28- razão

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Quando voltamos pra casa, o clima estava imensamente pesado, é como se a nossa casa tivesse tomado um tom de cor diferente, de uma casa alegre para uma completamente triste e com cores mortas. Meus olhos estavam cansados e minha garganta doia, tudo que eu desejo nesse momento é descansar o meu corpo numa cama estufada abraçada com o meu urso de pelúcia

Meus olhos desfilaram por cada departamento da sala de estar enquanto mamãe dizia coisas para melhorar o meu clima. Não, eu não sei se qualquer coisa que alguém me disser hoje vá me deixar mais alegre ou com um humor mais agradável

– eu não quero nada, eu só quero dormir — falei com a voz suave e cansada, mamãe me olhou com os olhos lacrimejantes e beijou a minha testa

– vá descansar enquanto eu preparo a tua sopa

– tudo bem — olhei pra o meu pai que esboçou um sorriso sem mostrar os dentes e logo de seguida passou as mãos no meu ombro em uma forma de reconfortar

Por último olhei para o Tyler e sem dizer mais nada, subi as escadas com os pés rastejando suavemente pelo soalho. Assim que entrei no quarto fechei a porta com certa força e sentei na poltrona em frente a minha cama

Baixei o rosto e deixei que as lágrimas dominassem o meu rosto, estava tentando parecer forte em frente a minha família para não deixar eles mais deprimidos do que já estão.

Eu tenho câncer, falar isso soa muito pesado e assustador pra mim, eu poderia imaginar um milhão de coisas acontecendo comigo menos isso, menos o fato de que a probabilidade de eu não estar viva nos próximos meses são poucas. Sem ter onde recorrer, peguei na minha bíblia e comecei a ler repetidamente o salmos 40, com a voz angustiada e as lágrimas espalhadas por todo o meu rosto

Quando dei por mim, estava eu deitada no chão do meu quarto, com a bíblia ao meu lado e os olhos cansados. Fechei os olhos e acabei adormecendo

***
Acordei com fortes dores de cabeça, lembro que na noite passada eu adoremeci no chão, mas lembro também de sentir o cheiro do meu pai e os seus braços me envolverem cuidadosamente até ser colada na cama.

Levantei da cama e caminhei até o banheiro, deixei encher a água na banheira enquanto terminava de lavar os meus dentes, assim que a água ficou completamente cheia, retirei os meus chinelos e entrei com toda a roupa na banheira, respirei fundo enquanto sentia a calmaria que a água pode me trazer

– você não vai acabar comigo câncer estúpido — falei como se ele pudesse me ouvir. Mas no fundo, eu estava dizendo pra mim mesma que eu não poderia me entregar a depressão, não poderia confiar nos meus sentimentos agora

Vinte minutos no banheiro, escutei a porta sendo batida e logo a seguir a voz da minha mãe

– querida, você Taí?

Demorei alguns segundos até responder a sua pergunta

– sim mãe

– olha...você não precisa ir na escola se não quiser

Revirei os olhos. Sai da banheira com a roupa completamente ensopada de água, peguei na toalha e abri a porta. Mamãe olhou pra mim espantada e entre abriu a boca sem ter o que dizer

– eu vou a escola, a minha vida não pode parar — passei por ela despejando gotas de água por todo o quarto, caminhei até o meu armário e escolhi uma roupa simples para poder vestir

– ahm...tudo bem, o café da manhã já está pronto

– obrigada mãe

Ela saiu do quarto

Eu soltei um longo suspiro e retirei a minha roupa, optei por usar um vestido preto de alças finas, casaco curto cor marrom e botas pretas, prendi o meu cabelo e após organizar os meus cadernos na mochila sai do quarto

Tomamos todos o café da manhã, ninguém falava nada, por vezes o Tyler elogiava o quão gostoso estava o bolo de cenoura da mamãe e depois o clima voltava a ficar tenso. Eu estava odiando isso, quer dizer. Nós poderíamos fingir que nada estava acontecendo e que tudo está como antes, mas seria uma verdadeira mentira, não está nada normal

Depois de tudo fui para a escola com a carona do meu irmão. Após chegar, me despedi dele e fui direto para a minha classe sem deixar de receber os olhares de certas pessoas.

A primeira aula tentei dar o meu máximo possível para me concentrar, logo que tocou para o recreio eu comecei a organizar as minhas coisas quando olhei para o Olly ao meu lado. Seu olhar está vidrado no chão e o cabelo bagunçado mas de uma forma que não o deixasse feio

Eu percebi que sua mão está toda enfaixada, mas não o suficiente porque eu pude ver alguns cortes e feridas no seu braço. Engoli em seco tentando ignorar isso, porque de certa forma o ocorrido do dia anterior apareceu na minha cabeça como um alerta pra me manter longe dele

– você tá legal? — e como sempre eu decidi ignorar ao alerta. Ele olhou pra mim de relance, aprumou os lábios e de seguida se retirou sem dizer nada. Me pergunto se ele sente odio de mim

– hei, garota — me virei para observar de quem se tratava, mesmo no fundo já sabendo. Olhei para o Maden parado na minha frente, ao lado de seu amigo e da Terry — se existe mesmo um ser superior, porque ele não consegue te defender?

Bufei em frustração e cruzei os braços

– ele deve estar ocupado procurando o teu cérebro

Rebati. Os seus amigos começaram a rir e ele me fuzilou com o olhar como se a qualquer momento fosse me tirar da escola me puxando pelos cabelos

– você é patética

– porque você não deixa ela cara? — Olly parou do meu lado e encarrou o Maden com certa seriedade e frustração — da um fora daqui ou vais te meter em grande sarilho — Maden revirou os olhos e se afastou junto com os outros

– eu não preciso que me defenda — olhei pra ele

– eu sei — falou e se retirou. Depois que o Olly se afastou, Josh se aproximou de mim como se temesse a presença dele

– adorei o jeito que você detonou o Maden Cruiz

– eles podem ficar com a razão, eu só quero a paz — senti minha garganta ficar fraca, mas eu me segurei pra não chorar e mostrei o meu melhor sorriso para o Josh

Uma Garota CristãOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz