21. Perdida

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_ Amor, eu já te disse para não sair espalhando isso para todo mundo.... - Katerine fala com a esposa, que parece pouco se importar.

_ Eu tenho orgulho de você e do que você faz, e eu quero sim que todos saibam que minha esposa é uma grande detetive. - Érica retruca e eu vejo Katerine enrubescer com o elogio dela.

_ Bem, acho melhor eu voltar logo para o salão, já desapareci por tempo de mais. Foi muito bom conhecer vocês. - Cristian se despede de Érica e Katerine, mas quando penso que finalmente me livrarei dele, sua atenção é direcionada a mim e seu olhar é puro gelo. - Você vem Isa? - Ele me pergunta e seu olhar me garante que eu não posso recusar, mas quando estou prestes a ir com ele, já conformada com minha situação, Érica segura meu braço.

_ Isa sei que estamos de folga, mas eu preciso falar com você sobre uma de suas alunas. Vai ser rápido, eu garanto. - Érica sorri calmamente e eu vejo nela minha salvação, minha válvula de escape.

_ Tudo bem. - Falo tentando não parecer muito ansiosa, mas isso não parece agradar em nada ao homem ao meu lado.

_ Tem certeza que vai ficar? - Ele pergunta se aproximando perigosamente de mim e a certeza de que, no momento, ele não pode fazer nada, me trás um pouco de coragem.

_ Sim, eu tenho. - Falo olhando em seus olhos e tentando parecer confiante, mesmo que todo meu ser esteja em completo pavor.

_ Nesse caso, nos vemos por aí. - Ele se aproxima para me dar um beijo no rosto e eu não recuo. Sua mão em minha cintura não permitiria. - Lembre-se do que lhe falei. Vou estar de olho em você. - Ele sussurra em meu ouvido. - Até mais garotas. - Ele se despede, e enquanto o vejo seguir seu caminho tão tranquilo e seguro, eu o amaldiçoo, mil vezes o amaldiçoo.

Quando finalmente aquele ser maligno desaparece do meu campo de visão, sinto minhas últimas forças se esvairem e só não vou a chão graças a Érica e Kate que me seguram.

Eu estou em lágrimas. Dolorosa e vergonhosamente em lágrimas. E enquanto estou sendo abraçada pela minha terapeuta, eu tento acreditar em suas palavras de consolo.

_ Acabou. Ele não pode mais te machucar. Você está segura agora.

_ Acho melhor tirarmos ela daqui. - Escuto a voz de Katerine, mas estou fraca de mais para olhar para ela. E enquanto eu me permito ser carregada para fora da mansão Nogueira, eu só consigo pensar em uma coisa.

"Você nunca estará segura."

🍎🍎🍎

ÉRICA

O  caminho até nossa casa foi feito no mais completo silêncio. Isa está sentada no banco de trás, perdida em seus pensamentos e isso me faz questionar, o que aconteceu quando eu não estava por perto.

_ Você está bem? - Kate me pergunta baixinho, colocando sua mão em minha coxa e eu apenas aceno com a cabeça de forma positiva. Mas minha atenção continua totalmente na moça perdida, no banco de trás do nosso carro.

Pensamentos obscuros me vem a mente e quanto mais eu penso a respeito, mais preocupada eu fico.

_ Não se preocupe meu amor. Nós vamos cuidar bem dela.

🍎🍎🍎

Assim que chegamos na garagem do nosso prédio, nós descemos e eu tenho que chamar por Isa, que agora parece mais apática do que antes.

_ Onde estamos? - Ela pergunta quando entramos no elevador, mas sua voz é tão sem vida e seu olhar tão distante, que eu duvido que ela realmente esteja nos ouvindo.

_ Nós te trouxemos para nossa casa. Achei que seria bom você estar em um lugar neutro, ao menos por hoje. - Falo e apesar de parecer estar em outro mundo, Isa acena positivamente com a cabeça de maneira lenta, antes de voltar a falar.

_ Um lugar neutro, onde você possa ficar de olho em mim para que eu não faça nenhuma besteira, eu pressuponho. - Ela fala descontraída e apesar de ser a verdade, eu apenas me mantenho em silêncio pelo resto do trajeto até o meu apartamento.

_ Eu vou ver como Pietra e Elle estão. - Kate fala assim que entramos em casa e eu aceno positivamente com a cabeça antes de vê-la seguir para o corredor.

Assim que Kate desaparece do meu campo de visão, eu vou até Isadora, que parece distraída com a vista da praia através da grande janela de vidro que ocupa toda a parede.

_ Isa será que nós podemos conversar? - Chamo por ela, que finalmente parece voltar ao seu corpo, e quando ela olha em minha direção e acena positivamente com a cabeça, eu percebo que finalmente ela está aqui. - Acho melhor nós irmos para o meu escritório. É bem mais reservado.

Sigo para o corredor e entro na primeira porta, sendo seguida por ela. Em seguida, lhe indico o sofá enquanto eu me sento na poutrona de frente para ela.

Eu dificilmente atendo paciente em casa, mas existem algumas excessões, o que incluem cessões online, e pacientes vip.

_ Como conseguiu me encontrar? - Ela me pergunta assim que me sento.

_ Sorte, talvez. A mansão é gigante e mesmo conhecendo todos os caminhos, nós poderiamos ter nos desencontrado de várias formas. Eu encontrei isso no corredor. - Entrego a bolsa para ela, que fica olhando para o objeto por um longo tempo. - O celular confirmou que a bolsa era sua e de alguma forma eu tive a sensação de que você estava em perigo. - E eu estava certa! E apesar de querer lhe fazer várias perguntas, sei que preciso me controlar porque esse pode ser um assunto bem difícil para ela e eu tenho que focar no que isso pode lhe causar a longo prazo.

_ Entendi. - É tudo que ela me diz.

_ Cristian é um homem bem interessante, não é. - Começo a sonda-la, e só a menção ao nome dele já deixa-a tença. - Frio, calculista, manipulador, narcisista, além de muito charmoso. Seu pensamento rápido foi realmente algo interessante de se assistir. Em todos os meus anos de carreira, eu nunca tinha visto um de tão perto.

_ Um? - Minhas palavras chamam totalmente sua atenção.

_ Um sociopata. Qualquer outra pessoa que encontra-se vocês acreditaria facilmente na história dele.

_ Todos mesmo você. - Ela afirma.

_ Exatamente. Não por ele, mas por você. Seus olhos gritavam em desespero. Todo seu corpo clamava por socorro. - Analiso suas expressões e apesar de estar desconfortável, ela não parece disposta a fugir do assunto, muito pelo contrário.

_ Terapeutas, sempre fazendo rodeios. Se tem algo para me perguntar, diga de uma vez. Depois do que fez por mim hoje, eu lhe contarei o que quiser saber.

_ Cristian Lannister é o mostro de olhos verdes dos seus pesadelos, não é. Foi ele quem agrediu você.

_ Sim. E continuar o reencontrado só me afirma que eu nunca vou poder enterrar o que me aconteceu. Toda vez que tento afundar essas memórias infelizes, esse zumbi monstruoso cava das profundezas do inferno até a superfície para me trazer tudo de novo. Mas dessa vez foi bem pior. Aquele sádicoe fez reviver tudo, cada memória, palavra, toque, cheiro, era como se eu estivesse naquele banheiro imundo mais uma vez.

_ Você voltou a encontra-lo antes?

_ Ele estava no baile beneficente, e como hoje, ele se aproximou de mim. Sorrindo. Sombando do meu medo, ou se alimentando dele. - Suas palavras são diretas e cheias de rancor. - Sempre superior, sempre opressivo, sempre perigoso e cruel. Me provocando pavor, asco, ódio. Ódio dele por tirar tanto de mim. Ódio de mim por permitir que ele continue me tirando o controle, a paz, a vontade de vivier.

_ Isa, como sua terapeuta eu não posso lhe dizer o que tem que fazer. Denuncia-lo ou não é uma escolha sua, mas preciso que você entenda que situações como hoje vão continuar acontecendo. Ele está livre para ir e vir e encontra-lo pode se tornar inevitável. - Digo a ela, que estremece. - Eu olhei nos olhos dele Isa, eu o li. Você não foi a primeira e definitivamente não será a última. Mas pode ser você a virar o jogo.

TentaçãoWhere stories live. Discover now