ESTOURO DA BOIADA

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Atenção: O conto narrado a seguir foi baseado em fatos

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Atenção: O conto narrado a seguir foi baseado em fatos. O conteúdo pode ser sensível a algumas pessoas. Gatilhos: suicídio.

O petiço anda a passos curtos, mas não há porque correr. Aquela boiada é oriunda de leiteria: calma, taciturna, obediente. Seria mais uma questão de fazê-los tomar o rumo do que propriamente contê-los, ou dominá-los. Nem pedira para o amigo vir ajudá-lo. Trabalho tranquilo.

Já faz cinco anos que Tibério trabalha nestas paragens, mas é a primeira vez que pega uma empreitada para o velho João Mendonça: o objetivo seria trazer a tal boiada de uma invernada a dez quilômetros dali, e fechá-la na área próxima à sede da fazenda do patriarca.

- É coisa fácil – dissera o velho, em sua voz rouca de tabaco – gado de leiteria; vacada mansa, bezerrada nova. Não há segredo.

E não há, mesmo. O único problema possível ali é quando os animais teimam em pastar as gramas altas pelo caminho; mas de resto, é até tedioso tocar essas reses gordas e preguiçosas.

A grande porteira de madeira indica o quase fim da jornada da manhã; Tibério guia o cavalo até ela e se inclina para soltar a corrente que prende o portão, abrindo-o. O gado, acostumado com esses estímulos, e vendo a grama verde, corre para dentro sem necessidade de mais delongas.

Mas não seria ali que iriam ficar, e o vaqueiro continua a tocá-los em direção à trilha que desemboca nos portões da sede. As vacas gordas continuam se distraindo com o capim, e ele grita com elas para que andem, pois ainda teriam que atravessar uma pequena mata de reserva antes de alcançar a capoeira.

Antes da mata, há um bosque com grama baixa e árvores do cerrado, e, ao se preparar para adentrar aquela cercania, o petiço começa a murchar as orelhas.

Ele jamais havia visto esse comportamento estranho no cavalo; talvez, sei lá, esteja ansioso pela expectativa de beber água e tomar um banho na sede.

- Eu também quero beber água e tomar banho; não é só você, não.

De repente, quando Tibério nem havia ainda terminado seu raciocínio sobre sua sede e calor, a boiada estoura.

Estoura.

Aquele monte de vacas, que antes se mostraram a própria epítome da preguiça, volta de uma vez e pulam desesperadas na direção contrária; o cavalo, completamente rendido ao desespero, empina e desobedece aos comandos de Tibério, relinchando furiosamente e correndo para trás.

- EIAAAAAA...

O rapaz se vê obrigado a aparar caminho por dentro da mata, para poder alcançar a boiada ensandecida, antes que essa alcançasse a cerca final e tivesse a infeliz ideia de pular os arames.

- Que merda! Corre, diabo!

Quando, afinal, pode alcançá-las, ainda precisa impetrar um esforço extra ao pobre cavalo e fazer com que tome a frente das reses. Ao final de tudo, estão ambos sem fôlego. E as vacas, ainda nervosas, não querem mais sair do lugar.

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⏰ Last updated: Jul 23, 2021 ⏰

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O ROSTO DO MEU PAI - Contos de terror e horror para todas as horasWhere stories live. Discover now