Latente | Michael Jackson

Anjos

Mariangel Lancaster
Rancho Neverland, Santa Ynez
14 de novembro de 1991 • 07:12

— Cure o mundo
Faça dele um lugar melhor
Para você e para mim
E toda a raça humana
Há pessoas morrendo
Se você se importa o suficiente com a vida
Faça dele um lugar melhor
Para você e para mim — abro meus olhos lentamente. Um sorriso enorme se desenha em meu rosto ao identificar a voz do meu amor entre várias outras. Que música mais linda

 Sento-me e encaro os lençóis brancos. A voz do meu algodãozinho doce está vindo do jardim. Levanto-me da cama e ando em direção a voz. Paro em frente a janela e abro. O dia está lindo e todo ensolarado. Logo abaixo da janela tem um coral de crianças e Michael está no meio delas

 Ele está todo sorridente e está cantarolando com um microfone em uma das mãos. Ele é perfeito. Eu posso me considerar completamente sortuda por ter um mini show embaixo da minha janela, não é? Inclino-me um pouco sobre a janela e apoio meus cotovelos no apoio

 Ele cantarola lindamente com o coral. O coral é composto por crianças e a voz dele combina completamente com a voz das crianças. Sinto uma alegria genuína causada pela canção e pela presença das crianças

 Por isso eu escolhi ser pediatra. As crianças renovam minhas energias, elas me dão forças para seguir. O sorriso de uma criança pode simplesmente iluminar meu dia por mais sombrio que ele esteja. Michael acertou em cheio. Era exatamente disso que eu precisava.

10:13

— Eu sabia que você precisava disso, somos parecidos até demais! — ele ri e ajeita seu chapéu em sua cabeça. Crianças passam por nós aos gritos e risos. O rancho está cheio de crianças. Michael está recebendo crianças do mundo todo. Tem crianças de toda a parte. Eu adoraria poder falar com todas elas, mas, algumas eu não entendo

— Então, você divide seu mundo com crianças em estado terminal? Isso é tão lindo da sua parte — sussurro enquanto ando lado a lado com ele em direção a um dos carrinhos de algodão-doce

 Diferente dos outros dias, hoje estou sentindo uma alegria genuína em meu coração. Ele é exatamente como eu imaginava. Um verdadeiro príncipe. Diferente de Miguel, que me enganou e se mostrou ser bondoso quando, na verdade, é o pior dos homens

 O questionamento que não para de rondar meus pensamentos é, como eu não percebi? Como não enxerguei a maldade que havia ao meu redor? Miguel e meus pais, pessoas que sempre se mostraram ser tão bondosas, na verdade, eram cobras da espécie mais venenosa

 Bem, é um pouco injusto os comparar com cobras já que com o tempo aqui conheci cobras lindas e bem mais leais. A minha favorita é uma amarela, ela é uma píton, Michael a chama carinhosamente de Madonna. Ainda não entendi bem o porquê de a chamar assim, mas, também não questionei

— Sim, eu consigo sentir a dor de todas elas Angel. Crianças em estado terminal passam seus últimos dias em hospitais presas em exames, cirurgias e tratamentos. Não existe tempo para ser criança! Uma vez eu estava em turnê com meus irmãos e estava muito chateado por não poder sair e brincar, mas, de repente me veio o pensamento de que existiam pessoas em uma situação pior do que a minha. Então, eu prometi a mim mesmo que ajudaria o maior número de pessoas possível e é isso que tenho feito! — ele coloca às duas mãos para trás

— Isso é lindo — digo entre suspiros — É admirável o que vem fazendo — ele olha para mim e sorri — Por isso me tornei médica, eu sempre achei muito injusto a maneira como crianças sofriam! Algumas já chegam nesse mundo com doenças horríveis e elas sofrem até o fim da vida! Muitas vezes mal chegam aos 10 anos. Eu consegui atuar na minha área por dois anos. Foram dois anos de pura felicidade e tristeza profunda. A cada morte eu chorava durante todo o dia, por mais que eu suporte tudo o que acontece comigo com armaduras de aço! Quando uma criança é machucada, nasce doente ou morre, é como se algo dentro de mim também morresse! Você me entende? — indago. Ele para, olha diretamente para mim e suspira

— Sim, Angel, eu te entendo! — ele estende a mão para mim, a pego, ele me puxa para um abraço. Um abraço confortável e cheio de amor — Sabe que eu ainda me surpreendo muito com o quanto nos parecemos Angel — ele beija o topo da minha cabeça com carinho.

17:53

 Aceno freneticamente para o último ônibus que sai com o último grupo de crianças. Cruzo meus braços e encaro o ônibus se distanciar gradualmente. Minha tarde foi tão agitada eu amei! Eu brinquei, pulei e corri!

 Tudo o que eu nunca fiz na infância porque a minha mãe achava inadequado que uma mocinha de 7 anos saísse correndo por aí. Ela se esquecia que eu era criança e precisava fazer coisas de criança

— Fica tão vazio, né? — ele diz enquanto se posiciona ao meu lado. Ele está com um roupão. Ele brincou de guerra de balões de água enquanto eu assistia um filme com as crianças que não podiam correr

— Fica mesmo, mas, eu não me importo. Pelo menos o meu melhor amigo ficou — brinco enquanto o abraço. Ele me abraça de volta

— Devíamos ir ver um filme, namorar um pouquinho — ele desce a boca até o meu pescoço e o chupa com voracidade. Se afasta e contempla a enorme marca roxa que sem dúvida deve ter ficado — Esse é o único roxo que eu vou te fazer..., mas se você quiser senhorita Mariangel, posso deixar outra parte também — desce a mão direita até a minha bunda e aperta

— Meninos! — Patrice murmura enquanto se aproxima. Nos distanciamos e andamos de encontro a ela que não está com uma cara boa — Miguel fez uma nova jogada, dessa vez ele foi muito longe! Miguel fez uma coletiva de imprensa apresentando um bebê ao mundo e ele disse haver entrado com o divórcio e que a partir daquele momento iria criar a filha dele com Mariangel sozinha e que a criança não merecia ter uma mãe, leviana! Ele ainda pediu o apoio de todos!