Apolo - Capítulo oito

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  Eu não sei bem onde estava com a cabeça quando pedi que saíssemos daquele bar anoite e bêbados. Com certeza bem longe do meu completo juízo mental, eu deduzo. Mas se teve uma coisa que eu havia aprendido com os anos de terapia era que reprimirmos algo as vezes, é infinitamente pior do que simplesmente fazer.

E graças a essa sábia conclusão eu me encontrava caminhando a beira da praia, com ninguém menos que Alpha. Mentalmente eu tentava organizar os fatos em ordem cronológica para apenas assim, poder chegar na conclusão de quantas vezes ela havia partido meu coração.

Caminhamos em silencio por um momento, até que inesperadamente ela começou a rir, me deixando um pouco assustado.

— Qual é a graça? — perguntei confuso, me questionando se ela havia dito algo e eu havia perdido.

— Desculpe, mas a situação é um pouco irônica, não acha?

— Diz isso por eu aparecer no seu casamento com seu amante da época da faculdade, sem querer, ou tem algo mais que eu tenha perdido? — disse com desdém

Sua risada cessou imediatamente e seus olhos pareciam um pouco confusos. Desviei o olhar e caminhei até uma grande pedra, confortável o suficiente para me sentar na areia e apoiar minhas costas tensas e cansadas.

Alpha caminhou até mim e se sentou ao meu lado. Percebi agora que ela não usava mais o esvoaçante vestido de noiva e sim um vestido branco simples e solto, que não marcava nada de seu corpo e a deixava parecendo um anjo caído. Pelos ombros via a marca de um biquíni amarrado em sua nuca.

— Sempre fomos assim, não é? — perguntou. — Sempre tivemos muito a dizer um para o outro, mas simplesmente, não dizemos. Parece que nunca conseguimos ter nossos cinco minutos de total sinceridade. Isso é bem estranho, levando em conta que você é a pessoa que eu mais confio no mundo inteiro.

— Eu realmente gostaria de poder dizer o mesmo. Mas você me destruiu tantas vezes, que não acho que um dia serei capaz de confiar em você novamente.

Ela respirou fundo e encarou as ondas se quebrarem a alguns metros de nós. Uma nuvem de dúvida pairou em minha mente e antes que eu pudesse notar, as palavras saíram de minha boca.

— Quem é a garotinha que estava em seu colo? — perguntei curioso.

— Minha filha. — as palavras saíram com naturalidade, como se não fossem nada, mas seu olhar ainda estava perdido. — O nome dela é Alice. Ela é incrível.

Uma filha. Eles tiveram uma filha juntos, e pelo tamanho da criança, não perderam muito tempo em produzi-la, se posso assim dizer.

— Ela parece uma graça. — disse com um pouco de raiva. Não da criança, claro.

— Devia conhecê-la melhor. — então me encarou e sorriu, tirando alguns tijolos do muro de proteção que eu havia levado anos para construir. — Ela é uma menina maravilhosa, incrivelmente esperta, porém muito arisca. Me lembra você quando criança.

Dei risada, pensando em quantas eu havia aprontado em minha infância, muitas junto a Alpha.

— Se lembra do dia que você me convenceu que havia um rio algumas quadras de casa, e que era seguro nadar nele? –perguntou rindo.

— Sim me lembro. Descobrimos que era um descarte ecológico de água. — disse rindo e me lembrando do rio e do projeto da vizinhança em descartar a água suja de formas mais saudáveis para o meio ambiente. Acabamos desatando a rir, pois aquela água era no mínimo nojenta.

— Lembro de quando eu bebi naquela festa de aniversário de Amber e vomitei nas suas pantufas de unicórnio. — disse sem me controlar ao me lembrar da cara de Alpha quando tirou as pantufas ridículas dos pés.

— Isso não foi muito legal. Eu prefiro a vez que ficou com o olho roxo quando brigou com aquele garoto estranho do time de futebol porque você estava olhando para a garota errada. — Mal sabia ela que esse não foi bem o motivo. — Foi um soco incrível.

— O que deu nele?

— Não querido, o que ele te deu. Foi incrivelmente rápido! — disse rindo. — Você ficou desacordado por uns cinco minutos.

Virei os olhos com a lembrança, havia sido um soco incrível mesmo.

— Você vomitou nos meus tênis novos no dia da festa do time de futebol. Sabe? Aquela no dia que te ensinei a dirigir.

— Sim, encontrei seus tênis no lixo quando estava em casa, depois que foi embora. Você estava louco de raiva de mim por ter bebido aquele dia. — disse sorrindo.

— Eu não estava bravo porque você bebeu ou vomitou nos meus pés, e sim porque você não se lembrava... — contive minhas palavras antes que dissesse algo do qual me arrependesse.

— Do que? — perguntou com as sobrancelhas franzidas.

Meu alarme do bom senso apitou mais uma vez, e eu não ignorei sabiamente. Alpha estava perto demais de mim, sentada e olhando em minha direção. Estávamos a cerca de quinze centímetros, isso era tudo o que separava meus lábios dos dela, e quando a peguei encarando meus lábios, soube que estava pensando exatamente a mesma coisa que eu.

— Me beijou naquele dia. — disse e seus olhos me fitaram com mais intensidade, enquanto suas bochechas assumiam um tom rosado.

— Por que nunca me disse nada? — me questionou.

— O que eu senti naquele momento, eu nunca tinha sentido antes. Acho que você me deixou apavorado, Alpha Moody. — disse enquanto tirava uma de suas mechas de cabelo loiro do seu rosto, acariciando suavemente as bochechas coradas e quentes.

Eu estava mesmo considerando beijá-la?

Antes que eu tivesse a minha resposta os lábios de Alpha tocavam os meus com suavidade, antes de assumir um beijo ousado ao me puxar contra si com mais autoridade e mordiscar meu lábio inferior para que eu desse o espaço necessário para nosso beijo se aprofundar.

Minhas mãos se enroscaram com agilidade em seus cabelos puxando-a com ainda mais exigência em minha direção, minha outra mão envolvia a sua cintura e a puxava em minha direção, até que estivesse sobre mim em meu colo.

Mesmo sabendo que aquela com toda a certeza não era uma boa escolha, eu cedi. Cedi porque com o passar dos anos e muita, mas muita terapia mesmo, eu aprendi que lutar contra algo que estou desejando arduamente é a pior decisão possível. Claro que beijar sua ex-namorada-traíra quando ela acabou de se casar não está classificado entre os melhores acertos do século, mas quem está contando?

Um gemido roco escapou de sua garganta quando sentiu o volume entre minhas pernas, claramente querendo mais do que alguns beijos quentes com roupas na beira do mar, que era o nosso limite.

— Me tira daqui, por favor. — disse entre meus lábios em um gemido.

E sim eu pensei em negar. Pensei em pedir que parássemos e então chamar um taxi naquele momento e simplesmente voltar correndo para meu apartamento, com o pretexto de nunca mais ver Alpha. Mas havia apenas uma pessoa boa em despedidas lá, e essa pessoa com toda a certeza não era eu. Portanto assim que as palavras saíram de sua boca me levantei com ela ainda no colo e a coloquei suavemente no chão, ainda sem separarmos completamente nossos lábios.

— Estamos cometendo o maior erro de nossas vidas. — disse encarando seus olhos azuis que começavam a se abrir.

— Diga por você, cometi o maior erro da minha vida quando te deixei ir embora. — disse antes de pegar minha mão e me puxar em direção a entrada lateral da pousada.


Trajeto Paralelo - Alpha e Apolo | Parte IIWhere stories live. Discover now