não é possível que alguém seja tão ruim, ou eu devo ser mesmo muito trouxa.
Nós fazíamos planos, eu me sentia bem com ele e era relacionamento saudável e confortável, não brigávamos e fazíamos tudo que um casal normal faz. Era bom ter companhia, pelo menos pra mim, e isso nunca me fez pensar no que realmente sentia, talvez fosse apenas conveniência e a segurança de saber que tinha alguém.

Mas como sempre, tudo que ele queria era o meu dinheiro, a minha empresa. Sinceramente, às vezes acho que ninguém vai ser capaz de me amar e enxergar a mim primeiro, sem se importar com o quanto eu tenho ao invés de querer quem sou. É horrível ser pressionada o tempo todo, aturar sócios chatos e gente querendo te dizer o que fazer na sua própria empresa, além de duvidar da sua capacidade a cada instante que você abre a boca pelo simples fato de não aceitar as ordens e a inteligência superior de uma mulher. Se não fosse pela minha promessa de cuidar desse império, já teria desistido de tudo.

— Bom dia, flor do dia! — Nour invadiu minha sala sem pedir licença. — Se sente melhor hoje ou ainda quer explodir o mundo? — Riu caminhando cuidadosamente até a minha mesa, ela carregava uma xícara e um pires nas mãos. — Trouxe um café pra você.

— Ainda não sei se quero conversar. — Respondi tensa. Nem todas as lágrimas que derramei ontem conseguiram fazer essa agonia no meu peito passar, no fundo me sentia culpada.

— Any, por favor... — Puxou a cadeira se sentando. —Você não pode ficar assim por causa de um macho escroto e estúpido.

— Você não entende... — Suspirei arrastando os papéis pro lado. —É sempre assim, no final as pessoas só estão interessadas no que você tem. Eu não aguento mais! Como sei se posso confiar nas pessoas? Desde que recebi essa herança, eu não consigo viver mais! É só um ninho de cobras bisbilhotando minha vida, pressão, estresse e foda-se Any Gabrielly e seus sentimentos humanos. Eu não sou robô, tá legal? Eu sinto cansaço, sinto dor, fico triste e ainda assim tenho que fingir estar tudo bem porque se não não sou capaz de gerir essa empresa sem botar tudo a perder. Não sei lidar com essa cobrança, Nour, não sei. — Quando dei por mim já estava chorando e as lágrimas saiam sem controle algum, mesmo odiando chorar na frente dos outros.

— Ei.... Calma! — Deu a volta andando até a minha cadeira e me puxou para um abraço apertado. — É difícil mas nada é por acaso, você tem sim capacidade de mandar e desmandar aqui dentro. Não conheço ninguém melhor pra fazer isso e tenho certeza de que seu avô estaria orgulhoso, você trabalha com amor, Any! É isso é tudo que ele queria.

— Mas os sócios dele, não. — Murmurei limpando o rosto.

— Não vou deixar você dar o braço a torcer. Tá maluca? Isso aqui seria um caos sem a sua presença! —Riu me fazendo rir junto. — E sobre o Max, ele é quem não merecia seu amor. Mas não se preocupe, amores errados te levam ao certo, uma hora ou outra.

The Change - BeauanyOnde histórias criam vida. Descubra agora