30. Papo sério

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Por Joshua

O show foi simplesmente incrível, não tenho palavras pra descrever o que senti ao subir no palco para dançar diante daquela multidão de pessoas recebendo os milhares de aplausos de volta. É como se recarregasse todas as minhas energias ao mesmo tempo em que me torno vulnerável ao liberar meus movimentos, tentando transpor e unir meus sentimentos aos acordes da música. Porque dançar é estar à um passo da liberdade, se jogar num precipício de emoções e experimentar cada uma delas sem medo de se perder, é voar em um mar de amor sem volta e ainda assim achar o caminho de volta para casa.

Essa tinha tudo para ser uma grande noite, minha grande estreia na Record's e todo o sucesso dos artistas em geral, principalmente a mais especial de todas: Any Gabrielly. Foi uma surpresa e tanto ouvi-la cantar, todo o auditório parecia chocado e lisonjeado com a apresentação enquanto sua voz preenchia o ambiente se fazendo dominar. E por belos instantes viajei no paraíso da melodia, o mundo parou para nós dois enquanto conversávamos apenas pelo olhar, nos teletransportando para um universo particular.

— Josh, você está me ouvindo? — A voz, que um dia já me foi doce, agora era tão árdua e irritante quanto os passos apressados que ela dava de um lado para o outro batendo os saltos no piso de porcelanato.

Katharine não era nada do que eu estava esperando, não essa noite, não mais na minha vida. Desde que me deixou há quase dois anos com um filho no braço, minha visão sobre ela mudou, não imaginava vê-la tão cedo e muito menos em uma situação como essa. Não faço ideia de como conseguiu me encontrar, nem dos motivos que levaram Kat a me procurar somente agora, também não é como se o meu coração palpitasse loucamente para recebê-la porque qualquer coisa que sentisse morreu quando ela foi embora. Apenas é estranho ter a mãe do meu filho bem na minha frente outra vez, é estranho enxergar quem até pouco tempo não passava de um fantasma.

— Olha só, eu vou ser direto ok? —Respirei fundo esfregando as têmporas. — Como você me achou e o que veio fazer aqui? Você quer dinheiro, é isso? Porque se for, sinto muito ainda não estou rico por mais que pareça.— Ri irônico tentando me manter calmo.

— Para de ser idiota! — Resmungou parecendo ofendida, era só o que me faltava. — Eu vim aqui atrás do MEU filho. — Suspirou pesadamente. — Olha, eu sei que não sou uma boa mãe, mas me arrependi profundamente de tudo que fiz. Não foi certo te deixar sozinho, eu,... Eu tava desesperada! — Bufou irritada consigo mesma e eu ri. Ri muito alto.

— Tenho cara de palhaço? Olha bem pra mim. — A encarei por um segundo, mantendo a pose sarcástica que disfarçava minha raiva no momento. — O MEU filho não merece uma mãe como você, quem me garante que não vai sumir de novo? Quem me garante que não vai magoar os sentimentos do meu menino?

— Não seja cruel, por favor. — Seus olhos estavam marejados. — Todo mundo merece uma segunda chance, todo mundo erra. Eu era imatura quando engravidei, queria curtir a minha vida e o Benjamin veio na hora errada, pelo menos era o que eu achava, meu corpo se modificou totalmente e a minha rotina também. Pensa pelo meu lado, poxa!

— E você pensou no meu quando fugiu? — Dei de ombros espalmando minhas mãos em minha pernas. — Você pensou sequer se nós teríamos dinheiro pra comer? E que para isso eu teria que trabalhar tendo um recém nascido em casa? Pensou nas noites que eu ficaria em claro tentando fazer o Benjamin dormir? Nas vezes que ele ficaria doente? — Minha voz já começava a se alterar, a impaciência e a raiva vieram junto com as lembranças e algumas lágrimas escapuliram sem que pudesse evitar.

— Josh, eu...

— VOCÊ NÃO PENSOU, PORRA! — Gritei exasperado e ela se assustou engolindo um soluço entre o choro.

The Change - BeauanyWo Geschichten leben. Entdecke jetzt