Le jeu

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You'll never be loved till you've made your own
"Você nunca será amado até que faça por si mesmo"
You gotta face up, you gotta get yours
"Você tem que enfrentar, você tem que conquistar o seu"
You never know the top till you get too low
"Você nunca conhecerá o topo antes de ficar muito embaixo"
(I'm so sorry _ Imagine Dragons)

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Jackson Wang

A minha história é um tanto frugal. Sou um homem despretensioso, um filho espúrio. Mas até mesmo o mais miserável dos homens merece ter a sua história contada, afinal, não nascemos tão embaixo porque almejamos. É corriqueiro que reis, príncipes, duques acabem dormindo com criados e destas relações ábditas, nascem os filhos espúrios como eu. Filhos estes que são deixados de lado, criados nos campos, nas vilas, na lama. Tendo pouco o que comer, labutar invés de recrear. Coagidos a ver suas mães em seus estados mais miseráveis. Não fora exatamente a minha conjuntura, a princípio. Meu pai me visitava uma vez ao ano, durante meu aniversário. Trazia-me presentes, custeava-me professores, vestes formidáveis, brinquedos, boa comida, mas me mantinha distante, com a minha mãe. Aprendi muitas coisas sobre a realeza, como me portar, táticas de combate e também aprendi sua superfluidade.

Quando comecei a crescer, meu pai passara a me visitar uma vez a cada dois anos até que suas visitas cessaram. Acontece que ele tinha outra família, uma mais bonita. Eu via meu irmão mais novo em carruagens belíssimas, com trajes caríssimos, acenando álacre para as pessoas, nunca tive a oportunidade de cavaquear com ele. Aos meus onze anos a comida parara de vir, assim como os professores e os mimos. Minha mãe sempre servira a família Jeon e lá me conseguira um cargo como jardineiro. Aprendi o ofício vertiginosamente e com o tempo se tornara minha paixão. As plantas não feriam, não julgavam. As flores são supernas à gente. Fora no palacete do Duque Jeon que vi meu irmão de perto pela primeira vez. Kim Taehyung, seu nome. Ele fugia do palácio para brincar com Jungkook.

Ambas crianças aprontavam por todo o reino, enquanto eu, trabalhando, os assistia. A invidia crescia em meu peito e doía ainda mais a ciência de que ele não sabia da minha existência. Minha mãe me aconselhava a não me aproximar do Príncipe Kim, eu sabia das consequências, mas não pude evitar. Eu não cativava amizades e me sentia demasiadamente sozinho, então, sempre que possível, eu fugia, assim como Taehyung. Foi em uma de nossas fugas para o mar que nos conhecemos oficialmente. Gozamos da mancebidade juntos, em segredo. Através de Taehyung, também me tornei próximo de Jungkook, mas tudo mudou quando os pais do Jeon mais novo faleceram. Jungkook sumira no mundo e Taehyung nunca mais me visitara.

Segui vivendo, cuidando do Palacete Jeon, agora vazio, juntamente à minha mãe e vários outros criados. Aquele era o meu lugar, eu havia entendido. Jungkook era agora um Duque e Taehyung sempre fora um príncipe. Eu era apenas um jardineiro, sem posses, sem status, sem amigos, sem pai. Mas eu ainda tinha a minha mãe, então me mantive de pé, por ela. Mas com o tempo, nem mesmo as belas flores preenchiam o vazio em meu peito. Crescia a necessidade de ser reconhecido, de ser querido, de ser cativado. O amor de minha mãe já não era o suficiente. Mas me contentei, já que aqueles que estão embaixo jamais chegarão no topo e eu, por ser um filho espúrio, estava ainda mais abaixo. Eu jamais seria alguém e jamais seria amado. Meu destino estava selado. Quando se nasce em uma conjuntura, dificilmente sua vida mudará de roteiro. Eu nasci miserável e morrerei paupérrimo.

Na minha vida não havia um regalo sequer, nenhuma razão para sorrir. Eu vivia para trabalhar e labutava para viver. Eu não possuía perspectiva de futuro, eu sequer sonhava. Sempre estive ciente da minha realidade. Minha mãe dizia que eu deveria me olvidar dela, casar e seguir adiante, acontece que eu era invisível aos olhos de todos, eu jamais havia sentido nada por ninguém e quem em sã consciência almejaria consorciar um ínfimo jardineiro? Bem, era o que eu conjecturava. Quando o Duque Jeon retornara a sua terra natal, aos seus vinte e seis anos, fora como se os anos de nossa mocidade também regressassem. Jungkook e eu nos tornamos próximos outra vez e Taehyung voltara a frequentar o palacete. As coisas melhoraram, mesmo que tenuamente, pois agora eu tinha com quem conversar, já que Jungkook estava sempre no jardim de seu omma.

La vie en rose (Jikook)Where stories live. Discover now