Eu's

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Uma vez li que ninguém pode se livrar do passado, ele sempre será um tijolo na construção do que chamamos de 'eu' 

O engraçado é que ainda me perguntou quem sou, meu passado me parece vivido por um estranho que sequer reconheço. Recentemente tenho tido pesadelos com meu passado, e ele ainda me parece algo que outra pessoa viveu e ao mesmo tempo tenho medo de revivê-lo

Dizer a verdade, aquilo de que sempre tive medo agora estava apontando para minha face como uma lâmina afiada pronta para ferir-me.

—Eu sou um lixo— As palavras podem machucar, por isso nunca gostei de virar a lâmina da verdade contra meu próprio rosto.—Eu...— Niell fechou os olhos, seu corpo firme como rocha agora parecia trêmulo, lembrando ao mesmo o quanto ele era frágil, tão quebrável e defeituoso quanto qualquer outro.—...sou medroso— Continuava repetindo em frente ao espelho turvo pelo vapor quente da água que magicamente se aquecia. As feições delicadas refletidas de forma turva ainda deixava que os olhos melancolicamente de um azul acinzentado brilhasse refletido pelo espelho antigo. A língua mágica em sua boca era bem controlada, ao menos o suficiente para que toda a consequência de suas falas indecorosas fosse em momentos vergonhosos os quais ele ignorava os apagando de sua mente no mesmo instante no qual falava.

Os olhos azuis cinzentos aos poucos escureceram, ainda brilhantes. Mãos elegantes esfregaram o  couro cabeludo, bagunçando os fios molhados.

Niell havia descoberto algo novo sobre si mesmo, ele não gostava do garoto que o encarava, fosse em qual vida fosse e isso provavelmente não mudaria e fugir de seu melhor amigo por mais de um ano apenas havia lhe lembrando da verdade que perseguia ele como sua sombra. Esquecer quem ele era foi difícil, distancia-se e tornou-se uma nova pessoa foi igualmente difícil entretanto era difícil descobrir que ele não havia superado.

Com o horrível costume de se apegar apenas a seus erros, o garoto no reflexo turvo mordeu a própria língua amaldiçoada. Verdade fosse dita, uma e outra vez. O garoto no reflexo não conseguia se enganar, não com aquela língua mágica.

Verdade fosse dita. Peter ou Niell, rabicho se odiava. Não conseguindo se livrar de seu antigo eu, tampouco estando feliz com seu novo eu. Nenhum parecia seu verdadeiro eu. E sim, eram muitos 'eu's'

O garoto do reflexo, Niell.

Batidas fortes na porta interromperam os pensamentos que Niell estava tentando formar, era algo novo sobre 'tentar se conhecer' que ele havia lido em um livro trouxa entretanto era uma merda descobrir que mesmo depois de tudo ele ainda não gostava de si mesmo. Niell precisou jogar a água quente no rosto para se acordar antes de sair, o garoto já não dormia em seu quarto, ou comia no refeitório em algum momento até mesmo havia parado de ir a biblioteca o seu novo lugar favorito porém depois dos olhares secantes que voltará a receber de Riddle no primeiro almoço do ano Niell havia adicionado além de seu quarto, o salão principal onde todas as refeições eram feitas a sua pequena lista de lugares onde não ir.

Dormir nas passagens secretas e nas salas esquecidas não era exatamente uma alegria para o garoto franzino, entretanto Niell havia encontrado uma sala interessante enquanto vagava pelos corredores esquecidos ou menos utilizados, era uma sala de aula onde nos fundos se encontrava um quarto com banheiro, sabia que era apenas mais umas das salas de aula de alguma matéria que já não era lecionada em Hogwarts.

Niell abriu quase que imediatamente seu pequeno diabrete voou de encontro a seu rosto, era até engraçado algo preso a ele por magia obscura estar tão tranquilo com isso em vez de ser vingativo como todo diabrete. Não era magia negra, era algo mais.

Margoretthe sentou-se em seu ombro ronronando como um gatinho enquanto esfregava os pés soltando fagulhas. O pequeno diabrete que fazia par com pirraça em guerras infinitas de pegadinhas era provavelmente a única coisa que aquecia o coração solitário.

Niell observou gravata, capa e suéter todos com detalhes verdes, havia demorado para se acostumar porém já não esperava ver vermelho e dourado em suas vestes. Estava mais pensativo que o de costume e tudo se devia ao livro vermelho escrito por um trouxa.

Seu irmão gêmeo, o mesmo que era quase como sua sombra, estava observando o treino de quadribol mais uma vez, coisa que Niell estaria fazendo se não fosse pelo outro sonserino que desde o início do segundo ano estava mais que empenhado em perseguir Niell, ainda que perseguir talvez não fosse a palavra correta.

Tom Riddle estava observando Niell, seu único amigo ou sua presa. Ele francamente ainda não havia decidido, a única coisa que ele sabia era que não era uma opção ficar longe.

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⏰ Last updated: May 25, 2022 ⏰

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Crucio: Peter PettigrewWhere stories live. Discover now