Capítulo 41: Tem certeza?

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Eu não tinha atravessado a barreira antes. Pelo menos não acordada. A sensação era estranha. Era como entrar na água, mas sem se molhar. O corpo ficava leve e algo pegajoso parecia grudar na pele. O motivo das pulseiras dos falesianos era claro. Além de demonstrar de que lugar você pertencia, elas também eram feitas de magia, uma magia que permitia que eles atravessassem a barreira sem serem afetados por ela.

Meus pés tocaram a grama morta da Arcádia um pouco depois de eu entrar na barreira. Meus pés afundaram na grama lamacenta, enquanto eu encolhia os ombros contra a onda de ar frio da noite. Sky fez uma careta assim que surgiu ao meu lado, como se não gostasse daquele lugar, enquanto Margo apenas franzia a testa e olhava ao redor. Nossa despedida de Percy e Mia tinha sido rápida, porque nenhum de nós parecia confortável o suficiente com o que estava acontecendo.

Ergui meus olhos para a floresta quase sem folhas e sem vida. Era exatamente como eu me lembrava. Talvez mais cinzenta do que em qualquer outro dia, já que agora eu conhecia um mundo bem diferente daquele. Sky e Margo ficaram em silêncio, como se esperassem que eu falasse algo. Mas tudo que fiz foi começar a caminhar em direção ao vilarejo.

Caminhamos por alguns minutos, até as silhuetas das casas começarem a surgir no horizonte, assim como a sombra da arena, em meio a tochas que iluminavam a rua e as casas no meio da noite. Pequenas gotas de chuva começaram a cair do céu nublado, fazendo meu cabelo grudar na minha testa. As poucas pessoas que caminhavam pela rua começaram a correr de volta para casa, como se pressentissem a tempestade.

—Pra onde vamos primeiro? —Sky indagou, e eu o encarei, porque achava que nossa missão ali era bem óbvia. Ele deu de ombros ao me pegar o observando, desviando os olhos para o vilarejo logo à frente. —Achei que talvez quisesse ver sua família antes de qualquer coisa.

—Vamos até a Cecília primeiro. —Afirmei, tentando não pensar no meu tio, em Ayla e até mesmo em Alexia. A vida que eu tinha antes de ir parar em Falésia parece um sonho distante agora. Uma coisa que não foi real.

Ele assentiu e nós três seguimos em direção ao vilarejo, chegando até as ruas lamacentas. A chuva começou a aumentar, fazendo algumas tochas pelo caminho se apagarem, deixando o lugar tomado pela escuridão. A rua já estava vazia naquele momento. Algumas pessoas nos observavam por trás das cortinas, se escondendo assim que notavam que haviam sido descobertas.

—Nunca tinha vindo aqui? —Sky indagou, lançando um olhar na direção de Margo, já que ela parecia curiosa demais olhando tudo ao redor.

—Vim apenas algumas vezes. —Margo passou a mão nos cabelos molhados para afastá-los do rosto, enquanto soltava uma respiração pesada. —Mas faz tempo. Muito tempo. E você?

—Em uma batalha que tive na arena, com os irmãos Fells. —Sky olhou na direção da arena. A sombra da enorme construção chamava a atenção, porque era o símbolo daquele vilarejo. Depois olhou pra mim. Algo afiado e quente brilhando nos olhos. —E depois durante as provas do torneio. Mas nunca andei pelas ruas assim. Não conheço nada daqui.

Tentei ignorar a sensação de formigamento pelo meu corpo, jogando as palavras de Sky para o mais fundo da minha mente. Aquilo era apenas uma distração. E eu estava ali por um único motivo. Precisava sair dessa confusão que havia sido enfiada contra a minha vontade.

—É um pouco... —Margo hesitou, mordendo o lábio. Mas quando eu ri, ela encolheu os ombros em um ato de constrangimento. —As pessoas daqui mereciam mais. Esse lugar parece ter sido esquecido no tempo.

—Toda Arcádia foi esquecida no tempo. —Afirmei, pensando no quão injusto as coisas eram. Falésia era rica de várias formas diferentes, enquanto Arcádia estava caindo ainda mais na ruína com o tempo.

As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1 Where stories live. Discover now