Chuva de sapos & Biscoitos amanteigados

"Oi "

LALISA MANOBAN

Eu nem queria ir em festa nenhuma pelo motivo simples de que hoje ainda é terça-feira. Mas tranquilo, talvez fosse bom para me distrair um pouco e, sinceramente, eu sempre quis saber que festas malucas eram essas que elas sempre iam. Claro que todo mundo percebia seus olhos de manhã sempre muito negros, o cheiro de fumaça forte entranhado em seus corpos cheios de marcas secas de suor. Às vezes eu achava que elas nem tomavam banho para ir ao Colégio depois disso, só que, nenhuma festa do Colégio era assim. Chaeyoung nunca havia me convidado para ir a essas festas, ela sempre dizia que era coisa da Jisoo e que rolava muita coisa estranha, a começar pelo convite restrito.

Antes de sair da casa da Jennie, Chaeyoung insistiu muito para que eu trocasse de roupas, mesmo que eu não estivesse tão desarrumada assim para ir em uma festa de dia de semana. Mas beleza, vesti umas roupas da Jisoo, me tacaram um perfume estranho com um cheiro muito forte, e me deram o tal do convite, que era uma pulseira de pano, que também possuía um cheiro muito forte de algo amargo que não sabia identificar do que era. O engraçado é que só eu quem estava com esse convite horroroso no pulso, mas elas justificaram serem já conhecidas e não precisarem do convite, que eu estava num tipo de iniciação ou algo assim. Suave, suave, estou indo para uma seita.

Fomos no carro da Jisoo até o final do terreno vizinho, dando ao início da floresta fechada de Gyeongju. A noite fazia frio demais, não havia me arrependido tanto assim agora de ter pegado roupas mais agasalhadas da Jisoo. Mandei uma mensagem para os meus pais mentindo que dormiria na casa de Chaeyoung, e como eles a amavam, não negaram o meu pedido.

Entramos numa trilha e caminhamos por cerca de uns 15 minutos até chegarmos a um campo mais aberto. As árvores eram mais longas, o lugar era mais arejado, havia um chalé no meio do campo com uma música pop genérica muito alta, e com algumas pessoas do lado de fora do mesmo. Ali por perto, havia uma pilha de madeira amontoada que mais parecia uma fogueira ainda apagada.

— Lisa — disse Chaeyoung — Não aceita qualquer tipo de bebida que não seja oferecida pela gente, se notar algo estranho ou sentir que alguém tá no seu pé, fale na mesma hora com a gente e não se sinta tímida se precisar gritar — meu Deus, eu não sou criança.

Toda essa preocupação mais me irritava do que me ajudava. Elas praticamente caíram matando em cima da Jennie, sendo que foi a única até agora que não tratou a minha vinda como algo preocupante. Até Nayeon parecia inquieta, perguntando a todo momento se eu estava bem, e eu pude notar o quanto ela cochichava no ouvido de Jennie e da Jisoo. Eu realmente não dava a mínima se elas enchiam o rabo de drogas nessas festas ou algo assim.

Assim que entramos no chalé, pude perceber que fazia muito calor lá dentro. Shuhua abriu um closet que ficava do lado direito da entrada e recolheu nossos casacos para guardar. Ela parecia ser uma pessoa bastante tranquila, serena, ao mesmo tempo era muito animada e gostava bastante de conversar. Mesmo que Jennie não demostrasse preocupação com a minha presença ali, Shuhua era a única que parecia plenamente feliz com a minha ida.

— Sana! — gritou Nayeon para alguém na multidão — Você não vai acreditar no que eu e Jennie fizemos nas férias! — e saiu de perto de nós.

Eu já não conseguia avistar mais Shuhua, provavelmente havia se dispersado por aí. O chalé por dentro era bem espaçoso, a sala era imensa e tinha uma lareira pequena do lado direito, tocava "Kazino" da Bibi, e a festa era praticamente repleta de jovens, pareciam ter mais ou menos a minha idade. E todos bebiam e dançavam normalmente, como adolescentes normais. Sinceramente, não conseguia enxergar todo esse terror que colocavam para eu não ir.

— Lisa, chega aí — disse Jisoo indo para a cozinha, junto a Jennie e a Chae.

A cozinha era meio rústica, havia um imenso caldeirão com algum tipo de bebida dentro. Um freezer cheio de cerveja, uma mesa de ping-pong próximo a porta, onde jogavam aquele jogo americano de acertar a bolinha no copo e beber do qual eu não faço ideia de qual o nome. Jennie foi até o balcão da ilha central da cozinha, fez três shots e se voltava para nós de novo. Jisoo havia ido até o freezer e trazia nas mãos duas garrafas de cerveja.