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Karol

— Vai se ferrar! Ela não é senhorita, é uma destruidora de lares.
— Não, Pedro . — Puxei pela cintura, mas o português lutou comigo,
querendo brigar. — Vamos sair daqui, Pedro . Por favor.
Agarrei o tecido fino de sua camiseta branca, puxei pelo braço e ele
relaxou, acompanhando-me de punhos cerrados.
— E eu achando que você estava passando fome. Estava preocupado.
Te procurei em todo lugar. Está até mais gorda, corada! — Simon gritou
com a voz possuída de raiva. — Está vivendo da prostituição, não é?
Foi o suficiente para eu voltar e golpeá-lo no estômago.
— Nunca te dei liberdade, vagabundo!
— Cadela… — xingou o piloto com o corpo dobrado. Quando saí
andando de costas e me bati no peito largo de Pedro , mãos agressivas
torceram meu braço. Simon armou o soco para dar em mim, mas Pedro o
derrubou no chão e desceu o punho em seu nariz, desfigurando aquela parte
nos primeiros golpes.
Levou segundos para que eu reagisse à cena e lutasse para puxar o
corpo forte do português de cima do piloto.
— Pedro ! Chega! Pedro !
Gritei, machuquei-me e caí de bunda, mas Pedro  só saiu de cima de
quando o rosto do homem ficou quase desfalecido e completamente
ensanguentado.
— Isso é para ti nunca mais atacar uma mulher!
Verifiquei as vias respiratórias de Simon. As mãos de Pedro
puxaram meus braços, mas me desvencilhei. Aquele infeliz não podia morrer
e prejudicá-lo. Meu Deus, ele nem me conhecia…
Simon balbuciou algo, mas saíram apenas ruídos estranhos.
— Ele não está respirando! — gritei para a multidão que se reunia ao
nosso redor. Alguém chama uma ambulância!
Limpei a névoa dos meus olhos, manobrei o corpo do infeliz e
comecei a ressuscitação cardiopulmonar. Era aquilo ou ele não aguentaria
chegar ao hospital com vida.
Dois minutos foi o tempo exato até a equipe médica do aeroporto
chegar com a ambulância e colocá-lo na respiração mecânica. Estava vivo,
mas em estado muito grave.
— Você precisa sair daqui! — Fechei minhas mãos na camiseta do
meu defensor. — A polícia vai chegar. Vai agora!
— Eu mesmo vou à polícia — Pedro  disse, afastando o rosto dos
celulares que registravam a confusão.
Olhei para os dois lados. Estava lotado de curiosos. Recuperei meu
aparelho celular do chão e desabei quando escutei a voz de Ruggero na linha.

Ruggero


Entrei na delegacia ofegante, meu coração batendo forte no peito.
Puro pavor roubava minha respiração. Nem prestei atenção nos repórteres
que esbarraram em mim, certamente cobrindo alguma matéria grave.
Pedi informação ao atendente de plantão, mas antes da resposta, vi
Karol saindo de uma sala, acompanhada do português.
— Madalena! — Puxei minha mulher para meus braços.

— Belinha? — Foi sua primeira preocupação.
— Está com Carolina . — Beijei sua têmpora. — Está tudo bem.
— Aquele homem foi atrás de mim…
Muito trêmula, ela chorou em meu peito. Chorou como se estivesse
segurando uma enxurrada. Naquele momento, eu me senti culpado por fazer
o certo, por ter seguido o bom senso em esperar o curso do processo judicial.
Aquele merda de homem não merecia viver ou morrer com as bolas.
— Ele firmou um soco para atingi-la. Foi no automático. Quando
percebi, o sujeito já estava desfalecendo — o português falou ao lado. Sua
camiseta estava borrada de sangue. — Liberaram-me, mas retiveram o meu
passaporte até colherem mais informações.
— Vou ligar para um bom advogado. — Estendi a mão e me
desvencilhei de karol  para abraçá-lo. — Você tem toda minha gratidão
por ter salvado minha mulher. — Voltei para karol . — Vamos sair daqui.
Está cheio de repórteres policiais aí fora.
***
Pedro  entrou com karol  no banco traseiro do meu carro, pois
tinha estacionado o veículo alugado em um lugar proibido e não o encontrou.
— Oi, Agustín? — Fechei a porta do carro atendendo o celular e ativei o
viva-voz para pegar no volante.
— Saiu uma nota sem muitos esclarecimentos no jornal da manhã.
Um funcionário do hangar identificou  karol  como sua mulher. Sua foto,
a dela e dos outros dois foram expostas.

— Porra! — Soquei o volante e vi Pedro  acalmar karol .
— Tem mais, irmão — Agustín continuou. — Minha sogra fez um pôster
contando sua própria versão. Colocou os dois como amantes da sua mulher.
Você como traído. A notícia está se espalhando, rugge  O perfil da pasquarelli
ganhou cinquenta mil seguidores em vinte minutos.
— Desgraçada! Vou matar aquela porra velha!
Um celular tocou no banco traseiro do meu carro. Vi que era o de
Karol  quando ela pronunciou “mamãe”. Cogitei ser Isabela na linha e me
concentrei em Agustín.
Pedi que ele fizesse algo por mim, que derrubasse o canal da velha ou
qualquer merda para limpar a imagem da minha mulher das redes. Foi
quando o desespero de karol  cresceu lá atrás e eu percebi que não era
nossa filha ao telefone.
Minha mulher gemeu com o choro preso na garganta e isso foi
suficiente para me fazer largar o volante por alguns segundos e puxar o
aparelho do ouvido dela.
— Se você fizer sua filha chorar outra vez, desgraçada, eu juro que
acabo com você! — gritei com a cabeça cheia.
— Eu só posso estar pagando pelos meus pecados… — a avó de
Isabela disse desequilibrada do outro lado da linha. — Ruggero pasquarelli,
por favor, me diga, karol  dormiu com aquele homem?
— Vai se ferrar! — Desliguei o telefone e olhei para Karol
através do espelho frontal.
Ela estava imóvel feito uma estátua e os lábios brancos estavam sem
nenhuma gota de sangue. Pedro  segurava as mãos dela tentando acalmá-la,
tão assustado quanto eu.

O celular de karol  tocou outra vez. “Mamãe” apareceu escrito na
tela. Dei uma manobra no carro, jogando-o no acostamento da pista, e bati o
dedo na tela. Fui armado, pronto para meter uma ameaça e agir na sequência,
mas então a mulher gritou, confundindo-me com palavras.
— É ele! Diz para mim que ela não se envolveu com esse português.
— Agora você está preocupada com sua filha?
— Ele tinha quatorze anos, mas não mudou nada. Eu tenho certeza.
Ele é o pai dela. O português é o pai da minha filha.
— O quê?
— Ele é o português que me engravidou. Ele é o pai de karol.
Pulei do meu assento para fora do carro e abri a porta traseira para
segurar o rosto de karol entre minhas mãos, deixando o celular cair
desligado entre suas pernas.
— Ela te disse? — Mudei meu olhar para o português ao lado e voltei
para ela, que confirmou com a cabeça. — Calma. Pode ser um mal-
entendido. Eu não confio naquela bruxa.
Eu a abracei. Ela contorceu o meu coração com um choro sentido e
chorou até que foi capaz de respirar o suficiente para dizer:
— Pedro , você se envolveu com uma jovem no interior da Bahia
quando era apenas um adolescente?
— O que está a acontecer? — O português estranhou a pergunta
desconexa.
— Se envolveu ou não? — insisti.
— Sim.

armadilha ou destino ? ( Terminada)Where stories live. Discover now