11.

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A professora Stevens falava entusiasticamente algo sobre Platão, mas sua voz parecia distante de mim naquele momento. Meus olhos ainda estavam inchados e avermelhados, assim como meu nariz, pelo choro de dez minutos atrás, mas a aula de filosofia parecia estar sendo mais interessante para o resto da classe do que minha cara de enterro. Felizmente.

Meu corpo estava jogado de qualquer jeito sobre a cadeira, e meu rosto descansava pesadamente sobre um punho, apoiado por um cotovelo sobre a mesa. Com o olhar vagando pelas linhas do caderno, eu ainda podia sentir a sensação de culpa presa em minha garganta, como se minha dor de cabeça pulsante já não se encarregasse de me castigar o suficiente.

Quando a srta. Stevens deixou a classe após sua longa aula dupla, notei que uma pessoa se aproximou da minha carteira, e ergui meu olhar pra ver quem era. Meus parabéns ao filósofo que disse que as coisas sempre podiam piorar, se é que Murphy era um. Filosofia não era meu forte mesmo.

- Eu só queria te falar que nosso trato está desfeito. – Jack murmurou, parecendo tão irritado por estar me dizendo aquilo que evitava me olhar. – Pode ficar tranquila, aquelas fotos nem existem mais.

Franzi levemente a testa, sem entender por que ele estava fazendo aquilo, mas antes que eu pudesse abrir a boca, ele já se afastava em direção à sua carteira. A única possibilidade que me veio à cabeça me fez afundar ainda mais em minha própria depressão. Só podia ter dedo dela naquela história.

Durante a última aula, eu continuei mergulhada em meu desânimo, e mal conversei com Teddy na hora da saída. Também não vi Addie, que provavelmente devia estar atrapalhada no laboratório, e assim que avistei o carro de mamãe na saída da escola, corri em sua direção. Eu precisava sair daquele lugar e ficar sozinha no meu quarto o mais rápido possível.

Passei o dia naquele mesmo humor, só deixando meu quarto pra comer um pouco. Quando deitei na cama após o jantar, o cansaço de uma noite mal dormida me venceu, e eu dormi pesadamente, apesar dos insistentes pesadelos. Todos previsíveis, envolvendo o acidente de Maya.

Acordei no dia seguinte, um pouco menos cansada, e segui minha rotina matinal até chegar à escola. Apreensiva pra saber se ela viria hoje, eu me sentei ao lado de Mayra, como sempre, e não desgrudei meus olhos da entrada do colégio. Para minha sorte, não demorou muito e Addie chegou, conversando animadamente com alguém, que não era ninguém mais, ninguém menos que a professora Bishop.

Meus olhos se cravaram nela, que parecia completamente saudável, fora o pequeno curativo em sua testa. Não estava pálida, muito menos abatida. Parecia até bastante animada, rindo enquanto conversava, e andava normalmente, sem sinais de lesões ou fraqueza. Um alívio imenso me dominou, mas não consegui relaxar por completo, porque logo os olhos de Addie estavam nos meus, e ela sorriu fraco, parecendo ressentida com a desculpa brusca de ontem. Tudo que me faltava era ficar mal com ela, sem dúvida.

O dia se passou tediosamente, fora minha inquietação. Depois do intervalo, arrastei Addie para uma sala que sempre ficava vazia no térreo e me desculpei pela pressa do dia anterior, restabelecendo a calma em nossa relação. Apesar de tudo estar se endireitando novamente, eu ainda estava determinada a pedir desculpas à Maya e me ver livre daquela horrível sensação de culpa, mas só a hipótese de ter aquele olhar enfurecido no meu já me fazia tremer da cabeça aos pés. Eu não tive coragem de procurá-la naquele dia, muito menos no dia seguinte, e só voltei a vê-la quando minha aula de biologia laboratório chegou, mais rápido do que eu gostaria.

Entrei no laboratório, tensa, apesar dos sempre agradáveis minutos sozinha com Addie depois de sua aula, e vi a professora Bishop cercada por Jack e seus amigos. Ela estava encostada na lousa, com os braços cruzados na altura do peito e um sorriso charmoso, conversando amigavelmente com os meninos. Notei que ela já não usava mais o curativo na testa, e fiquei feliz por saber que ela estava fisicamente recuperada do acidente, que de certa forma, eu causara. Me sentei no lugar de sempre, tentando em vão não observá-la demais durante a aula, mas olhar pra ela ou não era indiferente, já que seu rosto não se virou uma vez sequer na minha direção. Maya me fez sentir como se eu nem estivesse ali, coisa que ela sabia fazer e muito bem. O que eu estava esperando dela afinal? Que ela viesse me agradecer por tê-la enfurecido tanto a ponto de fazê-la ferrar com sua BMW? Ela tinha dito que nunca mais olharia na minha cara, e estava cumprindo com sua palavra.

My Biology (Marina)Onde histórias criam vida. Descubra agora