Capítulo 1

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Luana



Algumas semanas antes...

Sabe quando a sua vida que já não era fácil, quase que uma "Desventuras em série", como no filme onde as criancinhas só se lascam, dá uma virada de 180 graus e que você se sente sem chão?

Pois é... Sou eu nesse momento...

É como se eu estivesse no piloto automático, tenho até a sensação que me vejo de fora do meu corpo como um personagem, um zumbi, representando um papel forte para aguentar este dia. Ou sobreviver até o final dele! Acredito que essa seja a afirmação mais adequada!

Sinto à terra molhada e a aspereza da grama nos dedos dos meus pés, sinto a frieza da lama me sujar até os tornozelos, o tecido da minha roupa pesada em meu corpo gelado e a água que pinga da barra do meu vestido e por breves momentos me permito rir, sim, rir da ironia!

Seria cômico, se não fosse trágico! Como na cena de um filme, bem dramático por sinal!

O enterro de um familiar, chuva, um cemitério deserto e pessoas vestidas a caráter com grandes guarda-chuvas negros à minha volta chorando e fingindo serem as pessoas boas que, na verdade, não são.

Sério, porque o ser humano tem que ser tão hipócrita?

Conheço verdadeiramente cada um desses que estão à minha volta e que fingem estar tão desamparados e tristes quanto eu que acabei de perder a pessoa mais importante da minha vida...

Minha avó, minha guardiã, minha mãe do coração, minha melhor amiga e protetora, meu mundo, com cheirinho de canela, biscoitos e livros antigos. Meu tudo...

Tenho uma vontade avassaladora de rir, mas como dizia o músico e poeta:

"Que você descubra que rir é bom, mas que rir de tudo é desespero..."

Desespero... posso começar por aí, mas seria irônico tentar explicar o que sinto neste momento! Posso começar tentando descrever o que sinto fisicamente, talvez assim seja mais fácil assimilar tudo, talvez.

Sinto os meus pés gelados, pois seguro meus sapatos incrivelmente desconfortáveis, como manda a etiqueta, pois precisavam ser sapatos formais, afinal eu tinha que estar bem vestida. E numa forma débil de me sentir mais firme planto com mais força os pés ao chão com à terra e a grama sob minhas solas por estar descalça, o guarda-chuva já não cumpre mais a sua função de me cobrir, me proteger da chuva, caindo desajeitadamente ao meu lado.

Assim a água que escorre pelo meu corpo se empoça formando lama sob mim, se o meu corpo não estivesse tão anestesiado pela dor avassaladora que sinto em meu peito, tenho certeza que eu estaria tremendo de frio.

Me sinto dormente, não consigo me importar nem com o guarda-chuva que cai da minha mão e nem com minhas roupas completamente ensopadas. É como se um grande buraco negro estivesse aberto e meu coração e a todo instante me puxasse para dentro da sua escuridão me consumindo por completo.

"E uma sensação de solidão aterradora".

Não sei se a palavra triste pode se definir! É algo que no momento não sei como explicar ao certo. Palavras, simples palavras parecem tolas tentando descrever essa imensidão de sentimentos.

O Feitiço da Lua - Degustação Where stories live. Discover now