05: Um tapa vale mais que mil palavras

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ATENÇÃO: menção a overdose/tentativa de suicídio (não é dos personagens principais)

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Zoro nunca foi uma pessoa especialmente interessada em relacionamentos. Durante a adolescência, enquanto seus colegas de classe enlouqueciam com revistas ou qualquer tipo de mídia com conteúdo indecente, Zoro focava nos treinos para as competições de basquete e usava o resto do seu tempo para sair com os amigos ou ajudar na clínica veterinária dos pais. Era comum encontrá-lo na quadra até mesmo fora dos dias de treino, pois preferia ficar na escola até tarde do que chegar cedo em casa. Acabou ganhando a fama de ser obsessivo com basquete e, ainda assim, tinha uma quantidade considerável de admiradores que apareciam para torcer nos jogos ou para espiar e tirar fotos durante os treinos.

Zoro não deu atenção a nenhum deles, porém nem mesmo sua personalidade truculenta e o desinteresse estoico por romance foram capazes de afugentar os colegas apaixonados.

Com certa frequência encontrava cartas de amor em seu armário e no dia dos namorados então, era praticamente atacado por chocolates nos mais variados formatos e sabores. Quando uma garota reuniu coragem para se confessar e pedi-lo em namoro, Zoro aceitou sem pensar muito. No início ela estava animada, sorria sempre que o avistava e esperou pacientemente que Zoro tomasse a iniciativa de chamá-la para encontros ou que demonstrasse afeto através de toques típicos de enamorados. Porém, quando essa iniciativa não veio, o relacionamento caiu em uma situação tensa e findou-se não muito depois. E essa foi apenas a primeira de muitas.

Algumas desistiam rápido quando conheciam um pouco mais da personalidade de Zoro e descobriam que não o achavam tão interessante assim. Outras foram mais ousadas e conseguiram durar o suficiente para usufruírem de todas as etapas físicas que um namorado do calibre dele poderia oferecer. Houve homens também. Não reagiam tão diferentes assim das mulheres, sem falar que também reclamavam do seu desapego emocional. O resultado, portanto, era sempre o mesmo: desapaixonavam-se eventualmente e o abandonavam em algumas semanas ou, no mais tardar, em alguns meses.

Vários dos rompimentos foram consideravelmente amigáveis, com ambas as partes reconhecendo que era hora de acabar, enquanto que outros aconteceram depois de muitas reclamações, gritos ou lágrimas da parte de seu par. Zoro nunca participava dessas brigas. Somente permanecia em silêncio em um estado de calma desinteressada, e deixava seu par reclamar à vontade. Nunca lamentou verdadeiramente qualquer um dos rompimentos, talvez por não corresponder os sentimentos amorosos. Quer dizer, reconhecia que eram atraentes e o sexo, num geral, não era ruim, mas de sua parte era algo mais físico do que sentimental e isso não era o bastante para manter um relacionamento.

Certa vez uma ex-namorada, com lágrimas escorrendo pelo rosto, disse que Zoro tinha algum problema mental ou falha permanente de personalidade. Na ocasião Zoro uniu as sobrancelhas e dispensou suas palavras com um movimento dos ombros, afinal não foi ele que a perseguiu para início de conversa. Porém, depois de tantos términos e sentimentos de fracasso, Zoro começou a concordar um pouco sobre a possibilidade de ter algum problema em si, pois não conseguia interessar-se romanticamente com a mesma facilidade que seus pares.

E então houve o acidente de carro.

Enquanto lidava mal com as consequências dele — o hospital, a fuga, a mudança — Zoro decidiu mudar de comportamento sobre as namoradas. Não aceitava mais os pedidos apaixonados de namoro, deixando claro para quem o abordava com essas intenções que ele só queria relacionamento casuais. Sua mente estava esgotada àquela altura e não suportava mais situações onde ambas as partes saíam frustradas. Isso se mostrou uma boa decisão quando o sentimento de fracasso, relativo a não se apaixonar, diminuiu.

ComodidadeWhere stories live. Discover now