Epílogo

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Fumando seus cigarros vagabundos, John Constantine se escorava no carro alugado, observando a multidão se reunir do lado de fora da igreja, ansiosos para conseguirem um vislumbre da jovem, cuja fama os trouxera até ali.
Ele estava em Salém, Massachusetts, onde uma garota chamada Lenora, estava supostamente realizando profecias. A garota havia morrido afogada, mas de algum modo, havia acordado no meio de seu próprio velório, assustando a todos.
Tudo isso poderia ser só um bizarro caso de uma falsa morte, se não fosse os estranhos acontecimentos que se iniciaram nos dias seguintes.
A jovem começou a profetizar inúmeros acontecimentos que a princípio ninguém levou a sério, mas que com o tempo se revelaram ter extraordinária precisão: Ela sabia sobre acidentes antes mesmo deles acontecerem, previu catástrofes, mencionando nomes e lugares exatos, sem nunca errar nenhum detalhe.
Mas quando profetizou detalhes sobre documentos secretos do Vaticano, acabou chamando a atenção da Igreja Católica, que despachou especialistas para verificar a veracidade dessas previsões.
A partir dai a história se espalhou como fogo, crescendo tanto, que até mesmo um culto se formou sobre sua imagem, atraindo repórteres e curiosos de todos os lugares. John geralmente não ligaria para nada disso, até que recebeu um telefonema da própria Profeta, dizendo coisas que não deveria saber sobre a situação de sua mãe.
Ele ainda pensava em um modo de resgata-la do Inferno, e quando ela lhe falou que sabia de um jeito, ele não pensou duas vezes antes de embarcar para a América.
-Acha que tudo isso...é verdade, John? - perguntou Chas.
-Não sei parceiro. Mas se tem uma coisa que aprendi na minha vida, é que quanto melhor o Milagre, mais ele fede quando se começa a futucar. Espera aqui.
-Ótimo, vai logo. Esse lugar me dá arrepios - respondeu Chas.
E ce não tá errado em estar assustado. Tem uma voz na minha cabeça gritando que tem algo muito errado aqui.
Jogando fora seu cigarro, ele atravessou a multidão e adentrou a igreja, ouvindo muitos reclamarem.
-Autoridade superior. Sabe como é - gracejou antes de fechar a porta, deixando todos com raiva.
Ele começou a se aproximar do altar, onde o padre local arrumava algumas coisas. Ao registrar a aparência desleixada de John, o homem franziu a testa.
-Desculpe, mas vai ter que esperar lá fora, como os outros jornalistas.
-Mas eu não sou da imprensa chapa. Fui mandado aqui pelo vaticano.
-Você? Duvido - questionou o padre, incrédulo.
Usando sua voz com um tom hipnótico, John mexeu rapidamente as mãos, recitando algumas palavras chave.
Um velho e útil feitiço de trapaceiro, que deixava as pessoas mais sucetiveis a aceitar as coisas.
-Sabe como é. As duas investigações anteriores não deram em nada, mas temos que garantir que não seja uma farsa, pra não manchar a imagem da Igreja. Como dizem, a terceira pra dar sorte. Posso falar com a garota, antes de tudo começar?
Hipnotizado, o padre apontou para os fundos da igreja.
-A Santa está se arrumando. Só..não demore muito.
Santa? Já chegamos nesse nível?
Antes de se dirigir ao lugar indicado, ele parou para encher seu pequeno cantil com água benta. Nem havia tocado na porta quando ele a ouviu.
-Entre, John.
Ele entrou no pequeno quarto, encontrando uma jovem com um ar doentio, muito pálida e com olheiras, parecendo extremamente cansada.
-Se quer demonstrar seus dons, vai precisar mais do que isso pra impressionar esse cachorro velho, querida.
A garota riu, mas quando começou a falar, sua aparência frágil pareceu evaporar e sua voz parecia transbordar energia e força.
-Eu sabia que viria, John. Vi você em uma das minhas profecias.
-Não to nem ae. Só quero que conte o que sabe de minha mãe.
-Conversaremos depois. Tenho algo importante a anunciar. Vi que passaremos muito tempo juntos no futuro. Nós temos um importante papel a desempenhar.
-É por isso mesmo que quero que me conte, fofa. Estou escaldado demais pra essas coisas, as pessoas tem a mania de morrer ao meu redor, eu tô tentando evitar isso.
Um leve burburinho começou, atraindo a atenção de ambos. Ao que parecia, os jornalistas começava a se acomodar em seus lugares.
-O que pretende com isso tudo?
-Espalhar a palavra. Sei que muitos estão aqui apenas por curiosidade, para verem com seus próprios olhos se sou realmente uma fraude ou não. Outros estão aqui por que realmente crêem e esperam ter sua recompensada. Agradeço-os por isso, mas quero deixar claro que sou apenas um instrumento, agindo em prol de algo maior....
O Mago tateou seus bolsos, encontrando o pequeno cantil. O destampando com uma mão, ele o retirou com velocidade, jogando seu conteúdo no rosto da jovem.
-Devia acontecer alguma coisa? - perguntou Lenora, sorrindo.
-Só se você fosse uma criatura infernal. Pode ser que esteja do lado certo mesmo, não sei. Mas ficarei de olho.
-Eu o agradeço pelo benefício da duvida. Tenha , John.
Duvido que vai me agradecer depois disso tudo, mas agora é pagar pra ver.
John saiu apressado da igreja, se dirigindo até o taxi.
-Conseguiu o que queria da garota?
-Ainda não. Mas tenho tempo.
-Acha que ela pode estar dizendo a verdade?
-Não sei, Chas, sinceramente. Olha, ela vai fazer um anúncio, não sei quanto tempo vai demorar. Não quer ir pra casa parceiro? A Renê deve tá preocupada.
-O cacete que quero. Sai da Inglaterra pra te ajudar, não vou te abandonar agora, diga ela o que disser.
-Não mereço ser seu amigo Chas.
-Agora é tarde pra isso. Vamo lá, todo mundo tá entrando já. Não quero perder quando ela anunciar que você é um descendente perdido da familia real..
-Ah, cala a boca porra. Não fala isso nem brincando - disse John, rindo.
Ambos adentraram a igreja, que estava tão lotado que tiveram que ficar de pé perto da porta.
Todos conversavam, mas assim que a garota entrou, um silêncio sepulcral caiu sobre a igreja.
-Olá. Sei que muitos aqui não acreditam realmente em mim, achando que sou uma fraude. Eu mesma não sei por que fui escolhida para espalhar a palavra, sendo que nunca fui nada demais, nem me destaquei em nada. Mas infelizmente eu fui amaldiçoada com um dom e uma maldição. Gostaria de ter visto coisas boas no futuro, mas infelizmente não foi isso que aconteceu. Eu vi guerra. Céu e Inferno finalmente em luta, onde a Terra era o campo de batalha. Bilhões mortos, os sobreviventes escravizados pelos dois lados para lutar.
Um tumulto começou na igreja, onde as pessoas indignadas começavam a xingar a Profeta, que parecia não se incomodar.
-E eu o vi - continuou a garota, fazendo o silêncio cair novamente - O homem que irá causar tudo. Liberando o Fim, não por interesse ou ódio. Mas por culpa.
-E quem é esse merda, pra gente encher ele de porrada? - sussurou Chas.
-E esse homem….É John Constantine. Ele vai trazer o Apocalypse. Ele é o Anti-Cristo! - decretou Lenora, apontando para John.
Ele sentiu cada cabeça se virar em sua direção e o peso de cada olhar sobre si.
-Tá de sacanagem comigo! - exclamou John, tentando não imaginar o tamanho da confusão que teria pela frente.

John Constantine: Legado MalditoWhere stories live. Discover now