Capítulo 36

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ANAHI

— Então eu tive que lavar a bolsa dela enquanto ela continuava gritando que eu tinha assassinado a sua bebê. Juro, Anahi, nem tinha caído muito suco de tomate. Um meio copo, no máximo.

Acabei rindo de novo.

Chris estava me contando suas histórias mais engraçadas fazia mais de meia hora. Muitas delas eu já conhecia, mas não importava. Meu amigo estava tentando me fazer parar de pensar no que havia acontecido, e estava conseguindo.

Quase.

Ele pegou minha mão e a levou aos lábios.

— Fiquei louco de preocupação até chegar aqui. Quando o Christopher ligou avisando, eu fiquei com medo de que ele pudesse estar mentindo quando disse que você estava bem. Rezei o caminho todo, Any.

— Obrigada por ter vindo. Eu não queria ficar sozinha, por isso pedi pro Christopher te ligar. Você viu o Alfonso? Ele parecia bem? — Eu não o via desde a academia. Fomos trazidos em ambulâncias separadas, e tudo o que eu sabia é que ele estava naquele hospital em algum lugar.

— Não vi, mas o Christopher disse que ele está bem. Fica tranquila.

— Você ficou quando ele te disse que eu estava bem?

— Tá legal. Já entendi. — Ele fez uma careta, se levantando.

— Obrigada, Chris. Mas não houve tempo para nada, já que o médico que me atendera entrou, e eu fui liberada. Assim que retiraram o soro de meu braço, pulei da cama, doida para ver Alfonso. Precisei de apenas seis passos para isso. Ele estava no corredor, a algumas portas de distância, os braços cruzados sobre o peito, uma expressão dura no rosto. Dulce e Christopher um pouco mais atrás. Ele me olhou dos pés à cabeça duas vezes, e acho que fiz o mesmo, me certificando de que cada pedacinho dele estivesse no lugar. Meu corpo todo tremeu na ânsia de correr até ele e me jogar em seu colo. Mas algo em seu olhar me impediu.

— Bom, acho que você tem carona para casa — Chris me disse. — Passo lá amanhã para te ver.

— Obrigada, Chris.

Ele me deu um beijo no rosto, acenou para os demais — Dulce e Christopher retribuíram, Alfonso não — e desapareceu no corredor.

— Vamos? — Christopher perguntou, com gentileza.

Estudei Alfonso, de sua postura rígida à frieza em seu rosto. Não era exatamente a recepção que eu tinha imaginado. Um pouco hesitante, fiz que sim com a cabeça, deixando o casal ir na frente, esperando que Alfonso ficasse um pouco mais para trás e eu pudesse falar com ele. No entanto, ele se adiantou, colocando os noivos entre nós.

Tentamos não fazer barulho para não despertar minha tia, mas foi inútil, já que ela nos esperava acordada. Temi que seu coração não fosse resistir ao nos ver chegar como dois zumbis repletos de marcas de agulhas nos braços e roupas amassadas, mas ela aguentou firme, e imediatamente entrou no modo "tia Bê", cuidando de mim e tentando fazer o mesmo com Alfonso. Ela só desistiu quando Christopher garantiu a ela que ele mesmo faria isso.

Ela me ajudou com o banho, por mais que eu insistisse que nada daquilo era necessário, e foi muito estranho. Eu estava tão habituada a cuidar dela que parecia errado que se desse o contrário. Ela esquentou uma sopa congelada e me deu na boca. Desapareceu por uns instantes e, a julgar pelas risadas de Christopher e Dulce, acho que fez o mesmo com Alfonso. Ela me colocou na cama, como fazia quando eu tinha cinco anos, e se deitou a meu lado, cantarolando minha música favorita de ninar. Adormeci, mas fui levada para as águas profundas de um pesadelo, em que eu assistia enquanto Alfonso era capturado por uma besta de duas cabeças. Acordei arfando, o coração na boca, e, sem fazer barulho, saí do quarto na pontinha dos pés.

Mentira Perfeita - ADPWhere stories live. Discover now