I. Creepypasta.

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Quantos segredos você consegue manter?

Ou melhor, quantos lhe convém?

Queira ou não, uma noite pode guardar muitos segredos sombrios em sua escuridão, e, mesmo assim, consegue se sentir seguro aí, debaixo de seu cobertor?

Às vezes, aquela sensação de estar sendo observada quando as luzes se apagam pode não ser apenas uma simples sensação. Fechar os olhos para dormir e sentir um soprar frio tocar levemente por sua pele talvez não seja somente uma mera coincidência.

Será que você está realmente sozinha agora? E se, exatamente ao seu lado e nesse mesmo segundo, um olhar fixo estiver sobre você? Espreitando cuidadosamente... observando cada movimento seu e esperando um só deslize para saborear do seu medo e da sua aflição.

Uma vez alguém me disse que é às 03:00 da madrugada que as coisas mais obscuras e profanas acontecem; a hora em que o relógio bate, a luz apaga e o medo te consome.

Quer um conselho? Nunca, sob hipótese alguma, olhe por trás da cortina, nem sequer pense em tirar os pés da cama e muito menos se escutar um barulho estranho.

Se assegure de nunca ser a última pessoa a dormir e de nunca ser a que apagará a luz.

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— Primeiro: nunca tire os pés da cama.

Segurei firmemente a lanterna em uma de minhas mãos, mantendo apenas um dos olhos entreabertos ao lentamente sentir o tocar gélido e suave das pontas de meus pés sobre o assoalho, escutando o breve ranger da madeira e deixando um suspiro aliviado escapar por meus lábios.

—  Segundo... — ditei arrastado. — ... nunca saia de baixo do cobertor.

Apertei o tecido grosso entre meus dedos, contraindo meus lábios e prontamente fechando os olhos. Puxei todo o ar que podia direto para meus pulmões e expirei, sentindo uma brisa fria soprar em minha pele assim que o cobertor deslizou por meu corpo em direção ao chão.

— E terceiro... nunca olhe por trás da cortina.

Fixei meu olhar na grande peça de tecido, estreitando os olhos e respirando fundo. Um pouco receosa, passei a língua pelos lábios secos e, dando o primeiro passo - lenta e sincronizadamente meticuloso para que ninguém ali acordasse -, caminhei sem fazer barulho algum, ouvindo apenas os toques longínquos do sino da pequena capela misturados à minha respiração trêmula e arrastada.

— Não vai ter nada, Nan Hee, não vai ter nada... É só uma história... — balbuciei comigo mesma, querendo voltar para a cama a cada passo dado.

Era isso que ler creepypastas e assistir a filmes de terror escondido faziam comigo. Cá estava eu, em plenas 03:00 horas da madrugada seguindo os passos de um conto de terror completamente sozinha enquanto todos dormem.

Mordi meu lábio inferior por dentro e bem devagar levei a mão até o pano de tons vinho, prendendo-o entre meus dedos e respirando fundo mais uma vez.

Do que eu estava com medo, afinal? Nenhuma dessas estórias eram reais.

Ou eram?

Engoli seco e apertei o tecido em mãos novamente, o puxando para o lado de uma vez só e deixando uma considerável brecha se abrir, pela qual um feixe de luz da lua escapou me fazendo revirar os olhos ao ter somente a visão rotineira e sem graça do jardim da frente.

— Perda de tempo. — bufei, mostrando a língua para a lua minguante estampada no imenso céu estrelado e fechando a cortina outra vez.

Antes mesmo que eu pudesse recuar meus passos para voltar até a cama, um ranger de portas fez cessar até meus mais profundos pensamentos, me fazendo pairar no ar como uma estátua e permanecer ali, imóvel e sem reação alguma.

ÀS 03:00Where stories live. Discover now