CUARENTA Y SIEIS

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18 de dezembro, sábado.

A gente precisa ter o coração partido
algumas vezes, quer dizer que a
gente tentou alguma coisa...


Noah Urrea

Não sei como chegamos aqui. Os últimos dias tem passado por mim, não me lembro de muito que aconteceu. Sei que eu terminei a fisioterapia e estou curado como posso, mas nunca vou voltar a jogar. Se fizesse um tratamento mais intenso eu até poderia tentar, mas não quero isso. Fiz o suficiente para voltar a andar sem ficar mancando, só isso.

Também entrei para a aula de teatro na escola, mas só fico olhando, pois sou terrivelmente péssimo na matéria, então ajudo meu professor a organizar o teatro depois das aulas e distribuo textos e substituo algumas pessoas. Isso ocupa todas as minhas tardes, e isso me impede de ficar pensando em Sina nesse tempo. Quando estou em casa, falo com meus pais sobre praticamente tudo. Isso evita que eles me contem sobre como Sina está ou que me perguntem como eu estou.

Vim para esse festival de inverno para ter mais tempo com a minha cabeça ocupada. Acho que toda Napa apareceu aqui. Tem crianças para todo lado, comida para todo lado e várias barracas com brincadeiras. Grudo nos meus amigos durante toda a manhã. Eles gostavam da Sina, mas só falam dela às vezes, quando eu não estou. Agradeço por isso, assim posso ficar com eles e ocupar minha cabeça.

— Ei! Competição- Josh me cutuca— Duvido você conseguir jogar a argola naquele arco e ganhar um brinquedo.

— Ah, cara, que erro- sorrio e nós vamos juntos até a barraca.

Nos três segundos que espero Josh se arrumar para jogar, Sina volta e domina meus pensamentos. Se ela estivesse aqui, terminando a escola com a gente, ela estaria adorando esse dia. Ela teria pedido um chocolate quente e a sobremesa de uva que minha mãe fez. E aí ela ia querer se esconder de mim pra depois me assustar, como ela fazia quando a gente era criança. Mas ao invés de gritar com ela, eu iria pegá-la no colo e abraçá-la.

Dessa vez esse festival seria diferente, porque nós somos diferentes agora.

— Ganhei!- grito para Josh e levanto meus braços em uma falsa comemoração— Quero o...

Não tenho tempo de escolher meu brinde, pois o senhor Jhonson joga uma cavalo marrom de pelúcia para mim. Ele está mau humorado, como sempre. Mas seu mau humor costuma me fazer rir, só que eu não consigo agora.

— O que foi?

Josh pergunta enquanto nos afastamos da barraca. Ainda estou olhando para esse cavalo fofinho, para essa festa legal e tudo me lembra ela. Por que você se foi, garotinha?

— Você disse que eu ia ficar bom!- coloco o dedo no rosto do meu melhor amigo— Disse que eu ia superar, que os meses que eu e ela tivemos juntos não eram grande coisa mas... Eu só consigo pensar no quanto eu queria que ela estivesse aqui. Mas aí eu lembro o que ela fez comigo, o que ela faz com as pessoas e agradeço por ela estar longe. E ela queria um cavalo de Natal! Merda, ela queria um cavalo.

Não estou falando nada com nada, mas mesmo assim Josh deixa que eu desabafe.

Sina queria um cavalo de Natal, e eu daria o cavalo que Steve me deu para ela. Pensei nisso na primeira vez que ela me disse que queria o animal, na segunda vez ela soltou sem querer e ficou envergonhada, pois disse que estava sendo chata por repetir o mesmo assunto. Sorrio ao lembrar disso, e então saio dessa feira idiota com raiva de mim mesmo.

Aquela garotinha golpista boba tinha que estar aqui comigo, e não no fim do mundo.

[...]

Vovó me chamou para passa o fim de semana com ela, então eu fui. Dirigi até Calistoga no começo da tarde, cheguei quarenta minutos depois e tomei chá com minha avó e Steve. Ela não iria passar o Natal com a gente, iria para a Itália ficar com a família do marido.

Until the last danceWhere stories live. Discover now