✨CAP 30 - Um recomeço✨

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Me sento no sofá novamente e coloco a caixa em cima da mesa da sala. Olho demoradamente para ela e penso se devo abri-la ou deixar essa besteira pra lá... Mas logo penso que não devo sentir nada demais; eu sei que desde que Eddy morreu eu evito de ver, lembrar ou ouvir qualquer coisa relacionada a ele, mas agora a curiosidade me consome para rever tantas coisas as quais acho que irão me incomodar tanto. Coloco a caixa no meu colo, a abrindo e me deparo com tudo que eu lembro de ter guardado antes. Nossas fotos estavam intactas e não mancharam, a primeira foto era de quando nós fomos à praia pela primeira vez depois que o papai finalmente conseguiu comprar o carro, ele tinha 10 anos enquanto eu tinha 12, tiramos uma bela foto ao pôr do sol. A segunda foto era da sua apresentação de teatro, até nessa peça ele conseguiu o papel de um soldado militar... Lembro que ele ficou tão feliz que parecia que tinha ganhado o papel na vida real. A terceira foto era da minha formatura aos 15 anos, ele tava tão elegante que se achava mais que eu na minha própria festa. A quarta foto era de quando fomos a montanha russa; Eddy tirou a foto no alto da montanha enquanto ele estava sorrindo e eu estava apavorada, ele amava ir na montanha russa e lembro como se fosse ontem dele dizer "Aurora, não precisa ter medo de um brinquedo, nem é tão alto assim." Eu gargalhei e sorri com meus olhos brilhando até a quinta foto... Era um dos dias mais felizes que eu já vivi, no meu aniversário de 14 anos ele me presenteou com algo que eu nunca pensei que ele me presentearia, um quadro! Mas não era um quadro qualquer, o quadro tinha a imagem de um coração humano e rodeado de estrelas em volta. Admito que não lembrava mais desse quadro pois não o trouxe comigo quando saí, o que torna um dos motivos da minha surpresa. Quando ele me presenteou, me entregou um cartão junto com ele, que inclusive estava na caixa, perto da foto: "mana, queria te agradecer por sempre observar as estrelas comigo, por isso pedi para fazerem um quadro com as estrelas em volta de um coração humano, porque simplesmente acho o órgão mais bonito que uma pessoa pode ter, além de ter um significado incrível. Então aceite como se estivesse aceitando o meu coração, afinal nós compartilhamos do mesmo sangue já que nascemos da mesma mãe, por isso não deve fazer mal né!? Feliz aniversário, do seu irmão: Eddy!"
Meu choro se intensifica ao passar as cenas na minha memória; nós observamos as estrelas deitados na grama sempre quando um de nós ficávamos triste, era como se fosse uma terapia. Eu sempre gostava de fazer isso com ele, porque era sempre ele que me conhecia melhor e passava horas do dia comigo, então ele sabia o que eu sentia e às vezes eu sabia o que ele sentia também. Eu nunca fui de ter muitos amigos, talvez porque eu nunca precisei de muitos; eu tinha o Eddy, ele era o meu amigo além de irmão, nós brigávamos muito mas no fundo a gente sabia o que se passava. Uma pena que depois de um tempo esse hábito foi mudando, eu cresci e acabei esquecendo da nossa "terapia"... Eu falhei nisso também!

- Desculpa Eddy! - digo colocando as mãos no rosto pra chorar

Depois de alguns minutos soluçando com minhas lágrimas, eu olho para a caixa e vejo mais algumas coisas, como cartões de natal e aniversário, utensílios pessoais como a sua pulseira... A pulseira igual a que ele me entregou para selar o nosso "laço". Eram simples correntinhas com um pingente do infinito no meio, a minha continua sempre no mesmo lugar, perto da nossa foto do quadro em que eu quebrei. Ponho de volta e ao revirar as coisas eu encontro algo; sua carta de despedida! A carta que eu nunca tive coragem de abrir, e acho que não vai ser dessa vez que vou abri-la. A passo despercebido e no fundo da caixa eu encontro a última coisa a qual não lembrava de ter colocado alí...

- O casaco! - afirmo surpresa

O casaco azul que Eddy estava usando no dia da sua morte! Minha reação foi mais inesperada do que eu poderia imaginar; eu me perguntava algumas vezes onde esse casaco poderia estar, mas nunca tive interesse de procurá-lo. O desdobro e nesse momento me veio o flashback na cabeça da última vez em que Eddy o estava usando... É como se eu tivesse vivido ontem; mesmo ele sabendo que aquela seria a última vez em que me veria, ele sorriu pra mim e saiu no seu skate como se fosse um dia qualquer e a última imagem que eu vi foi esse casaco nas suas costas. Eu vou até o espelho da sala com a veste nas mãos e o olho por um instante, resolvo colocar em mim e me surpreendo novamente com o que eu vejo; Eddy e eu apesar das diferenças de idade e sexo somos muito parecidos!

AURORA: À espera do que não veio Onde histórias criam vida. Descubra agora