Capítulo 37

443 59 61
                                    

ANAHI

Em momentos em que tudo parece ir de mal a pior, a família é que nos mantém erguidos, mesmo que ela não seja de sangue. Existem laços tão fortes que só o coração é capaz de atar.

Meu coração estava partido, a avalanche de sentimentos me sufocava, me deixando sem ar, como se estivesse me afogando de novo. Por isso eu precisava de tia Bê naquele instante. Queria afundar em seu colo e chorar até a dor retroceder. No entanto, eu temia que me ver sofrendo daquele jeito fosse demais para seu coração doente. Então eu tive de ser forte outra vez.

O único problema era que eu não estava conseguindo fazer o que prometera a Alfonso.

Aquela dor tão aguda no centro do peito se recusava a se encolher num cantinho dentro mim, para que eu pudesse ignorá-la e seguir adiante.

Enquanto eu descia do ônibus e tomava a direção da casa de Magda, me perguntei se poderia ganhar um coração novo um dia.

Um que não amasse tanto Alfonso.

Eu não sei se o amei muito, não sei se o amei pouco. Mas sei que nunca voltaria a amar assim.

Parei em frente ao portão da casa de Magda e inspirei fundo. Ainda não sabia como explicar para tia Bê que voltaríamos para o sobradinho sem ter que dizer os motivos. Para todos os efeitos, Alfonso e eu estávamos separados desde que fomos morar com ele. Avistei meu melhor amigo do outro lado da calçada, um saco de pão nas mãos.

— Agora a noite ficou melhor — ele disse, animado, se aproximando. Quando estava perto o suficiente, porém, estacou no lugar, uma sombra lhe cruzando o rosto. — O que aquele filho da puta fez?

— Nada que eu já não esperasse, Chris. A minha tia está na sua casa?

— Anahi, o que o Alfonso fez com você? — exigiu. Balancei a cabeça, relanceando o sobradinho verde que eu tanto amava.

— Não tenho tempo para pensar nisso agora. Vamos ter que voltar para casa.

— Pequena — ele me cortou, tentando me abraçar, mas eu me esquivei.

— Não, Chris, por favor. Eu não vou aguentar. E eu tenho que aguentar. Preciso resolver um monte de coisas ainda hoje. — Onde eu poderia conseguir uma banheira àquela hora da noite?

— Any, você está parecendo um zumbi.

— Eu quase me afoguei ontem. Tenho uma ótima desculpa.

Ele abriu a boca para retrucar, mas meu celular tocou. Por um momento — por um ridículo momento — pensei que pudesse ser Alfonso, ligando para dizer "peguei você" e explicar que tudo não passou de uma brincadeira de mau gosto. Mas não era ele.

— Anahi? — soou a voz grave do dr. Victor.

A porta da frente se abriu. Tia Begônia apareceu na varanda, um copo de suco na mão.

— Como vai, doutor?

— O coração apareceu. Você precisa levá-la ao hospital agora, para que possamos prepará-la para o transplante. Consegue chegar lá em meia hora?

— O que foi, Anyzinha? — Tia Bê arrastou seus sapatos pela varanda, enquanto eu murmurava um fraco sim para o dr. Victor e desligava.

Olhei para a mulher a minha frente. Minha tia querida. Minha mãe.

Senti tanta coisa ao mesmo tempo que era difícil descrever.

Alívio e esperança. Um medo paralisante.

— Anahi, o que foi? — Ela tocou meu rosto.

— Seu coração. Ele... ele apareceu.

O copo de suco em sua mão escorregou, colidindo contra o concreto, se estilhaçando em três pedaços enquanto ela levava a mão ao peito e empalidecia.

— Tem certeza?

— Temos que ir para o hospital agora.

— Vou chamar um táxi — ouvi Chris dizer, inquieto.

Tia Begônia me abraçou, enterrando a cabeça em meu peito.

— Ah, eu pensei que ele nunca apareceria. — Ela sacudiu a cabeça. — Que nós estávamos nos enganando esse tempo todo.

Apenas passei os braços ao redor dela, porque, para ser franca, também me senti assim muitas vezes. O táxi encostou e isso bastou para que eu agisse, ainda que lágrimas gordas escorressem em meu rosto agora, e eu não soubesse dizer se eram da dor de um coração partido, do medo de que algo desse errado na cirurgia ou de esperança.

— Tem um batom aí nessa mochila, meu amor? — tia Begônia perguntou assim que nos acomodamos no banco de trás do carro. Chris e Magda ficaram para preparar uma mala para ela.

Batom? Num momento como aquele?

— Eu... Humm... — Abri a mochila e peguei o único batom que tinha, entregando a ela.

Tia Begônia usou o espelho retrovisor para aplicar a maquiagem. Quando o rosa cobriu seus lábios, percebi como ela estava pálida.

— Diga aaaah. — E, antes que eu pudesse impedir, ela corria o bastão sobre minha boca. Tentei detê-la, mas não adiantou. E ela ria ao me devolver o cosmético.

— Não me olhe tão espantada assim. Batom traz força e segurança a uma mulher. E nós duas precisamos de ambas as coisas neste momento.

Seus dedos finos e trêmulos se entrelaçaram aos meus, também instáveis. E permanecemos assim, de mãos dadas, até que o táxi parou em frente ao hospital. 

----*

Capítulo curtinho, mas só pra mostrar que em meio ao caos, o coração de tia Bê apareceu. Mais uma avalanche de emoções pra  nossa bebê

28.08.83 - Alfonso Herrera Rodríguez

Difícil colocar em palavras o quanto me orgulho desse homem. Do artista, do Alfonso pai, do ser humano que ele é. Me enche de orgulho ver o quanto ele cresceu na carreira que ama, ver sua evolução como ator, ver ele ir contra tudo pra fazer o que ele realmente ama. Me enche de orgulho ver ele engajado em causas sociais, em ver ele fazendo papéis importantes, que nos causam reflexão. Ele lutou por isso e tenho certeza que vai chegar ainda mais longe. Não falo apenas comk Herrera Stan. Qualquer pessoa que veja Alfonso atuando percebe o talento dele, que ele nasceu pra isso. Além de tudo, graças a ele conheci pessoas maravilhosas. Obrigada ao mundinbo HS, hoje nós estamos em festa 🎊🎉🎈🍰💜🥰

Amanhã nos vemos, viu? Bjs a todoooooosss

Mentira Perfeita - ADPWhere stories live. Discover now