Latente | Michael Jackson

Despertar

Mariangel Lancaster
Rancho Neverland, Santa Ynez
13 de novembro de 1991 • 17:12

— Senhor Jackson! Já está tudo pronto! — uma mulher ruiva diz assim que entra em nossa frente. Ela é magra, sua pele tem uma melanina invejável e sua boca carrega um batom vermelho. Ela está nervosa, bem Michael a deixou maluca o dia todo para negociar os horários com tantas emissoras — Senhorita Mariangel, se quiser ajuda para se arrumar, vamos entrar ao ar às 18h! — ela fala com um pouco de urgência

— Não, eu ajudo! — Michael diz com sua voz grossa. Ainda segurando minha mão ele me tira do escritório e me guia até o átrio de entrada e logo após para as escadas. Ele está apressado, muito apressado. Bem, não o culpo, são tantas coisas acontecendo ao mesmo tempo

  Eu só estou tentando não pensar muito em nada. Nada mesmo. Mas não posso mentir que nada disso está me afetando. Tudo isso está me afetando. A vontade que tenho é de me sentar no chão e chorar por uma hora seguida. Sinto um peso enorme sobre as minhas costas e isso está me deixando tão, impotente

— Sorria! Sempre! Enquanto estiver falando com as câmeras use seu mais doce tom! Nada de lágrimas ou vitimismo, apenas a verdade! A mais pura verdade! Não tenha medo de ser sincera! Verdades ditas em tom doce e gentil são a melhor opção nesse momento. Nada de agressividade nas palavras ou na voz! Nosso mundo é machista e vão falar “olha o tom que ela usa, falava assim com ele certeza. Mereceu” — ele esbraveja

  Minha respiração está tão pesada. É como se eu estivesse revivendo algo. Algo ruim. Bem. Essa coisa toda pode ser apenas toda essa situação. Creio que seja normal eu me sentir no mínimo estranha mesmo

— Eu devo usar um terninho ou posso usar um dos vestidos que você me deu? — pergunto baixinho para ele que morde o lábio com força e abre a porta. Entro e ele entra logo em seguida. Anda em passos rápidos e vai até o closet

— Tem que ser sério, mas não tão sério! — ele diz enquanto entra. Em segundos aparece com um vestido de veludo vermelho que vai até acima do joelho. Ele o coloca em cima de uma das cadeiras e vem até mim — A maquiagem leve que você usa normalmente já está bom! Não precisa mudar muita coisa! — ele diz firmemente olhando bem nos meus olhos

— Quando eu devo falar? O que eu devo falar? Eu nunca fiz isso antes e não sei como me comportar, eu não quero que você fique chateado comigo porque não me comportei bem — desço meu olhar para o chão e tento controlar a minha respiração que está tão pesada

— Angel, você quer fazer isso? — ele me pergunta olhando diretamente para mim. Faço um bico involuntário. Sinto uma vontade incontrolável de chorar. Respiro fundo. Não posso chorar. Não tenho esse direito. Olha só na posição que eu estou! Ele está cuidando de mim e fazendo todo o possível para me ajudar eu seria uma ingrata

— É claro... — as lágrimas caem dos meus olhos sem parar. Fecho meus olhos e caio em um choro ruidoso. Sinto seus braços me puxar com força para ele. Michael me aperta em seus braços. Sinto seu queixo em cima da minha cabeça

— Eu o abomino tanto e estou como ele. Quase te obrigando a fazer o que você não quer. Gritando aos quatro ventos e não te consultando. Me perdoa meu amor. Me perdoa. Você não está pronta pra fazer algo assim e eu devia ter enxergado se não fosse pelo meu egoísmo. Eu só estava olhando para o meu umbigo e esqueci que a maior vítima aqui é você e não eu. Estou tirando sua voz, seu direito de chorar e sentir tudo isso. Me perdoa minha Angel — ele diz calmamente com sua voz aveludada e calma

  Apenas o abraço de volta e me entrego ao choro. Sinto como se o peso de uma vida saísse das minhas costas. É ele, Michael é o homem certo para a minha vida toda. Obrigada meu Deus por finalmente me entregar o presente mais lindo que já recebi. Obrigada!

— Vem minha rainha, vamos nos deitar — sussurra enquanto se afasta. Me pega no colo e me leva até a cama. Deita-me com cuidado. Se senta ao lado esquerdo e leva a mão até o telefone — Cancele tudo Marcele! Minha namorada está indisposta! — ele diz firmemente e desliga sem dar tempo algum para argumentos da pessoa do outro lado da linha

  Se deita ao meu lado. Com seus olhos profundos ele me encara. Sua mão direita toca meu rosto. As pontas dos seus dedos acariciam minha bochecha esquerda. Meu doce amor. Levo às duas mãos até a dele

— Eu te amo — sussurro para ele enquanto as lágrimas ainda descem — Você foi e é a melhor coisa que já me aconteceu. Obrigada por se importar comigo meu algodão-doce. Obrigada! — começo a chorar mais alto do que nunca. Sinto seu abraço. Um abraço forte. Enquanto me abraça, ele tenta me acalmar.  Em sussurros calmantes ele murmura que me ama. Isso aquece meu coração completamente. Deus. Muito obrigada por ter me mandado ele. Obrigada.